segunda-feira, 14 de setembro de 2015

Uma polenta

          O milho é cereal que aguenta quase todas as maldades que lhe façam, excepto a da pressa.
Se há comida injustiçada, será por certo a polenta que, num século, passou de prato principal e por vezes único nas mesas populares portuguesas para a ínfima posição de acompanhamento pitoresco ou de pratos vagamente regionais e ressuscitados após meio século de olvido, durante o qual toda a gente que a sabia fazer morreu, deixando muitas polentas de hoje, mesmo feitas por mãos “estreladas” de alguns restaurantes da moda, algo desmaiado e sem sabor próprio, fruto de uma grande dose de pressa, que, no caso das polentas, é o mesmo que dizer incompetência. 
Deste triste estado de coisas vos dei já conta aqui e aqui e não é mais altura de repisar o já dito, até porque a polenta é, tal como as açordas de quem é afinal parente próximo, uma preparação que se presta como poucas à evolução, à criatividade e à imaginação, permitindo construir à sua volta uma infinidade de variações, quer como prato, quer como acompanhamento ou até sopa.
Esta que aqui vos deixo serviu como delicioso acompanhamento a um peixe frito, mas teria podido facilmente ser prato principal, por exemplo se esse mesmo peixe lhe tivesse sido incorporado.

Ingredientes:

Farinha de milho amarela
Azeite
Tomate seco, em azeite
Pimento maduro
Coentros frescos
Sal e pimenta

Preparação:

Misture bem uma pequena quantidade de farinha (ou carolo) de milho com uma grande quantidade de água, pense em algo como 50g de milho para meio litro de água e desfaça bem qualquer grumo que se tenha formado. Leve ao lume até ferver, com sal, o que provocará um ligeiro espessamento.
A maioria das receitas modernas dir-lhe-á que está a farinha cozida, mas na verdade o processo ainda nem começou. Tape e reduza o calor ao mínimo e deixe a fervinhar por cerca de uma hora, mexendo de tempos a tempos para evitar que pegue ao fundo. Durante este tempo a farinha vai então cozer de verdade e verá formar-se um creme grosso como um puré de batata, com o característico aroma do milho cozido.
Enquanto o milho coze, frite em azeite alhos, pimento maduro  e tomate seco, tudo picado fino e temperado com pimenta.
Misture com a polenta junte por fim os coentros frescos.
Deixe a polenta absorver e misturar em si todos estes sabores e sirva como acompanhamento ou como prato, incorporando-lhe nesse caso uma carne, peixe ou enchidos.


4 comentários:

  1. A minha mãe fazia milhos com costelinhas de sorça. Nem tenho palavras para descrever a delícia desse sabor, nem as saudades que agora me fez... Estes seus milhos pareceram-me muito bons!

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  2. Vivendo e aprendendo...
    Desconhecia em absoluto esta polenta. O mais próximo disto que comi, foi o próprio milho partido em pedacinhos do tamanho de arroz, mas feito como fazemos o arroz, isto é, como acompanhamento sim, mas cozido.
    Contaram me que noutros tempos difíceis, o tal milho partido era usado por gente mais humilde, e que por isso o arroz só entrava em dias de festa.
    Mas é claro que em nada se parece com esta polenta.
    Bem haja...
    António Castro

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  3. Nunca cozinhei e julgo que nunca provei! Mas neste blog estamos sempre a aprender :)

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