O
aroma das flores do Sambucus nigra é
tão sedutor e inebriante que é fácil apaixonarmo-nos por ele e esperarmos
ansiosamente a chegada da Primavera, para podermos desfrutar de novo o seu
encanto.
Todos os anos faço a recolha das preciosas flores, uma parte
para secar, que irá combater resfriados no Inverno, outra para o xarope de que
já falei aqui, algumas para as deliciosas tempura e filhoses, que aqui
deixei há cerca de um ano.
São muitas mais as possibilidades de utilização desta flor, que pode ser ainda usada para a
produção de vinagre, licor, geleia, leite.
Este ano experimentei o licor!
Usei o processo-base de confecção de qualquer licor e o
resultado foi muito bom. Aproveito para
deixar no fim uma clarificação sobre a produção caseira destas bebidas, sobre
as quais existem ainda muitos mitos e confusões, o que é pena e talvez contribua
para que sejam hoje bebidas relegadas para uma posição secundária, de
curiosidade e quase esquecimento.
Ingredientes:
A)
100g de flores aparadas de sabugueiro
200ml de álcool* alimentar a 90º GL
200ml de calda de açúcar (28ºBe – 101ºC)**
Vidrado da casca de um limão
Ou
B)
100g de flores aparadas de sabugueiro
200ml de vodka a 40º GL
100g de açúcar
Vidrado da casca de um limão
Preparação:
A) Apare
cuidadosamente as flores,
rejeitando os raminhos verdes dos pedúnculos, que
conferem sabor amargo.
Infunda estas flores e o vidrado do limão, em álcool
alimentar* a 90ºGL durante 15 dias. Filtre de modo a obter um líquido límpido.
Adicione a este extracto alcoólico o mesmo volume de calda
de açúcar em ponto de pasta**. Obterá o licor de flores de sabugueiro com uma
graduação de 30ºGL.
B) Apare cuidadosamente as flores, rejeitando os raminhos
verdes dos pedúnculos, que conferem sabor amargo.
Infunda estas flores e o vidrado do limão, em vodka a 40ºGL durante
15 dias. Filtre de modo a obter um líquido límpido, que será um extracto
alcoólico a 27ºGL.
Adicione a este extracto alcoólico metade do seu peso de
açúcar e agite até completa dissolução. Obterá o licor de flores de sabugueiro
com uma graduação alcoólica aproximada de 20ºGL.
Notas: * O álcool
alimentar adquire-se em farmácia e NÃO É o álcool sanitário que é usado como
combustível, desinfectante ou para limpeza. Esse álcool sanitário de uso diário
é desnaturado com um desinfectante que o torna tóxico se ingerido, além de lhe
conferir um sabor intragável.
** Obtém-se açúcar em calda, ou ponto de pasta, levando 250g
de açúcar até fervura em 1,9dl de água.
OS LICORES
CASEIROS
Os licores são bebidas alcoólicas açucaradas com os mais
diversos sabores e aromas e que contêm, como mínimos, 20%, quer de álcool, quer
de açúcar.
Há dois grandes grupos de licores, os destilados, de que
fazem parte todos os grandes nomes de licores, como o Cointreau, o Grand Marnier
ou o Bénèdictine, e os licores caseiros, em que a extracção dos
sabores e aromas se faz por infusão num líquido alcoólico.
Porque a destilação não está ao alcance do licorista
caseiro, resta-nos assim o segundo processo, com o qual se fazem excelentes
licores como a ginjinha, o licor de castanha, a amêndoa amarga ou este licor de
flores de sabugueiro.
Os álcoois e a
graduação
A graduação alcoólica de um licor é a principal fonte de
conservação deste após a abertura da garrafa. Um licor com 20ºGL pode manter-se
durante dois ou três meses, se tiver 30ºGL esse período poderá chegar aos dois
anos e com 40ºGL a conservação em garrafa depois da abertura será indefinida.
Isto levanta questões importantes quanto ao álcool a usar
bem como à sua graduação. Se as extracções sobre secos não alteram a graduação
do álcool empregado, já as extracções sobre frescos, frutos ou flores devem
contar com uma diluição importante e consequente abaixamento do grau alcoólico.
É por essa razão que o uso de aguardentes como base para licores é
especialmente apropriada para extracções sobre secos (plantas secas,
especiarias, etc.), ficando as extracções sobre frescos (frutos, flores
frescas, etc.) a cargo do álcool alimentar*. De referir ainda que as limitações
legais à venda ao público das aguardentes vínicas, deixa apenas as aguardentes
bagaceiras que, se por exemplo na ginjinha faz até parte do sabor final, já
para a maioria dos delicados sabores que um licor se propõe veicular é
inaceitável, pelo que se deve usar a vodka a 40ºGL, pelo seu sabor quase
neutro.
O cálculo das graduações é extremamente importante na
feitura de um licor, já que a presença de açúcar torna impraticável a medição
directa final através de um alcoolómetro, que funciona como um densímetro. É
por isso essencial proceder-se a pesagens rigorosas, principalmente quando a
extracção é sobre frescos. Considera-se para efeito de cálculo que o peso de todo
o material fresco infundido, representa esse peso de água adicionada ao álcool
ou aguardente.
Álcool 90ºGL
|
Vodka 40ºGL
|
Frescos
|
Secos
|
Calda açúcar
|
Açúcar
|
Graduação final
|
200ml
|
|
100g
|
|
200ml
|
|
30ºGL
|
200ml
|
|
|
50g
|
400ml
|
|
30ºGL
|
|
200ml
|
100g
|
|
|
100g
|
20ºGL
|
|
200ml
|
|
50g
|
|
100g
|
30ºGL
|
gostei de ler e aprendi
ResponderEliminarEu aprecio muitíssimo licores, o limoncello e Sambuca, são alguns preferidos. Este, de flores de sabugueiro, fiquei tentada a provar. Sei que é feito, também, licor de flores de jasmim, conhecido por rataffia.
ResponderEliminar