O
fiambre é uma técnica de preparação/conservação de perna de suíno através da
sua cozedura lenta num caldo salgado e açucarado, temperado com ervas e
especiarias variadas. Isto é o que o fiambre era há muitos anos. Lembro-me bem
de se perceber perfeitamente numa fatia de fiambre toda a estrutura da carne
que lhe tinha dado origem, o courato, depois uma parte de gordura, o toucinho,
finalmente os músculos das diversas peças da perna perfeitamente definidos.
Claro que isso se
passava há mais de meio século, o fiambre era um alimento caro e não tinha
havido ainda o aparecimento do chico-espertismo industrial que, com a sua
ganância e necessidade de levar todos os produtos a toda a gente, àquilo que
era o grande “mercado”, tratou de reinventar o fiambre, de modo a poder
vendê-lo ao preço da uva-mijona e ainda assim poder ganhar mais e mais
dinheiro.
O resultado foi o que se
viu e que ainda hoje está à vista de todos: o fiambre, todo o fiambre, desde o
topo-de-gama até aos “afiambrados”, tornou-se uma repugnante mistura de pedaços
de carne de porco, gordura, aglomerantes, gelificantes, estabilizadores,
correctores de Ph, corantes, saborizantes de síntese, etc.
Diz-se que quem já
assistiu ao seu fabrico jura de imediato nunca mais lhe tocar.
Nunca assisti,
mas basta-me a leitura das letras pequeninas dos ingredientes para saber que
aquilo é qualquer coisa muito diferente da carne que era e deveria continuar a
ser.
Os espíritos
inconformados sabem que depois da indignação e do protesto, que aquecem a
consciência mas que nunca resolvem nada, resta sempre a derradeira e pragmática
alternativa: fazer!
…e assim se fez:
Ingredientes:
Peça homogénea da perna
(rabadilha ou bola)
Sal (duas partes)
Açúcar amarelo (uma
parte)
Água
Pimenta, cravinho, alho,
louro…
Ácido cítrico (1 colher
de chá) - facultativo
Salitre (1 colher de
chá) - facultativo
Preparação:
A rabadilha, também
conhecida por bola ou por lacão, é a peça mais indicada para fiambre, não só
pela excelência da carne como, principalmente, por ser uma peça muito homogénea
e que está quase preparada para iniciar o processo.
Pode utilizar outra parte
da pena, como o pojadouro ou outra das geralmente designadas por “bifanas”, mas
terá mais trabalho a aparar e terá mais sobras.
Retire peles e alguma
apara de carne que venha pegada e enforme a rabadilha metendo-a, apertada, numa
rede de fio vegetal ou de plástico, desde que possa suportar a temperatura de
80ºC.
Garante-se assim que o seu fiambre irá conservar uma forma arredondada que
facilitará depois o fatiamento.
Prepare então a
salmoura, levando a ferver cerca de 75cl de água com todos os temperos e a que
junta sal, açúcar e, se quiser, o salitre e o ácido cítrico. Estes dois últimos
ingredientes, não essenciais ao fiambre, servem, o ácido cítrico para torná-lo
mais seguro em relação a certas bactérias anaeróbias que não se desenvolvem em
meios de Ph ácido, prolongando o bom estado sanitário do fiambre se demorar
mais tempo a consumir. O salitre (nitrato de potássio) tem como efeito tornar o
seu fiambre mais rosado.
Filtre a salmoura depois
de fria e, com uma seringa, injecte-a na carne todo em volta e a diferentes
profundidades de modo a distribuí-la.
Existem umas seringas grandes para
culinária feitas para este fim, mas se puder usar uma seringa médica, que tem
uma agulha incomparavelmente mais fina, terá melhor resultado embora dê um
pouco mais de trabalho.
Depois de injectado, introduza
a carne num saco de plástico, cubra com a salmoura temperada, ate bem e deixe
em repouso no frigorífico por dez dias.
Passados os dez dias a
marinar, o fiambre está pronto para ser cozido a baixa temperatura.
Retire-o do saco,
introduza-o num recipiente fundo que possa ir ao forno,
cubra-o com a salmoura
onde marinou e leve-o ao forno durante 6-7horas mantendo a temperatura
controlada entre os 70ºC e os 80ºC (um termómetro de forno é aqui aconselhável,
porque temperaturas superiores podem arruinar o fiambre, transformando-o em
carne assada.
Deixe arrefecer no
frigorífico e abra no dia seguinte, o seu fiambre está pronto a fatiar,
se
tiver uma fiambreira os resultados serão certamente melhores já que aqui o
sabor é directamente proporcional à finura do corte.
Use como costuma usar
fiambre de compra
ou como prato que é das maneiras que mais gosto, como foi o
caso deste que, mal aberto, fez almoço delicioso acompanhado de um arroz
malandrinho de cogumelos e escamas de tomate seco.
Alguém saberia me informa qual o nome que se dá à "rabadilha" aqui no Brasil?
ResponderEliminarBom dia "Unknown".
ResponderEliminarNo caso da carne bovina, a rabadilha portuguesa corresponde à fraldinha brasileira. É provável que haja a mesma correspondência na carne suína, mas não tenho a certeza...
Muito obrigado pela consideração e resposta. Meu nome é Gilson Daniel Machado, e sou de São Paulo/Brasil.
ResponderEliminarOlá, boa noite! Mais uma coisa que não sei se algum dia me vou aventurar a fazer... Tal como o fumeiro que publicou há tempos. Quero, no entanto, agradecer e dizer que, volta e meia, faço alguns dos seu pratos (por ex., lulas recheadas com camarão, fruta frita com mel e ervilhas tortas). Muito obrigada pelas partilhas!
ResponderEliminarBoa tarde,
ResponderEliminarSigo-o há cerca de dois anos e hoje achei que era mais do que altura de lhe dar os parabéns por deixar aqui um legado culinário. Fez-me lembrar os tempos em que fazia chouriços com a minha avó, ou filhós com a minha mãe.
Ainda hoje os faço, entenda-se, mas é uma regalo poder espreitar outras tradições, de outras famílias e, certamente, aprender coisas novas (as alheiras são excelentes).
Obrigada por se dar ao trabalho.
Rita
Holaaa muy buena la receta..muy sana la preparacion.probare hacerla y degustar en familia.gracias
ResponderEliminarPor onde andas? Sinto falta de suas postagens! Beth Müller - Rio de Janeiro
ResponderEliminarCheguei aqui porque me encanta a cociña portuguesa e tento facer as receitas, obrigada por compartilas.
ResponderEliminarSaúdos dende a Galiza!!
你不应该浪费你的时间来扰乱别人的生活。白痴!
ResponderEliminarMinha nossa! Eu tenho,TENHO! que fazer isso!!!!!!
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