O milho é cereal que aguenta quase todas as
maldades que lhe façam, excepto a da pressa.
Se há comida injustiçada, será
por certo a polenta que, num século, passou de prato principal e por vezes
único nas mesas populares portuguesas para a ínfima posição de acompanhamento
pitoresco ou de pratos vagamente regionais e ressuscitados após meio século de
olvido, durante o qual toda a gente que a sabia fazer morreu, deixando muitas
polentas de hoje, mesmo feitas por mãos “estreladas” de
alguns restaurantes da moda, algo desmaiado e sem sabor próprio, fruto de uma
grande dose de pressa, que, no caso das polentas, é o mesmo que dizer
incompetência.
Deste triste estado de coisas vos dei já conta aqui e aqui e não
é mais altura de repisar o já dito, até porque a polenta é, tal como as açordas
de quem é afinal parente próximo, uma preparação que se presta como poucas à
evolução, à criatividade e à imaginação, permitindo construir à sua volta uma
infinidade de variações, quer como prato, quer como acompanhamento ou até sopa.
Esta que aqui vos deixo serviu
como delicioso acompanhamento a um peixe frito, mas teria podido facilmente ser
prato principal, por exemplo se esse mesmo peixe lhe tivesse sido incorporado.
Ingredientes:
Farinha de milho amarela
Azeite
Tomate seco, em azeite
Pimento maduro
Coentros frescos
Sal e pimenta
Preparação:
Misture bem uma pequena
quantidade de farinha (ou carolo) de milho com uma grande quantidade de água,
pense em algo como 50g de milho para meio litro de água e desfaça bem qualquer
grumo que se tenha formado. Leve ao lume até ferver, com sal, o que provocará um ligeiro
espessamento.
A maioria das receitas modernas dir-lhe-á que está a farinha
cozida, mas na verdade o processo ainda nem começou. Tape e reduza o calor ao
mínimo e deixe a fervinhar por cerca de uma hora, mexendo de tempos a tempos
para evitar que pegue ao fundo. Durante este tempo a farinha vai então cozer de
verdade e verá formar-se um creme grosso como um puré de batata, com o
característico aroma do milho cozido.
Enquanto o milho coze, frite em
azeite alhos, pimento maduro e tomate
seco, tudo picado fino e temperado com pimenta.
Misture com a polenta junte por
fim os coentros frescos. Deixe a polenta absorver e misturar em si todos estes sabores e sirva como acompanhamento ou como prato, incorporando-lhe nesse caso uma carne, peixe ou enchidos.
Parece-me muito bom!
ResponderEliminarA minha mãe fazia milhos com costelinhas de sorça. Nem tenho palavras para descrever a delícia desse sabor, nem as saudades que agora me fez... Estes seus milhos pareceram-me muito bons!
ResponderEliminarVivendo e aprendendo...
ResponderEliminarDesconhecia em absoluto esta polenta. O mais próximo disto que comi, foi o próprio milho partido em pedacinhos do tamanho de arroz, mas feito como fazemos o arroz, isto é, como acompanhamento sim, mas cozido.
Contaram me que noutros tempos difíceis, o tal milho partido era usado por gente mais humilde, e que por isso o arroz só entrava em dias de festa.
Mas é claro que em nada se parece com esta polenta.
Bem haja...
António Castro
Nunca cozinhei e julgo que nunca provei! Mas neste blog estamos sempre a aprender :)
ResponderEliminar