A ressurreição, ou seja, dar
vida ao que já esteve morto, é geralmente coisa tida por impossível e, por isso
mesmo, ligada às coisas da fé que, como é sabido, move montanhas e tudo pode.
Esta introdução com laivos
teológicos veio a propósito de uma das mais infelizes ocorrências ligadas à
curta mas gloriosa vida desse ex-libris
da pastelaria portuguesa que é o pastel de nata. Desde os magníficos pastéis de
nata artesanais, com pedigree e
assinatura, passando pelos da anónima pastelaria de bairro e até a esses
baratos de supermercado que começaram a sua vida congelados numa fábrica qualquer,
todos têm “uma queixa que os percorre” quando, algumas horas passadas sobre a
saída do forno, um frio de morte se vai instalando e amolecendo o maravilhoso
crocante do folhado de qualquer pastel de nata. Amolece, perde o brilho e o
viço, morre!
Não há ninguém a quem essa
desgraça não tenha alguma vez ocorrido, para mais sendo os pastéis, quando
quentes, propensos a compras de impulso, quem resiste a tentar prolongar
aqueles momentos sublimes!
Inconformado com essa cruel
metamorfose que sempre ocorre, e para pior, arruinando as quase sempre ingénuas
expectativas do amador de pastéis de nata, tentei durante muito tempo várias
técnicas mais ou menos elaboradas que
permitissem o milagre, mas sempre em vão. Algo acontecia sempre que ensombrava
o resultado: ou o folhado queimava, ou a superfície abria fendas, ou…
Curiosamente, foi a partir dessas
formas de alumínio
em que são vendidos os mais humildes exemplares, nos
supermercados, a meia dúzia de tostões, que consegui finalmente, uma
ressurreição credível e, desta vez, a fé não foi aqui precisa para nada.
Ingredientes:
Pastéis de nata
Preparação:
A recuperação do pastel de nata
faz-se através da aplicação de calor, mas direccionado. Se introduzir simplesmente
o pastel no forno, quando o folhado tiver sido aquecido suficientemente já o
pastel está a borbulhar, definitivamente arruinado. Para isso deve conseguir que
o calor se transmita, da fonte à carapaça mas sem atingir a superfície do
pastel e para isso nada melhor que aproveitar a condutibilidade dos metais,
usando essas formas descartáveis de alumínio em que são vendidos os mais
humildes pastéis de nata.
Guarde esses invólucros pois vai precisar de dois ou
três por cada pastel a recuperar.
Ponha o pastel de nata “morto”
dentro de uma destas formas e esta dentro de uma segunda,
que se destina a
evitar que o fundo se vá queimar. Tape este conjunto com uma terceira forma
invertida,
que se destina a não deixar secar a superfície (também pode usar uma
tampa de papel de alumínio)
e leve a uma chapa muito quente por cerca de dez
minutos,
ao fim dos quais o seu pastel parece ter acabado de sair do forno que,
tempos antes, o fez.