quarta-feira, 3 de outubro de 2012

Polvo no Forno em Vinho Morangueiro (100ª Trilogia)


               Quando, há já quase dois anos, foi a 10 de Novembro de 2010, eu, a Ana e o Amândio, três pessoas que não se conheciam a não ser destas lides dos blogs, nos propusemos esta brincadeira virtual de fazermos coincidir o tema das nossas publicações a cada Quarta-feira, estávamos longe de imaginar que isso nos iria levar, cem semanas depois, a esta que é, naturalmente, de festa!
Assim, depois de termos publicado 297 posts sujeitos a temas tão díspares como O Fado, Canela ou Improvável, hoje não teremos tema e sim, jantar, tripartido pelo espaço virtual que une amistosamente duas cozinhas lisboetas, a minha e a Cozinha com a Anna e uma portuense: teremos uma entrada feita pela Ana, um prato principal feito por mim e uma sobremesa que vem do Norte mais a escolha dos vinhos, ou não fosse o blog do Amândio, Garficopo, o nosso especialista nas andanças vínicas.
Vamos então continuar a jantar, agora que os "cogumelosfritos ao alho" da Ana já aplacaram a fome e despertaram apetites gulosos para o prato que hoje aqui deixo, Polvo Assado em Vinho Morangueiro, prato que provei pela primeira vez há muitos anos, em Ponta Delgada e que foi uma inesquecível e feliz excepção na relação algo triste que, com grande pena minha e sem culpa alguma da cozinha açoriana, eu tenho com a generalidade da sua restauração.
Claro que estou apenas a recriar a receita tradicional, já que sem polvo dos Açores nem o vinho de cheiro, o “americano” de casta Isabela, cuja comercialização é proibida, e essa malagueta especial insular a que chamam pimenta da terra, não o poderia alcançar.
Usei nesta réplica adaptada, o belíssimo polvo galego das Rias Bajas, as malaguetas da minha própria produção (será a “pimenta de Lisboa”) 
e o vinho morangueiro, dito “do lavrador” para enganar a proibição de venda deste irmão do vinho de cheiro dos Açores, vindo da região de Cantanhede, um vinho fortemente perfumado e fraco de álcool, desprezado pela enofilia, que o encara como uma espécie de água-pé mas que eu adoro e compro ( e bebo!) sempre que posso, já que me oriento pela minha boca e paladar e não pela boca ou paladar de outrem.
Fiz assim:

Ingredientes (2 pessoas):

1,5-2kg  de polvo congelado (do qual se usará metade)
2 copos de vinho morangueiro (na falta, vinho tinto)
Sal
Pimenta
Alhos
Pimentão doce
Malaguetas frescas
Louro
Óleo ou azeite
Cebola
Tomates maduros ou polpa
Batatinhas para assar

Preparação:

Deixe o polvo descongelar e bata cada perna com o auxílio do martelo de bifes. Esta operação é muitas vezes citada como desnecessária devido à congelação ter também um efeito parecido sobre as fibras musculares deste cefalópode, mas neste caso preferi jogar pelo seguro e não me arrependi.
Separe as pernas individualmente e coloque-as numa tigela, juntamente com sal, pimenta, alhos, pimentão doce, malaguetas frescas, louro e coberto pelo vinho morangueiro. 
Deixe marinar por 24 horas.
Refogue em óleo ou azeite a cebola picada e o tomate desfeito ou, na falta de tomate maduro de época, calda de tomate. 
Escorra o polvo da marinada e introduza-o neste refogado, juntamente com os alhos e as malaguetas, 
tape e deixe o polvo fervinhar durante uns dez minutos, após o que junta então o vinho em que marinou e deixa cozer por mais meia hora. Nos últimos dez minutos ao lume, dê uma entaladela a batatinhas de assar.
Passe então as batatas para uma assadeira, o polvo por cima, regue com o molho 
e leve ao forno a 180ºC durante cerca de 20minutos ou até que se apresentem tostados, polvo e batatinhas e o molho reduzido e apurado.
Ficou tenríssimo e saboroso e não me arrependi de tê-lo feito no forno, já que tinha hesitado entre duas preparações insulares do polvo, aliás bastante parecidas, o polvo no forno e o polvo guisado, que é basicamente este mas que não vai ao forno e apura no tacho. Para mim, que não sou muito apreciador das abundâncias gelatinosas do polvo, a confecção no forno revelou-se superior, pois seca esta camada gelatinosa, mantendo-lhe o sabor, que é quase todo o sabor de um polvo.
Agora já bem aconchegados de comidas e regados com o néctar de que o Amândio vos falará a seguir, só falta mesmo essa sobremesa a chegar doPorto, para que esta Trilogia nº100 fique perfeita.
E para a semana há mais! 
     

4 comentários:

  1. Babando pelo teu polvo...as abundâncias gelatinosas do dito cujo nunca me arreliaram, lol!
    Este com as respetivas acompanhantes está uma tentação! Um belo jantar para 3 trilógicos magníficos... persistentes mas sem rotinas!!!
    Não te convido para um café depois da sobremesa que deve estar a chegar, que sei que não bebes café à noite.
    Beijinhos trilógicos e parabéns a nós.

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  2. Parabéns por esta viagem "centenária" :) vocês são uma inspiração! :)

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  3. Olá Luis, sou fã do blog e o assunto das porradas no polvo obriga-me a uma estreia como comentador. Lá em casa não há especialistas contudo o polvo que a Xana coze vai fresco da praça para a panela de pressão, sem água!!! fica macio e bem cozido sem qualquer dificuldade. Como digo não há especialistas nem truques, polvo fresco na panela, sem porrada nem congelador. Pelo que sempre me surpreendeu esta coisa de cozer polvo com manobras. Será um mito? É que já a mão dela sempre fez assim e nunca há problemas. Cuprimentos e parabés pla sua postura e plo blog.

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  4. Caro Luís, um rolha de cortiça também resulta, foi-me ensinado por um cozinheiro de Marinha
    Carlos Alberto

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