quinta-feira, 2 de outubro de 2008

Do Destino dos Melões



Melões, tal como chapéus, há muitos!
Brancos, verdes, amarelos, pele de sapo, casca de carvalho, os célebres de Almeirim agora em fase de recuperação, depois de quase extintos, os melões são o fruto-rei dos dias de calor.

"Aquilo com se compram os melões" é um eufemismo que designa dinheiro e que indica claramente que o melão não é coisa que se dê; é coisa que se compra e tem valor. Por causa de ter valor e de, por cá, não se usarem os métodos europeus modernaços de fazer uma perfuração analítica do fruto para poder atestar o teor em açúcar, resta a cada comprador, candidato aos prazeres prometidos de um bom melão, o recurso a uma infinidade de técnicas mais ou memos secretas e seguramente "infalíveis" para prognosticar a qualidade da misteriosa polpa encerrada pela blindagem da coriácea casca.
E não é que haja falta de métodos: é pelo peso, dizem uns, as mãos como pratos de uma balança; qual quê, a lisura da casca e ausência de penugem é que é, asseveram outros enquanto vão afagando os melões numa carícia sábia; a extremidade tem de estar mole, asseguram terceiros enquanto tentam espetar o polegar melão a dentro; é pelo som que fazem é que se vê, aliás, ouve-se, e vão espancando o infeliz indefeso...

É mais que provável que o paciente leitor destas linhas tenha também o seu método eleito de escolha de melões ou, pura e simplesmente, se entregue à clemência de um vendedor ou colega-cliente que conceda o favor de lhe escolher o "melhor" exemplar.

É também mais que certo que apesar de tudo, uma ou mais vezes em cada época, terá em casa um melão prometedor das maiores amenidades sápidas e que se revela, no momento da verdade, aquilo a que os portugueses, aí sim, unânimes, chamam de "pepino"!

Ter um pepino gigante em casa, para mais não podendo fazê-lo em salada é um quebra-cabeças que acaba, na maioria das vezes, com o "pepino" no lixo.
Porque todos sabem o que fazer a um bom melão, vou hoje aqui deixar o meio de tornar esse outro irmão enjeitado num espectacular doce de colher: o Doce de Melão.


Ingredientes:

1 melão mauzinho
Açucar
Casca de 1 limão
1 pau de canela

Preparação:


Parta o melão em fatias e tire-lhes a casca como se fosse para comer. Reserve as cascas.

Esmague grosseiramente a polpa do melão com os dedos e ponha-a numa panela ao lume. Rapidamente ficará feita num líquido que deverá deixar reduzir até cerca de um terço do volume inicial, com a panela destapada e lume forte, mexendo ocasionalmente para não agarrar.

Enquanto a polpa madura reduz, descasque de novo as cascas e corte aqueles milimetros de melão duro que ficou encostado à casca em tirinhas pequenas e finas.

Quando, na panela, estiver reduzido o volume inicial a cerca de um terço, meça com uma chávena o volume da polpa reduzida e adicione-lhe o mesmo volume de açúcar menos um quarto, a casca de limão, as tirinhas de melão duro e o pau de canela. Leve de novo ao lume.

O doce está pronto quando atinge uma consistência suficientemente grossa e as tirinhas estão transparentes, como que cristalizadas.

Este doce não é muito bom para grandes conservações em frasco mas aguenta bem 2-3 meses, desde que no frigorífico.


6 comentários:

  1. olha, olha... eu, que sou uma naba a escolher melões (bem me faço de entendida, apalpo, cheiro, mas nunca me saio bem) acabei de encontrar uma receita ideal para mim.
    obrigado pela partilha.

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  2. Por acaso, quando o melão não é grande coisa, normalmente acaba em sumo, mas este doce é uma bela alternativa. Só pergunto qual a mais-valia de juntar a parte mais próxima das casca? melhorar a textura?

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  3. Olá Cupido,
    Claro que é uma opção pessoal. Eu gosto muito de encontrar os fiozinhos, quase tipo fios de gila, que aparecem no meio do doce desfeito, aqui e ali. Mas tenho de reconhecer que é dispensável. :-)

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  4. Caro Luís,

    Tenho lido com admiração as suas inspiradoras receitas. No entanto o Luis como tantos outros utiliza o termo "carpaccio" para designar o "fatiado fino" o que não é totalmente correcto.
    Como sabe o termo em culinária foi introduzido por Giuseppe Cipriani do Harry's Bar em Veneza, quando uma certa condessa anémica, Amelia Moncenigo lhe encomendou um prato de carne em sangue. Foi então que ele mandou cortar em fatias muito finas um pedaço de carne do lombo que depois barrou com um molho de mostarda para melhorar o sabor da carne crua. E até aqui tudo bem mas quando a dama lhe perguntou como se chamava o menu ele atrapalhado respondeu-lhe assim de jorro " Carpaccio Signora ".
    E porquê Carpaccio? porque na altura estava exposta na cidade uma colecção de pinturas do famoso pintor veneziano Vittore Carpaccio que como se sabe dentro da sua paleta de cores privilegiou de modo soberbo o vermelho-sangue.
    Outra versão, esta milanesa, não difere muito da veneziana, pelo que o inspirador para o "Carpaccio" foi certamente o colorido vermelho da sua obra pictórica.

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  5. Estou a ver que o Luís está virado para os doces... E que maravilha de doces!
    Tenho de confessar que sou uma autentica naba a escolher melões, saem bons por uma questão de sorte...
    Beijo.

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  6. Caro(a) AB,
    Muito obrigado pelas suas visita e reparo/esclarecimento.
    A saborosa história ou lenda da origem do Carpaccio nunca fica demais em qualquer página e esta não é excepção.
    É verdade que eu uso, como muitos, o termo carpaccio para designar,tout court,fatias finissimas. Tenho consciência da incorrecção em termos estritos, mas, para mim mais importante que o purismo é a necessidade de exprimir o conceito e esta é, hoje, uma apropriação semiótica geralmente aceite, até pela insuficiência evidente de termos como "lâminas" ou "fatias finas".
    De qualquer forma, mais uma vez, obrigado.

    Luís Pontes

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