quarta-feira, 22 de fevereiro de 2017

O Sarapatel de Dona Flor



               Nunca fui ao Brasil! Uma vez por isto, outra vez por aquilo, o certo é que, apesar de lá ter bons amigos, dos daqui e também dos de há muitos anos, ainda de carne e osso, nunca lá fui.
Claro que esta situação não é a melhor para o tema que a Ana decidiu para esta 163ª Trilogia, comigo e com o Amândio, precisamente “Já fui ao Brasil”. Naturalmente, o que me apeteceu foi responder-lhe ─ Pois eu ainda não fui! ─ mas temas não se contestam, cumprem-se, e eu socorri-me de um livro muito querido, oferta em 2008 do Eduardo Luz (Lembram-se desses jantares intercontinentais que uniam o Outras Comidas, em Lisboa, e o DCPV lá em S.Paulo?) e que tem sido ao longo destes anos a minha bíblia sobre a cozinha popular brasileira, uma resenha da gastronomia na obra de Jorge Amado, elaborada pela sua filha Paloma: “A Comida Baiana de Jorge Amado”.

Apaixonado de há muitos anos por sarapatéis, sejam os de Goa, do Alto Alentejo ou a rescendente sopa do dito, cheia de laranja e hortelã, faltava-me experimentar o Sarapatel brasileiro, que usa o porco onde o alentejano usa o cabrito ou o borrego e que Jorge Amado faz ser comido em nada mais, nada menos do que em dez dos seus romances.
Vamos então ao Sarapatel baiano!

Ingredientes:

Todas as miudezas do porco
Limão
Pimento
Hortelã
Cebolinho
Coentros
Cebolas
Tomates (fora do Verão, use conserva)
Toucinho fumado
Pimentas-de-cheiro* (usei malagueta e pimenta da Jamaica)
Alho
Louro
Sal
Pimenta-cominho**
Arroz
Farinha de pau (farinha grossa de mandioca)

Preparação:

Corte  as miudezas
em pedaços pequenos e lave-as com sumo de limão, escorra e reserve.
Faça uma massa no liquidificador ou com varinha, com cebola, alho, pimento, tomate, cebolinho, coentros frescos e muita hortelã. Misture os miúdos nesta massa à qual junta então o louro, a pimenta-cominho** e as pimentas-de-cheiro* inteiras. Deixe marinar.

Derreta o toucinho e refogue  no pingue obtido mais uma cebola, até alourar e junte a marinada de sarapatel. Cubra de água e leve ao lume a cozinhar por cerca de duas horas. O sarapatel é um prato muito apurado.
Sirva no dia seguinte***, acompanhado por arroz e farinha de pau, torrada em manteiga e adicionada de um pouco de sal.


Notas: * As pimentas-de-cheiro são malaguetas muito aromáticas e não muito picantes. Na falta, usei malagueta fresca e pimenta da Jamaica.
** Pimenta-cominho é uma especiaria que se obtém moendo no almofariz duas partes de pimenta em grão com uma parte de cominhos, também em grão.

*** O sarapatel adquire toda a sua pujança ao fim de algumas horas e arrefecimento. Deve ser feito de véspera e reaquecido na altura de servir.

2 comentários:

Anónimo disse...

Sarava...

Maria Glória disse...

Olá Luis!
Este prato, sarapatel, é uma comida do nordeste brasileiro e por lá, consumido.
Em outras regiões, nem se consome e há muitos que nem sabe sobre ele, digo, o sarapatel. Eu mesma nunca provei, o aspecto não me convida. Mas eu confesso que este teu sarapatel, me parece bem ajeitado.
O Brasil é um país formado por regiões completamente distintas, as diferenças gastronômicas são gritantes. Quando vamos em outro estado, parece que estamos em outro país. Certamente, você bem sabe disso.
Em São Paulo capital, por exemplo, onde nasci e vivo, a gastronomia é formada pelos imigrantes, na sua maioria italianos, portugueses, espanhóis e tantos outros, em menor percentual, além do prato mais brasileiro, que é o feijão com arroz e complementos: bife, batata frita e salada de folhas verdes com tomate. Mas tudo pode ser de outra maneira, dependendo da região. Minas Gerais, na minha opinião, é o estado brasileiro com a mais saborosa gastronomia do Brasil. Riquíssima, com abundância de carnes e vegetais. Os melhores queijos, por lá, estão.
Um abraço.