domingo, 21 de junho de 2009

Jaquinzinhos Fritos e Ambiente

Quando eu era miúdo a Verdade era composta por conceitos ditos indiscutíveis, o Império pluricontinental, a bondade salazarenta, Deus, Pátria, Autoridade…
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Depois tudo mudou e a Verdade também: agora já tudo se podia discutir desde que não se discutisse a nova verdade chamada democracia representativa, substituta da antiga trindade e tão indiscutível como ela.

Ora, tudo o que não se discute, apodrece ou já está podre e esta conversa fiada vem toda a propósito de Jaquinzinhos fritos!
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O legislador democrático tem, além da sagrada tarefa de legislar, fazer as leis que regulam a vida de quem o elegeu, outros variados misteres menos relacionados com a legislação e mais com a perpetuação do seu tacho, perdão, queria dizer cargo!
É por isso que, quase todos já notámos quão tardiamente e a ferros se faz o parto de cada lei.

O Regulamento (CE) 850/98 é a lei que há 11 anos manda, por considerar o carapau como espécie ameaçada por pesca não sustentável, que seja ilegal qualquer captura de indivíduos com menos de 15cm.
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Que importa que, entretanto, o planeta se tenha posto a aquecer?
Que importa que haja cada vez mais carapau?
Que importa que a comunidade científica seja unânime em considerar que o carapau é uma das poucas espécies que vai beneficiar, e muito, com esse aquecimento?
O nosso legislador tem mais que fazer que importar-se com essas ninharias e assim é apenas devido ao discernimento de quem está no terreno que podemos ter acesso, na prática livre, a esse delicioso petisco que é o trachurus trachurus juvenil ou infantil: o Jaquinzinho!
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Ingredientes:
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Jaquinzinhos
Sal
Farinha
Óleo
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Preparação:
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Amanhe os carapaus. Quanto mais pequenos, melhores mas, claro, o trabalho aumenta em razão inversamente proporcional ao tamanho dos bichos. No meu caso, arranjei o melhor de dois mundos: 700g a serem 148 jaquinzinhos e já arranjados porque há umas santas peixeiras no Mercado da Boa-Hora que se vão entretendo a arranjá-los durante a manhã. Precioso!
Disponha os peixes e salpique com sal fino, pouco pois é fácil ficar salgado.
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Deixe salgar por cerca de meia-hora, passe-os por farinha numa tigela em que possa pôr, de uma vez, uma grande mão-cheia, sacuda-os bem da farinha excedente (eu uso uma peneira de malha larga) e frite-os em lume quente em frigideira funda e óleo abundante para que não seja necessária qualquer viragem durante a fritura. Escorra e sirva assim muito quentes.
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Acompanhei com um arroz carolino de tomate e coentro , meio malandro mas sem excessos "risóticos".
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Nota: Quem me conhece e segue mesmo que ocasionalmente este blog, sabe as preocupações ambientais que o movem, nomeadamente no que respeita ao consumo não sustentável de espécies selvagens como é o caso, infelizmente, da maioria dos peixes da nossa dieta. Mas a cada coisa a sua razão: não é o caso dos pequenos jaquinzinhos do nosso deleite.

2 comentários:

Eduardo Luz disse...

Muito bom ! Vir aqui é sempre uma lição.
E nada daquela hipocrisia de que não se pode comer nada!!
E tomou o que pra acompanhar? Cervejas?
Abs

anna disse...

Só o Luís para me dizer estas coisas. Adoro jaquinzinhos, assim bem pequeninos, mas fico sempre cheinha de culpas quando os como...
Aquela primeira foto dos ditos cujos, ainda por fritar, está uma verdadeira visão (148???? - credo!!!).
A mnha Maria também mos arranja, cuidadosamente, pois sabe que não gosto deles rebentados...
Beijos.