quarta-feira, 7 de agosto de 2013

Bacalhau do Senhor Grandella


                    Francisco de Almeida Grandela (1857-1935) nasceu em Aveiras de Cima e cedo veio trabalhar para Lisboa onde construiria
um império comercial e industrial cuja face mais conhecida seria os Armazéns Grandella, primeira grande superfície comercial em Portugal.
Além desta faceta profissional Grandela foi ainda um notável político republicano, benemérito, amante das artes e fundador do Clube dos Makavenkos, uma sociedade filantrópica, gastronómica e algo libertina cuja sede funcionava na cave do Teatro Condes, aos Restauradores, que também era seu. Dentro em breve teremos outra oportunidade de conversar sobre o legado gastronómico deste clube mas hoje o nome de Grandela aparece aqui como um verdadeiro mistério.
É que apesar de Grandela nos ter deixado um livro “Memórias e Receitas Culinárias dos Makavenkos”, este prato não é aí mencionado, aliás como em qualquer outro receituário conhecido, aparecendo a receita numa nota manuscrita por D. Leonor Mendonça, funcionária próxima de Francisco Grandela com o título “Bacalhau do Senhor Grandella”, assim, mais nada.
Alfredo Saramago recolheu esta nota e publicou-a no seu livro Cozinha de Lisboa e Seu Termo, mas o facto é que é uma receita que ninguém vivo viu ou provou e portanto o desafio perfeito para esta 144ª Trilogia em que eu, a Ana e o Amândio andaremos às voltas do tema “pratos perdidos”.

Ingredientes:

Lombos de bacalhau, demolhados
Farinha
Água morna
Leite
Sumo de limão
Sal e pimenta moída
Ovos
Azeite
Cebola
Alhos
Acompanhamento a gosto

Preparação:

Tendo como orientação este texto de A. Saramago,
lancemo-nos então na aventura:
Usei para o polme exterior dois ovos, duas colheres de sopa cheias, de farinha, três colheres de sopa de leite e outras três de água morna
e bati tudo com sal e pimenta. Depois de bem liso e homogéneo juntei uma colher de sopa de sumo de limão. Foi esta a minha interpretação do texto; o leitor fará a sua, se quiser.
Deitada uma concha deste preparado numa frigideira, faz-se como que uma omoleta fina
 e, antes que esteja bem cozida põe-se no centro um lombo de bacalhau, demolhado e sem espinhas.
Dobra-se então a massa semi-frita sobre o bacalhau, fechando-o,
deixa-se alourar de um lado, depois do outro, devagar para que a posta tenha tempo e calor para cozinhar,
passa-se para o prato de serviço e coloca-se por cima cebola frita em azeite com alho e um pouco de polpa de tomate.
Servi acompanhado de um puré de batata e cenoura e algumas azeitonas das minhas oliveiras.
Nunca saberei se ficou igual ao prato perdido a que a Mendonça chamou “do senhor Grandella”, mas que ficou divino, isso ficou.
   

1 comentário:

  1. Adorei esta tri que podia ser a do bacalhau... estivemos em sintonia, pelo menos no ingrediente principal.
    Estas trouxinhas são um mino!!!
    Beijos.

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