Hoje reduzidas a uns xeréns algarvios e a uma ou outra
curiosidade culinária esparsa, as deliciosas papas de milho têm uma presença
virtualmente nula na cozinha portuguesa actual.
As causas deste declínio são variadas e já aqui se falou
disso com mais delonga, não sendo a menor delas o facto de terem uma confecção
demorada que deixou de ser compatível com os tempos apressados das cozinhas
profissionais. Na realidade, a única maneira de obter o sumptuoso sabor de umas
papas é dar-lhes doses maciças desse ingrediente secreto que é o tempo.
Roubando no tempo, rouba-se na excelência e quem paga as favas são as papas.
Felizmente que a minha cozinha não é profissional, não tenho
por isso que satisfazer horários de clientes apressados nem fazer contas a
horas gastas à volta da panela.
Com um tema tão motivador como foi o que propus à Ana e ao Amândio para esta 161ª
Trilogia, “Com papas e bolos…”,
não podia deixar de voltar às minhas queridas papas, desta vez a envolver um
polvo que nadou lá nas “Rías Baixas” da Galiza e a
resultar num prato de verdadeiro conforto.
Ainda não é desta que sai um bolo, que com esse é que se
engana o tolo…
Ingredientes:
Polvo
Farinha grossa de milho amarelo (carolo)
Azeite
Alhos
Louro
Pimento vermelho
Tomate seco (em azeite)
Malagueta a gosto
Pimenta
Pimentão fumado
Sal
Salsa picada
Preparação:
Coza o polvo como aqui ou como quiser e reserve o caldo.
Use este caldo, depois de esfriar, para desfazer a farinha
ou carolo, na proporção de 125g de farinha ou carolo para cerca de um litro de
caldo de cozer o polvo.
Leve ao lume mexendo sempre e deixe a cozer durante uma
hora, com lume baixo, com cuidados para não pegar. Esta aparente disparidade
entre as quantidades de milho e de líquido, que impressiona ao princípio, é o
que fará o êxito das papas.
O milho tem duas fases de cozimento, uma primeira que
decorre em cinco minutos, consome sensivelmente apenas o dobro de líquido em
relação ao milho (100g de farinha de milho para 200g de líquido) e é a que vê
descrita em todas as receitas por aí;
mas há uma segunda fase, que consome a hora seguinte, liberta todos os
sabores e aromas do milho, e tornará as suas papas em algo totalmente diferente
dos xeréns, papas, milhos, polentas, etc. que conhece da restauração.
Enquanto o milho coze, refogue num fundo de azeite, dentes
de alho, louro, pimento vermelho em cubinhos muito pequenos, tomate seco, uma
malagueta
com ou sem sementes conforme queira mais ou menos picante, e pimenta (Cuidado
com a tentação tão portuguesa da cebola; não vai querer um sabor guisado nas
suas papas, por isso aqui, cebola, não!).
Quando tudo estiver apurado, junte então o polvo em pedaços
e o pimentão fumado,
quando estas estiverem prontas e com a consistência de “migas” moles mas sem escorrer.
Mexa bem
e sirva logo esta festa para os sentidos.
Luís, tenho feito muitas papas destas. E faço-as com tudo, desde restos de cozido até sobras de caril de frango...
ResponderEliminarEsta bela farinha de milho merece respeito e tem pouco
Eu e as papas não nos conhecemos assim tão bem... deixaste-me de pulga atrás da orelha com estas!
ResponderEliminarBeijinho.