quinta-feira, 14 de julho de 2011

Quinta do Rosário 2010 e um jantar de verão

          O calor do verão esmorece-me o gosto invernal pelas longas horas à volta da confeção de um prato ou do esmiuçar de algum conceito culinário mais nebuloso e a pedir experimentação. O forno entra numa espécie de defeso e eu fico cozinheiro molengão, fugindo-me a criatividade para as frescuras e levezas, coisas rápidas que, sem muito trabalho, se possam depois ficar a tasquinhar como álibi para um vinho e conversa.

Este é um exemplo do que eu acho um reconfortante jantar/ceia de Julho, 20 minutos de confeção, 2 horas de degustação, parece-me justo e correspondeu ao ensaio da mariadagem (diria o enófilo), entre o vetusto peixinho da horta e essa maravilha de maionese alhada que dá pelo nome de aioli.
Não vamos agora perder tempo com receitas de peixinhos da horta que por aqui e por todo lado já se fizeram e escreveram, nem tão-pouco com o bom aioli que hoje se fez, suave, com um ovo, dois alhos sem veio central, sal pimenta e vinagre e uma mistura de 2 partes de óleo de girassol e uma de azeite, tudo emulsionado até ficar uma maionese firme quanto baste, que, para mim, é mesmo bem firme.

Na verdade, do que vos quero mesmo falar é de um vinho engraçadíssimo (e seguramente é a primeira vez no mundo em que alguém diz “engraçadíssimo” sobre um vinho): como todos os que me leem sabem eu não sou enófilo nem sequer candidato a aprendiz de tal e as notas que aqui vou por vezes deixando não são notas de prova de coisa nenhuma mas impressões, umas boas, outras nem por isso, que me ficaram do que vou bebendo e gostando ou desgostando, sendo que o meu gosto por vinhos é até, em termos da enofilia “oficial”, bastante vulgar ou até rafeiro, sabendo-me muito bem os vinhos que os especialistas acham fáceis ou “feitos para gostar”.  Claro que me fascinam aqueles longos momentos de quietude zen em que os enófilos ficam com o nariz enfiado no copo dos vinhos difíceis, com uma expressão de beatitude transcendental, mas o que se há de fazer, eu não atinjo esses nirvanas e, depois de cheirado por um momento, um vinho há que “buêlo” que foi para isso que o fizeram, arte de perfumista também é arte mas é outra coisa.

O Vinha do Rosário 2010, branco, é um vinho da Casa Ermelinda Freitas feito com Fernão Pires e um cheirinho de Moscatel (para agradar a gente como eu) e que pelo preço ( 1,99€ no Lidl) pertence ao que se chama gama-base, por oposição a gama-alta ou “topo-de-gama”. 
Até aqui tudo bem, mais um branco barato para a guerra dos supermercados, não fosse o caso do Vinha do Rosário 2010 ser um vinho light!
Exato; um vinho light, não por ser de baixas calorias (como o honesto contra-rótulo frisa)
 mas porque tem pouco álcool, apenas 10,5%vol. declarados, embora eu esteja convicto que tem menos ainda pela absoluta ausência de efeito grão-na-asa após uma garrafa “virada”, mas não pude verificar pois o meu alcoolómetro, por questões de conceção técnica (é ótico), só funciona com tintos.

O certo é que este light é sim uma bênção! Sabe bem, cheira bem, custa quase nada, não dá ressaca, pode-se beber muito como se fosse uma água-pé, bem gelado para alegrar este verão de todas as crises. 
O que se pode pedir mais?

1 comentário:

  1. Ver peixinhos da horta faz-me pensar o quanto gosto deles e perguntar a mim própria porque será que os faço tão pouca vezes...
    Beijinhos.

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