quarta-feira, 30 de março de 2011

Risoto de Cerveja Preta (Risotto alla birra scura)

......................... O Risotto Alla Birra Scura é uma receita consagrada entre os risottos italianos, tendo passado para o Brasil com o nome de Risoto de Cerveja Preta e algumas alterações que tão grandes viagens acabam sempre por acarretar. Sendo o original feito com speck, cerveja e caldo, já o brasileiro é feito com linguícinha ou salsicha e só cerveja como líquido. Destas duas versões de utilização da cerveja na cozinha, saiu esta que foi criada para satisfazer a indicação do Cupido para esta 21ª Trilogia comigo e com a Ana: Cerveja! Em boa hora que me decidi pelo caminho que mais gosto de trilhar: usar receitas tão só como partida para compor algo de pessoal e com potencial para me satisfazer plenamente, é essa a única vantagem da experiência.

Ingredientes:

3 colheres de sopa de azeite
200g de toucinho entremeado salgado
175g de chouriço caseiro
1 cebola 1 dente de alho 1 copo de arroz Carnaroli (175g)
0,33cl de cerveja preta
Pimenta preta
Coentros frescos
1 colher de sopa de Parmesão
150g de mozzarela

Preparação:

 Frite toucinho em pequenos troços, no azeite, até que fique estaladiço. Reserve alguns destes pedacinhos fritos para decorar o risoto e junte então a cebola e alho picados fino, o chouriço em rodelas
 e por fim o arroz. Envolva, tempere com pimenta e frite tudo até os bagos de arroz se apresentarem translúcidos e junte então cerca de metade da cerveja, deixe começar a ferver, baixe o lume e vá mexendo sempre.
 Entretanto acabe de encher a garrafa meia de cerveja com água e ferva-a, usando esta mistura para, aos poucos, ir adicionando ao arroz sempre que se esgotar o líquido.  Cerca de 20-25 minutos depois (se estiver a usar Carnaroli), quando o arroz estiver cozido a seu gosto, adicione então os queijos, , parte dos coentros, mexa bem até que o queijo esteja totalmente fundido e homogéneo com o caldo do arroz e sirva logo, com pedaços de toucinho frito e coentros por cima

segunda-feira, 28 de março de 2011

Bifes de Coração

.................... As vísceras com grande potencial de trabalho, de que o incansável coração é o expoente máximo, têm características dietéticas únicas, com baixíssimas percentagens de gordura.
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Muitas vezes mal vistas por terem sido desde sempre conotadas com as camadas mais pobres da população e por se lhes associar uma textura esponjosa que, na verdade, só existe nos pulmões (bofe), vísceras como a dobrada ou o coração sem as aurículas, permitem por um preço irrisório compor uma refeição cheia de molho "pecaminoso" com muito poucas calorias e plena de sabor.
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Ingredientes:
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1 Kg de coração de porco ou bovino
1 cebola grande (ou 2 médias)
3 dentes de alho
1 folha de louro
2,5 dl de polpa de tomate
40 g de banha ou 0,5 dl de Azeite
Vinho Branco
Sal
Pimenta moída
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Preparação:
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Peça para fatiar a carne em "iscas" finas, rejeitando as aurículas, na parte superior do coração e onde se acumulam externamente gorduras, de resto bem visíveis.
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Na versão dietética, substitua o azeite indicado por apenas uma colher de sopa de azeite.
Faça uma marinada com a carne, sal, pimenta, louro, alhos, tudo coberto de vinho branco.
. Deixe algumas horas ou, tratando-se de coração de vaca, de um dia para o outro.
Refogue a cebola picada grosso com o azeite ou banha. Quando a cebola estiver a começar a alourar, junte o tomate em polpa e depois a marinada. Tape.
. . Deixe cozinhar em lume brando até a carne estar tenra, o que depende da sua origem.
. Conte com 40 minutos para o porco e vitela, cerca de 1 hora para ou um pouco mais para vaca. Durante esta fase pode acrescentar aos poucos, mais vinho branco, se vir que o molho está a ficar demasiado espesso. Prove e retifique sal, no fim.
Arroz branco ou de manteiga, batata cozida ou legumes, temperados com o molho da carne, são acompanhamentos que vão muito bem, apesar dos comensais mais miúdos irem por certo preferir as suas queridas batatas fritas.
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sexta-feira, 25 de março de 2011

Costeletas Panadas

.................... Quando cheguei a casa com o cachaço de porco que vos mostrei aqui, reparei que ele era realmente grande demais (mesmo assim, foi!) e resolvi tirar-lhe umas costeletas do fundo, fininhas, para panar e, ao mesmo tempo, para conversar um pouco sobre essa técnica culinária muito mitificada e de que aparentemente pouco ou nada há a dizer mas sobre a qual, talvez por isso mesmo, se diz sempre pouco demais e o resultado dessa informação, básica mas incompleta, é a frequente constatação que, nas nossas cozinhas, os panados saem geralmente mais gordurosos e daí a pouco mais moles que os congéneres profissionais.
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Exceto nos casos em que se trata de panar alimentos previamente cozinhados (frango cozido, croquetes, rissóis, etc.), em que a sequência é simplesmente ovo + pão ralado, todos os crus serão sempre panados com farinha + ovo + pão ralado. A missão da farinha é dupla: por um lado facilita a permanência do ovo na superfície húmida do cru, na passagem do ovo para o pão ralado; por outro lado vai formar com o ovo um polme que terá tendência, durante a fritura, a crescer e destacar-se da superfície do alimento panado, diminuindo os pontos de contacto entre ambos e consequente humidificação da crosta crocante.
É este afastamento entre a "casca" e o interior que permite ao panado ficar mais tempo estaladiço, o que no caso da carne (escalopes, costeletas) ou peixe (filetes) leva a que, sempre que haja um certo tempo (+ de 15 minutos) entre a confeção da 1ª unidade frita e o consumo, se deva optar por uma outra sequência, a dupla: farinha + ovo+ pão ralado+ ovo+ pão ralado.
Este panado duplo vai criar uma barreira de ovo impermeável a seguir ao primeiro panado mais interior, retardando a migração dos sucos da carne para a crosta estaladiça, amolecendo-a.
Por isso, se está a cozinhar para um ou dois e o panado vai ser consumido imediatamente após a fritura, faça o panado farinha - ovo - pão ralado, que ficará mais aderente e fino, assim:
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Se está a cozinhar para várias pessoas e portanto vai ter de fazer várias frituras antes de servir ou prevê um tempo alargado de espera (por exemplo, terá ainda as entradas e só depois os panados), então deverá optar pela sequência dupla indicada, que mantém o estaladiço por várias horas e que fica assim:
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A fritura deve ser feita em gordura bem quente para que não haja lugar a cozimento que provoca a saída dos sucos da carne ou peixe crus, de modo a que o calor externo seja sempre intenso e o interior se mantenha suculento e não seco e fibroso.
A gordura ideal para fritar os panados é a banha de porco, mas sendo hoje inaceitável tal procedimento, do ponto de vista da saúde alimentar, resta o azeite refinado, única gordura que aguenta a alta temperatura a que deve decorrer um panado sem se alterar e que tem a vantagem de deixar qualquer frito bem enxuto e estaladiço.
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................................ panado simples ......................... panado duplo

quarta-feira, 23 de março de 2011

Alheira com Ovo

................... A expressão "alheira com ovo", arrasta irremediavelmente para a lembrança gordurosa daquele prato de tasca, lá no fim da lista, o mais barato, até mais que o bitoque, depois traduzido numa alheira frita em óleo, que aliás a embebe, umas batatas fritas em óleo a escorrer, um ovo estrelado nojento e também engordurado para não destoar na sinfonia lipídica enfeitada com duas azeitonas e uma rodela de tomate melada que ou se engole logo ou nunca mais se lhe consegue tocar.
Mas o certo é que o sabor do ovo estrelado parece feito de propósito para combinar com este nosso enchido tão peculiar quanto maltratado.
Hoje, vai sendo cada vez mais uma sorte achar uma alheira com personalidade e que saia da mediania normalizada e selada que as regiões DOP nos vão impingindo, já para não falar nas aberrações que vão aparecendo com o aspeto e nome de alheira e que depois, até bacalhau têm dentro. Notem que eu não estou contra a existência de enchidos de bacalhau, só contra a usurpação de um nome...
Estas alheiras nasceram em Chaves por mão e fumeiro caseiros e vieram de combóio,
. sem frigorífico, nem selo, nem ASAE, até encherem a minha cozinha desse cheiro espantoso dos enchidos bem fumados que nenhum saco ou papel consegue deter.
A apresentação que imaginei e aqui vos deixo, pretende ser a reunião do melhor de dois mundos: o tradicional uso nortenho da combinação com os grelos de nabo e batatas cozidas, com o ovinho tascoso das cidades, mas que sabe tão bem, tudo feito no forno, para não ficar muito gordurosa esta 20ª Trilogia, com o Cupido e a Ana!
. Ingredientes:
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2 Alheiras
2 Ovos
Batatas
Grelos de nabo
1 dente de alho
1 fio de azeite
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Preparação:
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Faça um golpe longitudinal na pele das alheiras e retire-a. Molde a massa de cada alheira com a forma de um hamburger grosso e com o auxílio de uma concha ou fundo de recipiente
. (eu usei um ramequim) forme uma concavidade na parte superior.
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Ponha as alheiras assim moldadas numa assadeira ou travessa de forno e leve-as a cozinhar em forno quente até começarem a ganhar cor, enquanto coze em água e sal meias batatas e escalda grelos de nabo.
Retire as alheiras do forno, disponha as batatas e os grelos em volta, regue os vegetais com um fio de azeite
. e volta ao forno depois de pôr na concavidade de cada alheira moldada a clara de um ovo. Deixe no forno até as batatas corarem e a clara estar assada.
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Faça um entalhe no centro da clara retirando um pouco com uma colher de chá e coloque então as gemas.
. Vai ao forno por apenas breves minutos de modo a aquecer a gema e prendê-la à clara mas sem a cozer.
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terça-feira, 22 de março de 2011

E-mail aberto a um cabotino chato.


................... Por certo muitos se lembram do recente e triste episódio em que o autor de um blogue à procura de notoriedade, decidiu atacar de forma malcriada e soez, vários blogues do tema culinário.
Na altura fiquei chocado e, apesar da consideração que o referido bloguista me merecia, sendo autor de um dos mais importantes livros de cozinha já publicados em Portugal e pessoa com quem trocava impressões amiúde, insurgi-me aqui contra a inusitada investida, neste que é dos derradeiros espaços calmos e educados da blogoesfera, em que se pode ter caixas de comentário sem moderação por termos estado, até aqui, livres de díscolos e energúmenos tão característicos de outras áreas e podendo assim estabelecer diálogos sem constrangimentos.
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Na ocasião o tal doutor reagiu, confessou até que tinha conseguido à minha custa o seu objetivo de aumentar audiências, não liguei mais e pensei que a coisa ficava por ali, e bem.
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Afinal descubro agora que, longe de ter acabado, o episódio tem-se perpetuado no blogue do senhor e eu até vou sendo o bombo da festa, chegando o homem ao descaro de "desviar" fotos do meu blogue para ilustrar as suas diatribes contra a existência em blogues de culinária de ... fotos!
Acabou por escolher mal a foto e o tema (o "cachaço longamente assado" de há uns dias) e só demonstrou que na verdade, desconhece a técnica de fazer carne de porco sem nunca chegar a ferver e o tom rosado daí resultante; claro que não se pode saber tudo mas não fica mal a ninguém perceber que há sempre qualquer coisa que ainda não se sabe.
Evita-se assim, fazer-se figura de parvo!
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Soube da minha situação de estrela no pequeno mundo do doutor porque ele teve o cuidado de me enviar um mail avisando-me que tinha por regra avisar as pessoas que citava nos seus posts. Fui lá ver e lá estava eu no tal último post, mas também em outros, de que nunca me avisou, apesar da alegada regra.
De facto, a única regra que o tal doutor-ditador-da-alta-gastronomia parece ter bem consolidada, é a de entrar sem convite pelas casas dos outros e pôr-se aos gritos, malcriado, qual fiscal ou autoproclamado árbitro dos alheios gostos, posses, blogues e maneiras de cozinhar, sendo afinal um pobre diabo em delírio de passadas grandezas familiares provincianas, a atirar poeira aos olhos ( ignorantes, é claro) de quem o lê, com os seus livros de cozinha de panteão e a citar para plateia distraída Santi Santamaria, de quem, se alguma vez tivesse lido alguma coisa, saberia que tinha, da sua querida gastronomia elitista uma opinião seguramente bem diferente - " A gastronomia é a arte da aparência. Aprendes uma série de artifícios e há um manual de instruções que muda conforme a moda. Mas a cozinha é muito mais profunda, é a raiz da cultura. A cozinha familiar é a mais importante que há, é a verdadeira cozinha nacional de um povo." .
Na verdade nem sei porque perco tempo com tão “ruim defunto”(sic), agora que é mais que claro tratar-se apenas de um anacronismo, um fóssil que tendo em tempos escrito um excelente livro, teima em sonhar estalinistas sonhos hegemónicos à volta da única maneira de se encarar a cozinha e o mundo: a sua maneira, claro está!
Continue assim que vai longe, ainda ganha mais uma condecoração, a Comenda da Ordem de S. João Batista, que premeia os mais esforçados pregadores no deserto.
Não que os pregadores no deserto me incomodem particularmente, até porque no deserto que conheço, costumo encontrar camelos e beduínos mas nunca, felizmente, encontrei pregadores. Já agora, explico sucintamente o que entendo aqui por deserto: são aqueles blogues chatos e professorais que ninguém lê, onde se fechou a caixa de comentários para ocultar que não há lá nenhum e não há registo de visitas para que alguém que lá aterre por acaso não perceba que é um dos cinco visitantes diários, isto a fazer fé que a audiência quintuplicou (era 1 e agora são 5!) depois da publicidade que lhe fiz quando aqui verberei a tal inqualificável e grosseira investida contra o seu odiozinho de estimação, as tais “tias” da blogoesfera que são, basicamente, toda a gente que, ou já fez uma receita da Nigella, ou tem um livro do Jamie Oliver e fala com naturalidade e à vontade, das comidas que faz lá em casa, umas mais competentes, outras menos, umas mais tradicionais, outras mais light, todas pecadoras do crime capital de ilustrarem os posts com fotos, gente que, por certo, não faz blogues de cozinha por querer entrar para a História, fazer cátedra ou deixar acórdão.
.Acabei até por me arrepender um pouco de lhe ter então zurzido as orelhas, pois, apesar de ser ele o médico e eu não ter capacidade para fazer diagnósticos, não pude deixar de colocar-me a hipótese de estarmos em presença de alguma lamentável patologia senil a instalar-se, que faça uma pessoa que é evidentemente culta e inteligente, estar de tal modo dissociada do mundo em que vive que não tenha conseguido compreender que esta blogoesfera das culinárias pessoais não é, nem quer ser, nem finge ser, escola de alta-cozinha, fórum de gastronomia, ou sequer manual de receitas açoreanas.
Faz-me pena ver alguém que teria, seguramente, imenso a partilhar com todos nós, ser afinal , no seu snobismo amargo, de tal forma possuído por uma desmedida vaidade, um priapismo do ego, que o leva a continuar na senda do discurso cabotino de grandezas e sabedorias afinal estéreis (porque a ninguém servem), babando fel, espadeirando a esmo qual D. Quixote contra os moinhos de vento, infelizmente aqui, sem grandeza, sem sonho, sem elegância, sem educação.
Felizmente que ninguém o ouve!

domingo, 20 de março de 2011

Tajine de Frango e Frutos Secos

............... Em Marrocos, um dos meus destinos prediletos, costumo andar a pé.
Esse facto, que proporciona uma viagem "de proximidade" maravilhosa, tem como inconveniente a impossibilidade de carregar coisas pesadas, frágeis e volumosas. Ou seja, trago os temperos mas não consigo trazer a tajine (e mandá-la por correio é arriscado e exorbitante!).
Sabendo desse meu desgosto antigo de não ter uma tajine verdadeira e ter de fazer as Tajines - (tajine com minúscula é o recipiente, Tajine com maiúscula o nome genérico de qualquer comida lá feita) - em caçarolas ou tachos de barro, a minha irmã Teresa resolveu oferecer-me esta magnífica tajine vinda do Marrocos profundo, lá das bandas do Sahara.
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Em Marrocos a Tajine é omnipresente e transversal a todos os estratos sociais e a todas as cozinhas, desde as mais simples (e deliciosas) comidas em sítios paupérrimos de beira de estrada na orla do deserto, até às mais sofisticadas e luxuosas de Marrakech e Casablanca. Depois de vos ter falado já de Tajines em geral e de uma Tajine de cherne, ambas em 2009, deixo hoje aqui uma Tajine de frango de complexidade média, para estreia da minha nova tajine.
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Ingredientes:
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1 frango
2 cebolas
2 dentes de alho
3 colheres de sopa de óleo de argão (ou girassol, ou azeite)
3 troços de pimento verde + 3 de vermelho
1/2 beringela
50g de sultanas amarelas
3 figos secos
6 tâmaras sem caroço
1 cenoura
Azeitonas descaroçadas
1/2 limão de conserva (só a casca)
2 colheres de sopa de Ras-el-Hanout, ou, 3partes de Gengibre em pó, 3 partes de Açafrão da India (Cúrcuma), 3 partes de Paprika doce, 2 partes de coentro em pó, 1 parte de Paprika picante (piri-piri), 1 parte de Cominhos, 1 parte de Pimenta Preta, 1 parte de Canela em pó, 1 parte de Cravo e um pouco de cardamomo preto.
Sal
Couscous cozidos ou pão
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Preparação:
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Ponha no fundo da tajine a cebola em falhas, alhos, sultanas e tâmaras abertas. Tempere com uma colher de sopa de Ras-el-Hanout (ou a mistura de especiarias) e coloque por cima, disposto em roda, o frango em pedaços grandes (8 a 10 partes), previamente temperado com a segunda colher de especiarias. Tempere de sal e coloque então os vegetais e frutos secos sobre a carne, terminando com as azeitonas, tiras de casca de limão em conserva e um copo de água.
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Regue por cima com a gordura, se quiser pode pôr por cima, polvilhado mais um pouco de especiarias, tape com o cone da tajine ou com o testo do tacho e leve a lume, primeiro médio e baixo assim que começar ferver, durante cerca de 30-40 minutos após fervura, evitando destapar durante este tempo.
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Sirva com couscous cozidos ou simplesmente com pão.
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sexta-feira, 18 de março de 2011

Pão de Cinco Canecas

................... Faço muitas vezes pão. Em tempos idos, isso era até uma necessidade real e não tinha nada de romântico: era fazer o "pão nosso de cada dia", que de outro modo teria de ser adquirido a quilómetros de distância. Comprei até uma maquineta para esse fim e dei-lhe tanto uso que já se avariou, o que não faz mal nenhum pois recuperei assim o gosto de fazer e mexer no meu pão.
Durante anos fui experimentando tantas e tantas receitas dos mais diversos pães, desde as da consagrada Linda Collister, às de meia dúzia de livros, revistas e a infinidade de blogues que as vão repetindo e perpetuando. São tantas vezes deliciosas e cativantes para aquela vez, com as suas inovações de sementes, grãos, gorduras, leite, ovos, etc., mas muito raramente se encontra em livros e blogs de pão, algo suficientemente simples que se possa identificar como pão, apenas pão, afinal o precioso alimento que mais nos conforta e acompanha há tantos milénios.
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Quando falo de pão, estou a referir-me às tradicionais misturas de farinha, sal, fermento e água, que ainda hoje teimam em fazer-se, aqui e ali, numa cozinha de aldeia, sem melhorantes, essa praga hedionda que transformou os escaparates de supermercados, padarias e panificadoras, por um lado numa montra de variedades, aspetos e sabores novos e exóticos, permitindo que em qualquer fábrica, mercê de um aditivo Puratos, se façam de modo quase instantâneo uma regueifa do Minho e uns pães de Mafra ou alentejanos.
Este pão de mistura semi-integral que vos trago hoje (e fiz ontem à noite), foi para o meu pequeno almoço e está uma jóia de equilíbrio. Não é um pão especial por isto ou por aquilo, mas simplesmente, pão!
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Ingredientes:
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2 chávenas de farinha de trigo 55
1 chávena de farinha de trigo integral
1 chávena de farinha de centeio
1 chávena de água morna
12,5g de fermento holandês
1 colher de sobremesa de sal marinho
1 colher de sopa de açúcar
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Amorne a água e dissolva nela o sal, o açúcar e o fermento. Se tiver tempo e quiser um pão perfeito, reduza a quantidade de fermento indicada para metade.
Junte as farinhas e amasse-as com a água com o auxílio de varas de bater bolos ou MFP.
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Estas quantidades dão uma massa aparentemente dura demais mas não se preocupe: o principal problema das receitas usuais de pão é contarem com fornos bem melhores que os nossos fornos caseiros e também com farinhas bem mais ricas do que dispomos em Portugal e as massas saírem sempre mais moles que o previsto e necessário.
Deixe a levedar numa tijela,
. à temperatura ambiente e tapada com um pano, se tiver tempo, até a massa ter dobrado de volume. Se não tiver tempo ponha dentro do forno regulado para 40ºC e terá o assunto resolvido em 30m.
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Está na altura de fazer a 2ª amassadura, para que o pão não tenha bolhas grandes por dentro.
(se não se importa com essas bolhas grandes, está pronto para ir cozer)
Bata de novo com as varas até a massa voltar ao volume original,
, molde-a de modo a adaptar-se à forma da forma que vai usar e disponha-a nela,
, não devendo ocupar mais de um terço da sua altura.
Deixe levedar de novo, em temperatura ambiente ou no forno, como antes, até que a a massa ultrapasse o nível do bordo da forma.
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Leve a cozer em forno bem quente (220ºC) durante cerca de 15 minutos e depois reduza para 150ºC por outros 15 m, para acabar de cozer bem por dentro.
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É um pão que pode ser utilizado em qualquer ocasião, sem as limitações que são criadas por pães demasiado integrais, com sabores fortes ou cheios de sementes.
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quarta-feira, 16 de março de 2011

Manjar dos Anjos

.................. Apesar deste nome designar geralmente um outro doce feito com bolachas, o certo é que me foi assim ensinado há já muitos anos e como tal não serei eu que me vou pôr a inventar-lhe outro: fica Manjar dos Anjos!
Esta sobremesa é muito “adulta”, sendo raras as crianças que gostam dela, o que também não faz mal nenhum já que a miudagem vive atafulhada em doces que lhe são dirigidos, num comércio de milhões. Este manjar é para anjos, não para anjinhos.
Quando a Ana indicou o tema "frutos secos" para esta 19ª Trilogia comigo e com o Cupido, ocorreu-me de imediato esta sobremesa dos anjos, que de angelical não tem nada, sendo bastante sensual e até algo perversa nas brincadeiras que propõe ao palato a debater-se com variações constantes de textura e sabor, a cada colherada.
Optei pela versão clássica mas chamo a atenção para as infinitas possibilidades de variação e fuga ao tema, de que falo no fim.

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Ingredientes:
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0, 5l de leite
9 folhas de gelatina
3-4 colheres de sopa de açúcar
3 gemas de ovo
100g de passas sem graínha
100g de fruta cristalizada picada em cubinhos pequenos ( excluindo casca de citrinos )
Vinho do Porto ou outro álcool a gosto
100g de miolo de noz picado grosseiramente
1 pacote de natas 30% m.g.
1 vagem de baunilha ou açúcar baunilhado
3 colheres de açúcar para caramelizar a forma.
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Preparação: .

Macere em Porto ou outro álcool do seu agrado as passas e frutas cristalizadas.
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Caramelize uma forma, a quente, de modo a que o fundo e paredes fiquem bem cobertas de caramelo.
.Demolhe as folhas de gelatina em água fria durante 10 minutos.
Pique as nozes com uma faca muito afiada, grosseiramente, de modo a que não se forme pó e a noz fique a sentir-se bem.
.Ferva o leite com o açúcar e a baunilha. Se usar vagem deve ferver em lume mínimo durante 10 minutos; no caso de usar açúcar baunilhado basta levantar fervura.
Retire do lume e junte as folhas de gelatina demolhada e escorrida e depois as gemas, mexendo bem.
Sempre a mexer, volta a levar-se ao lume até recomeçar a ferver e retira-se.
Deixe arrefecer até estar morno e junte as passas e a fruta muito bem escorridas, a noz e, por último as natas.
Verta o preparado na forma, tendo o cuidado de distribuir os sólidos para não ficarem no mesmo sítio
. e deixe-a no frigorífico até estar bem consolidada, de preferência até ao dia seguinte. Se a forma foi corretamente caramelizada, o “manjar” desenformar-se-á sem ser necessário recorrer a qualquer aquecimento. Corte em fatias de alto a baixo, de modo a que todas fiquem com todos os estratos: passas e frutos cristalizados em cima, o leite gelificado bem liso a meio e por fim as nozes em baixo.


NOTAS :

-Aconselho o emprego de caramelo acabado de preparar na própria forma, que, por isso, deve ser de metal. O caramelo líquido comercial, porque adere mal às paredes, causa por vezes dificuldades no desenformar.
-Uma variante menos exuberante no aspeto mas boa opção para quem não aprecia frutas cristalizadas é substituir estas por uma chávena de compota de gila, tendo o cuidado de lavar e escorrer os fios para retirar o excesso de açúcar. Pode ainda usar apenas passas de diversas cores, usando nesse caso 200g.
Pode ainda substituir a baunilha por chá preto ou macis de noz moscada ou o que mais lhe ocorrer.
-A preparação é muito fácil e segura. As únicas partes demoradas são os dois arrefecimentos. O primeiro pode ser acelerado introduzindo a panela em água fria e mexendo até o conteúdo amornar. Quanto ao segundo não há nada a fazer a não ser esperar as horas necessárias no frigorífico (nunca no congelador).
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