sexta-feira, 28 de junho de 2013

Ginjinha

              Ginjinha é o nome que damos a um licor muito popular e de tradição assente entre nós, sendo que além das tascas lisboetas especializadas na sua venda a cálice (não é bem cálice, é mais um copito, às vezes de chocolate, moda recente…) com ou sem “elas”, algumas terras têm também as suas ginjinhas afamadas, como Óbidos ou Alcobaça. Mas se essas ginjinhas industriais podem ser um bom motivo para passar um bom tempo de brincadeira com amigos, para quem goste a sério do prazer de um licor de ginja, não há mesmo como a ginjinha feita em casa, sem pressas, que nisto de bebidas não há como o tempo para fazer o grande trabalho.
A ginja é um fruto de forma aparentada com a cereja e que cresce num arbusto quase bravio, sendo por isso muito sujeita às disposições da natureza e à voracidade de certos pássaros que as devoram, havendo por vezes anos em que mal aparece à venda e então caríssima, pela raridade. Este ano, no entanto, parece ter sido um ano excepcional para a ginja, que tem aparecido abundante pelos mercados e é por isso uma excelente oportunidade para fazer a sua própria ginjinha. Não se arrependerá.
Faça bem mais do que aquela que pensa consumir; a ginjinha continua a melhorar ano após ano e hoje, guardo, além de muitas que fiz depois, ao longo dos anos, uma ginjinha que a minha mãe fez em 1964, tinha eu nove anos, que está absolutamente deslumbrante. É dela a receita que sempre segui e que hoje aqui deixo. Uma última nota: as ginjas têm uma época curta e definida, pelo que terá, no máximo, mais uma semana se quiser tentar a aventura.

Ingredientes (para 1 litro de ginjinha):

400g de ginjas
250g de açúcar
2 paus de canela (4g)
Álcool a 60º (ou a aguardente mais forte que encontrar) q.b.p. 1 litro

Preparação:

Existem vários tipos de ginja, sendo que uma chamada “de folha”, por ter uma folhinha agarrada ao pé é das que faz o licor mais escuro. No entanto todas as outras são idênticas quanto ao sabor final, embora o licor fique mais claro.
Corte o pé junto ao fruto,
rejeitando aqueles que estejam já separados do pé ou com qualquer mazela, pese as ginjas e introduza-as numa garrafa de litro (usei dessas que se compram com polpa de tomate).
Com o auxílio de um funil largo e bem seco, faça então escorrer para a garrafa o açúcar e os paus de canela e, por fim, o álcool.
Em relação ao álcool levantam-se normalmente algumas questões: se bem que as ginjinhas feitas com aguardentes bagaceiras fiquem excelentes de sabor, o certo é que a sua conservação e envelhecimento ficam algo comprometidos pois é quase impossível encontrar uma aguardente com mais de 40º, sendo até ilegal (embora eu pense que existe uma aguardente de cana na Madeira, a “Branquinha”, que tem, ou teve, uma apresentação a 60º, usada na poncha). O ideal seria até usar aguardente de vinho, não de bagaço, mas isso é mesmo inacessível pelo que é melhor esquecer. Eu uso o álcool (de qualidade alimentar) que se vende na farmácia em frascos de 250ml muito parecidos com os de álcool sanitário, excepto no preço, que é vergonhosamente alto, mas é o que temos. Este álcool é a 96º e pode baixá-lo para os 60º, juntando-lhe 45% do seu volume, em água. Um frasco dá para um litro de ginja.
Ao pôr o álcool, o açúcar é arrastado para o fundo e fica com este aspecto.
Deverá ir virando a garrafa durante dois ou três dias, sendo que à medida que o açúcar se vai dissolvendo e, portanto, a densidade do líquido vai aumentando, parte das ginjas começam a migrar para a parte alta da garrafa.
Continue a virar a garrafa quando passar por ela até que, cerca de três dias depois, todo o açúcar está dissolvido e todas as ginjas estão agora junto ao gargalo.
O seu trabalho terminou, dê agora lugar ao trabalho do tempo.
Guarde as garrafas num local escuro e sossegado e deixe até Junho do próximo ano. Durante este ano, o álcool e o açúcar irão fazendo o seu trabalho e as ginjas voltarâo por fim, de novo, ao fundo da garrafa. Estará na altura de fazer a sua ginjinha de 2014 e abrir a que agora fez.
Prometo mostrar-vos o resultado desta, daqui a um ano.


6 comentários:

  1. O meu pai também fazia ginjinha... eu sou mais de comprar uma garrafinha em Óbidos.
    Foi bom relembrar!
    Beijos.

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  2. Caro Luís

    Tenho-me divertido imenso à procura do álcool de qualidade alimentar a 96º. Acho que as pessoas pensam que estou a gozar com elas...Nem imagina o espanto... Nas farmácias cá do sítio, ninguém sabe do que estamos a falar. Já me falaram num tal álcool de cereais..... conclusão, ou me ajuda a encontrar esse bendito álcool, ou não faço ginginha este ano.... :D
    Será que me pode mandar a referência que está no frasco que comprou? Nome do fabricante,empresa distribuidora, ou algo assim, para ver se me desenrasco.
    Muito obrigada. majo

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  3. Bom dia!

    Em primeiro lugar, dou-lhe os parabéns pelo blog e sobretudo pela atitude crítica e consciente que revela em relação a tudo o que nos rodeia.
    Os posts publicados sobre licores, deixaram-me com vontade de experimentar fazê-los.
    No entanto, não foi fácil encontrar o álcool adequado. Acabei por conseguir comprar, numa farmácia, um álcool etílico a 96ºc, sem indicação de cetrimina na composição(marca AGA), por 4,60€ (250ml). Apesar da informação de que poderia utilizá-lo para o fim em causa, confesso que não estou totalmente segura. Pergunto-lhe se me poderá fornecer informações mais precisas no que respeita à rotulagem.
    Muito obrigada.
    Ana Vilaça

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  4. Boa tarde,

    Obrigado pela partilha.

    Há uns 5 anos também fiz licor de ginja e, não é para me gabar, mas ficou muito bom mesmo. Entretanto já acabou o ano passado.
    Comecei a fazer licor de outros sabores, medronho, hortelã, romã, tangerina e, quero fazer de ginja novamente, o meu problema é onde arranjar ginja... tem alguma dica?
    Obrigado

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  5. Onde posso comprar o fruto?
    Obrigado.

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  6. Este comentário foi removido pelo autor.

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