Embora cozinhar seja sempre
uma fonte inesgotável de prazer, nada chega ao deslumbramento dos momentos de
criação absoluta.
Cozinhar, a não ser que estejamos
a falar de repetidores de receitas imutáveis (mas isso é outra coisa, que até
um robot faz!), comporta sempre algo de experimental, de criativo, de único e
irrepetível, até porque não há matérias-primas iguais, dias iguais ou estados de espírito iguais. Essa é a
criatividade de todos os dias, o que faz com que um prato, mesmo se
tradicional, seja diferente se feito por mim ou por outro qualquer cozinheiro e
que diferentes cozinhas, mesmo apresentando os mesmos pratos, tenham cada uma a
sua marca distintiva e única.
Os momentos de criação absoluta
são outra coisa: deles nascem pratos que mais ninguém comeu, que ocorreram na
nossa cabeça, que passámos à obra e que, para o melhor e para o pior, seremos
os primeiros a provar e seremos nós a nomear, como compete aos criadores.
Criar um prato não é coisa que se
faça de encomenda, antes surge despoletada por um qualquer gatilho, às vezes
insuspeitado. Estas “Caras de Bacalhau no Forno ao Pilpil” despontaram a partir
de um comentário de uma amiga gastrónoma sobre uma cabeça de garoupa no forno,
num restaurante algures em Cascais, estaladas em azeite e alho antes de
forneadas. A conversa nem era comigo mas serviu de semente: E se em vez de
cabeça de garoupa fosse cabeça (caras) de bacalhau? E se em vez de estaladas no
azeite, fossem antes nele confitadas? E se usasse as gelatinas que o bacalhau
sempre deixa ao confitar para fazer esse grande molho da cozinha basca, o
Pilpil? E se…
Assim nasceu e assim se fez:
Ingredientes:
Caras de bacalhau demolhadas
Azeite virgem
Alhos e louro
Pimenta preta
Acompanhamento a gosto
Preparação:
Use um azeite muito suave e
frutado e aqueça nele dentes de alho e algum louro, lentamente e nunca os deixando
fritar, apenas borbulhar ligeiramente.
Passe as caras de bacalhau neste
azeite, virando-as se não estiverem imersas,
tendo o cuidado de nunca permitir
que a temperatura do azeite ultrapasse os 80ºC, confitando assim o bacalhau ao
invés de fritá-lo.
Após cerca de dez minutos, retire
as caras, salpique pimenta
e leve-as a forno bem quente, acompanhadas de
batatas novas semi-cozidas, até que caras e batatas se apresentem dourados.
Entretanto, repare que no fundo
do recipiente onde confitou o bacalhau, sob o azeite, está uma quantidade
apreciável de um líquido leitoso.
Este líquido contém uma grande quantidade de
gelatina e outras proteínas oriundas do bacalhau e é nele que vai emulsionar o
azeite de modo a formar uma espécie de maionese em que o papel da gema de ovo é
desempenhado pela gelatina fortemente aromática do bacalhau, que é o famoso
molho basco, o Pilpil.
Deixe amornar, retire a maior
parte do azeite e comece a agitar o líquido do fundo com um emulsionador
ou com
varas até que a emulsão se comece a formar, acrescentando depois pouco a pouco
o restante azeite, como para fazer uma maionese.
Sirva este Pilpil sobre as caras
de bacalhau assadas e acompanhamentos.
hum, está com um aspecto que quase se cheira
ResponderEliminarReceita interessante.
ResponderEliminarPor cá também estão na moda as cabeças de peixe com alho e envolvidas em papel de alumínio, após o que vão a assar na brasa.. Não há cabeça que escape!
Esta receita eu quero experimentar...
ResponderEliminarBom fim de semana.
acastro
Parabens pelo seu excelente blog. Tem sido muito útil para eu aprender mais na arte da cozinha.
ResponderEliminarGostaria de esclarecer uma dúvida relativa à essencia de citrinos uma vez que nessa publicação estão desctivados os comentários.Eu fui a farmácias aqui onde moro e em todas me disseram que não existia para cmercialização o alcool a 90º. Tenho quem me arranje aguardente de bagaço a 90º embora pouca quantidade, mas tb só preciso para fazer essências que gasto muito e são carissimas. Será que essa surte o mesmo efeito que o alcool alimentar para as essências? Se me puder responder e esclarecer agradeço
Obrigada.
Cump.
Anabela Gomes,
ResponderEliminarMuito obrigado pela sua visita ao Outras Comidas.
Na verdade aguardente a 90º é o mesmo que álcool alimentar a 90º, já que o que aqui interessa são os 90%vol. de álcool etílico.
O álcool alimentar é por vezes difícil de encontrar e é frequente que a farmácia tenha de encomendar, já que é de tal forma caro que a procura é por força muito escassa. Aproveite essa aguardente, já que obter uma aguardente vínica a 90º é ainda mais raro!
Ando a pensar nas caras de bacalhau...mas onde é que se compram? Creio que nunca vi à venda.
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