quarta-feira, 13 de março de 2013

Hambúrguer de Alcatra e Tutano



                       Quando se pensa em vaca, que hoje, além de animal sorridente, segundo Cavaco, também é tema para esta 123ª Trilogia com a Ana e o Amândio, tanto se pode pensar nas grandes postas nortenhas, feitas com a irrepreensível carne de montanha, como no popular e despachado hambúrguer gorduroso e global do nosso descontentamento.
Pelo meio ficam uma infinidade de pratos de carne, objectos em osso, tripa para enchidos, peles e cabedais, que da vaca tudo se aproveita, como no porco, ou até mais, que a vaca ainda dá leite!
Como não vivo no Norte e não chego com facilidade (€) às carnes das vacas DOP, resta-me a saudade do talho do Intermarché de Montalegre onde a vazia de vitela Barrosã é a 8€ o quilo e vou-me dedicar a provar, em todos os sentidos, que um hambúrguer não tem de ser a porcariazinha despachada, global, quiçá de cavalo, que referi lá em cima e, pelo contrário, pode ser algo de sublime, cuidado e até lento, como este que aqui vos deixo, que até tem de ser começado de véspera, como eu gosto.

Ingredientes:

300g de alcatra de vitela, passada
1 fémur de vaca, seccionado
1 cebola muito pequena
2 dentes de alho
125g de cogumelos
25g de pão em migalhas
Sal e pimenta

Preparação:

Tutano é o nome que se dá, em culinária, à medula óssea que preenche os ossos longos, como a tíbia, fémur ou úmero, é extremamente gordo e tem um sabor delicado e único. Para obtê-lo, peça no seu talho um “osso de tutano” e recebê-lo-á já pronto a assar ou cozer.
A primeira parte deste hambúrguer deve ser feita de véspera e consiste em levar ao lume, em água, ossos de vaca 
e deixá-los ferver por várias horas, pelo menos seis. No entanto, ao fim de cinco minutos a ferver, retire os ossos de tutano e bata-os contra a tábua, de modo a extrair o tutano antes que se desfaça com o calor. 
Ponha de imediato o tutano no frigorífico, para solidificar e ponha de novo o osso a ferver na panela do caldo, lume no mínimo.
Ao fim dessas horas de cozimento, passe o caldo e ponha-o no frigorífico.
No dia, desenforme o caldo, que será formado por uma camada de gordura sólida e branca e por uma gelatina firme, o caldo de carne. 
Rejeite a gordura e do caldo corte um pedaço que deve ter aproximadamente um terço do volume de carne picada.
Estes são os ingredientes do hambúrguer: carne picada, caldo gelificado, cebola, pão, alhos, tutano e cogumelos.
Derreta um terço do tutano e frite nele a cebola, os alhos, pimenta e metade dos cogumelos. Deixe arrefecer.
Pique na máquina de moer estes ingredientes e o segundo terço do tutano, ao mesmo tempo que a carne,
misture depois sal e o pão reduzido a migalhas.
Derreta então o último terço de tutano, junte igual volume de banha de porco e frite nesta gordura a mistura de carne, modelada em forma de hambúrguer grosso.
Depois de frito um lado, vire e adicione os restantes cogumelos. 
Se necessário, acrescente no fim um pouco de caldo gelificado ao molho para desglaçar os caramelos formados.
Sirva com acompanhamento a seu gosto.


7 comentários:

  1. Estou sem palavras... mas cheia de apetite!

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  2. "Slow Food" no seu melhor.

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  3. Maravilha! O difícil vai ser achar o osso com tutano aqui no Rio de Janeiro. Pode ser feito com ossobuco, não? Aproveito a carne do entorno para outra coisa? No aguardo, Beth

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  4. Bom dia, Beth.
    Penso que não será difícil achar tutano por aí; assim como assim, por melhores que sejam as vacas brasileiras, elas têm de ter medula óssea, não é? Claro que pode usar o ossobuco e até utilizar a carne em volta para picar e fazer o hambúrguer, mas isso não vai resolver os 2 ou 3 quilos de osso que necessita para fazer um caldo forte de gelatina, essencial.
    Em qualquer talho em que se desmanche uma perna de vaca, sobra por força uma tíbia e um fémur (e um osso de rabadilha, o "joelho" da vaca) que eles lhe darão grátis, se pedir de véspera, pois é trabalho feito de madrugada e os ossos são por vezes eliminados logo antes da loja abrir ao público.
    Boa sorte!

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  5. Este comentário foi removido pelo autor.

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  6. Um requinte de hambúrguer... o tutano e eu não nos conhecemos assim tão bem, lol!!!
    Beijos.

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  7. Caro Luís,

    Como já disseram aqui, o seu blog é um verdadeiro serviço público. Bem haja por isso e pela generosidade da partilha.
    Cumprimento-o,
    mj

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