................... Foi na passada Terça-Feira que se consumou mais um jantar transcontinental da série L, que juntou as mesas lisboeta e paulistana do Outras Comidas e do D.C.P.V e levou o cognome de Etil2.
Como vos disse em post anterior, foi um conjunto de receitas cujo fio condutor andou da cachaça para o vinho em homenagem ao acrónimo identificador do outro comensal.
Publicadas as receitas orientadoras do repasto, irei aqui mostrar, em pormenor, como foi o jantar, que começou com uma variação sobre um dos petiscos mais portugueses, o chouriço assado.
Mandava a receita que fossem as rodelas de legítimo chouriço caseiro alentejano (lá chamam-lhe linguíça)
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assadas em brasileira cachaça ardente (o que se conseguiu duplicando-lhe a graduação)
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e acompanhadas de sabores bem mediterrânicos da polenta frita e dos crocantes aros de cebola, uma a atestar um sabor de antanho e os outros a impôr uma afirmação de modernidade.
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Ainda mal extinto o sabor da entrada, cumprida a sua função estimulante do apetite para o que se avizinhava, chegaram as que deveriam ter sido garnizés, as pequenas e saborosas aves que entre nós se chamam também "cocós", "chichiritas", "piriquitas" etc., mas que foram afinal substituídas por primas de igual envergadura, frangaínhas de quatro semanas de idade e 375g em vida, do tamanho de uma perdiz e de uma delicadeza de carnes e de sabor que nos faz, inevitavelmente, interrogar sobre o motivo porque são tão raras num país onde se cria e come tanto frango?
Corados em ghee e lume forte,
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foi-lhes enfim cedida a companhia dos temperos, das chalotas e dos vinhos do Porto e aí estufaram,
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Tendo sido depois recheados com uvas brancas e tintas antes de irem acabar no forno
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prontas para serem acompanhadas por espinafres Nova Zelândia, só muito levemente salteados em azeite e alho
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e por castanhas que a receita mandava assadas com os frangaínhos mas que decidi contrariar (a minha própria receita é tão desrespeitável como qualquer outra!) e transformei num puré
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temperado e enriquecido com natas, manteiga e anis em grão que ficou maravilhoso e se revelou perfeito de harmonia
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com as pequenas aves
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e o molho dos vinhos do Porto devidamente reduzidos.
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Dois alcoólatras encontraram-se e com a sua união, ao menos, não se estragaram duas casas. Era o que se podia dizer deste pudim de Porto tawny, de que vos falei aqui, e que, em relação à receita levou mais 20% de Porto que o inicialmente previsto, o conhecido copito que o bêbado em retirada ainda bebe "para o caminho", acompanhado de umas peras igualmente a cair de bêbedas por terem estado longamente imersas até que o vinho as penetrasse até ao caroço! A acompanhar o casal a casa, esse antiquíssimo bolo beirão que dá pelo nome de Borrachão.
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Desta união nasceu a sobremesa-homenagem ao DCPV que encerrou mais este episódio da saga Projeto L que, como não poderia deixar de ser foi acompanhada por um vinho à sua altura, na ocasião o Vale da Judia, tinto de 2007 que, feito com uvas Castelão na Adega de Pegões pela mão do enólogo Jaime Quendera é um belíssimo exemplo da pujança que estão a mostrar a cada dia os vinhos da península de Setúbal.
E aqui ando eu, acima e abaixo a ver receita, a ver foto... e a babar (e pelo meio o atum de barrica a rir-se!).
ResponderEliminarParabéns e beijinhos.
Rigor na concepção e alinhamento dos pratos e superior execução dos mesmos...
ResponderEliminarA entrada é muito interessante e original; o prato, embora não seja uma coisa inusitada é digno de figurar em qualquer mesa; excelente. Já a sobremesa, é capaz de ser um pouco excessiva, depois do estufado, ou não. Mas como sobremesa, tout-court, é muito bem apanhada.
Parabéns.
Já agora, uma dúvida: eu chamo garnizés às galinhas da Índia... não estaremos a falar exactamente da mesma coisa, ou estamos?
Estamos sim. É mais um nome para a mesma ave. ;-)
ResponderEliminarLMSS - Um excelente blog. Não vou dizer que dá vontade de enfiar um garfo no ecran, mas quase. Sugestão: Experimente as morcelas do Jarmelo (NEE da Guarda, Pínzio e Castanheira e afins) e o Bucho e as farinheiras, o Bucho não leva arroz nem é de estômago, é de bexiga e só leva carne e temperos). E, já agora pedia-lhe a receita, da posta transmontana e a do mollho de piripiri. Um GRANDE OBRIGADO pelas azeitonas curtidas.
ResponderEliminarLuís, antes tarde do que nunca.
ResponderEliminarFoi um prazer renovado participar de mais uma edição do L.
Cupido, a sobremesa foi uma bela e doce homenagem que harmonizou perfeitamente a cachaça com o vinho.
Abs etílicos a todos.
Sílvia,
ResponderEliminarMuito obrigado pelas sugestões. Essas são coisas que apenas se podem usufruir, indo lá; não faz ideia do que é tentar arranjar uma bexiga em Lisboa, ;-)
Em relação à posta, a questão é exatamente essa: não se trata de receita (carne alta grelhada!) mas sim de matéria -prima. O segredo está na inimitável carne mirandesa DOP, e essa tem de ir lá...
veja http://garficopo.blogspot.com/2010/11/posta-mirandesa-e-revisita-ao-corpus.html .
Não sei a que molho de piri-piri se refere. Eu uso infusões oleosas (azeite em frasco totalmente cheio)para as bagas secas e abertas e infusão alcoólica (vodka) para as bagas verdes ou maduras mas frescas. Aqui faço infusões só do corpo do fruto (pouco picante) e outras (hot, hot, só com sementes ou misturadas.
Nunca faça oleosos com frutos não secos pois há real perigo bacteriológico.