quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Borrachões

                O uso do azeite, quer como alimento, quer como combustível para luz, perde-se na noite dos tempos. De acordo com a mitologia grega, na disputa das terras do que é hoje a cidade de Atenas, a deusa Atena criou e ofereceu uma oliveira, árvore capaz de produzir óleo para iluminar a noite, suavizar a dor dos feridos e de servir como um alimento precioso.
Omnipresente na cozinha mediterrânica e portuguesa, são poucas as receitas que, nalgum passo, não incluem o uso desta preciosa gordura líquida que, sendo o tema para esta 56ª Trilogia com a Ana e o Cupido, me levaram a escolher esse estranho e antiquíssimo bolo seco popular, da tradição de Idanha-a-Nova, que substitui ovos por azeite, vinho e aguardente e que, por isso, leva o nome de Borrachão.

Ingredientes*:

1 medida de Azeite
1 medida de óleo
1 medida de vinho branco
1 medida de aguardente bagaceira, branca
2 medidas de açúcar
Farinha com fermento, q.b.
Ovo para pincelar
Canela em pó (facultativo)

Preparação:

Misture todos os líquidos com o açúcar (pode exagerar na “medida” do açúcar, se quiser uns borrachões bem docinhos) e vá juntando farinha até obter uma massa que se possa tender com rolo. Deixe em repouso por meia hora.
Tenda de modo a ficar com a espessura de um lápis, corte em rectângulos com uma carretilha, 
pincele com ovo batido, se quiser polvilhe com canela e leve a forno moderado** (170ºC) até ficar louro.

Notas: * Usei uma “medida” de cerca de 1 dl, o que degenerou numa enorme produção de 2,5 Kg de borrachões. Não que eu lamente porque além de não se estragarem, sabem sempre bem, mas, se não quiser estas quantidades, deverá usar uma medida bem mais pequena, como uma chávena de café.

 **O tempo de forno ( e a sua temperatura) é determinante no resultado final, que pode ficar totalmente crocante e seco, tipo bolacha estaladiça, se estiver mais tempo e com temperatura mais baixa ou, pelo contrário, manter alguma humidade interior e algum sabor aos vinhos, se usar o forno mais quente (190-200ºC) apenas por breves minutos. Experimente uma e outra técnica de forno e decida, mas sempre depois de deixar arrefecer por completo o borrachão, já que ele muda totalmente com o arrefecimento.
Podem guardar-se quase indefinidamente, bem fechados, embora eu nunca tenha conseguido comprová-lo, por motivos óbvios. 

7 comentários:

VMarecos disse...

Estão apetitosos, uma optima sugestão para o natal. Para a medida de 1dl que usou, qual foi mais ou menos a quantidade de farinha? Obrigado

Paula disse...

Só conhecia borrachões fritos... alguma trapaça, com certeza?

Luís Pontes disse...

VMarecos, no meu caso foi quase 2kg de farinha mas, como digo, o melhor é mesmo ir juntando até a massa ter a consistência apropriada a tender com rolo.

Paula, não se trata de trapaça mas sim de uma massa frita, parecida com os coscorões e que são típicas de Évora, fazendo-se também por todo o Alto Alentejo até Portalegre e que também se chamam borrachões pois levam vinho.
Estes que apresento são de Idanha-a-Nova mas fazem-se de muitas formas pelas Beiras; a própria M.L.Modesto, na CTP, mostra uma foto de borrachões rectangulares como estes de Idanha, mas na receita escrita, indica serem tendidos em ferradura.

anna disse...

Estes não conhecia Luís...
2,5 Kg de borrachóes já parece produção industrial ou própria para gulosos... lol!
Vê lá se guardaste unzinho para eu provar???
Beijinhos.

Belocas disse...

Olá Luis,
Também não conhecia este Borrachões feitos no forno, mas agradou-me imenso.
Um abraço

Paula disse...

Obrigada pela explicação, Luís :) Um abraço.

VMarecos disse...

Serve este comentário para informar que a receita dos Borrachões foi testada e aprovada, indo integrar os meus cabazes de Natal.
http://wordsplusphotos.blogspot.com/2011/12/time-for-giving.html