Ginjinha é o nome que damos a
um licor muito popular e de tradição assente entre nós, sendo que além das
tascas lisboetas especializadas na sua venda a cálice (não é bem cálice, é mais
um copito, às vezes de chocolate, moda recente…) com ou sem “elas”, algumas
terras têm também as suas ginjinhas afamadas, como Óbidos ou Alcobaça. Mas se
essas ginjinhas industriais podem ser um bom motivo para passar um bom tempo de brincadeira com
amigos, para quem goste a sério do prazer de um licor de ginja, não há mesmo
como a ginjinha feita em casa, sem pressas, que nisto de bebidas não há como o
tempo para fazer o grande trabalho.
A ginja é um fruto de forma
aparentada com a cereja e que cresce num arbusto quase bravio, sendo por isso
muito sujeita às disposições da natureza e à voracidade de certos pássaros que
as devoram, havendo por vezes anos em que mal aparece à venda e então caríssima,
pela raridade. Este ano, no entanto, parece ter sido um ano excepcional para a
ginja, que tem aparecido abundante pelos mercados e é por isso uma excelente
oportunidade para fazer a sua própria ginjinha. Não se arrependerá.
Faça bem mais do que aquela que
pensa consumir; a ginjinha continua a melhorar ano após ano e hoje, guardo, além
de muitas que fiz depois, ao longo dos anos, uma ginjinha que a minha mãe fez
em 1964, tinha eu nove anos, que está absolutamente deslumbrante. É dela a
receita que sempre segui e que hoje aqui deixo. Uma última nota: as ginjas têm
uma época curta e definida, pelo que terá, no máximo, mais uma semana se quiser
tentar a aventura.
Ingredientes (para 1 litro de ginjinha):
400g de ginjas
250g de açúcar
2 paus de canela (4g)
Álcool a 60º (ou a aguardente
mais forte que encontrar) q.b.p. 1 litro
Preparação:
Existem vários tipos de ginja,
sendo que uma chamada “de folha”, por ter uma folhinha agarrada ao pé é das que
faz o licor mais escuro. No entanto todas as outras são idênticas quanto ao
sabor final, embora o licor fique mais claro.
Corte o pé junto ao fruto,
rejeitando aqueles que estejam já separados do pé ou com qualquer mazela, pese
as ginjas e introduza-as numa garrafa de litro (usei dessas que se compram com
polpa de tomate).
Com o auxílio de um funil largo e
bem seco, faça então escorrer para a garrafa o açúcar e os paus de canela e,
por fim, o álcool.
Em relação ao álcool levantam-se
normalmente algumas questões: se bem que as ginjinhas feitas com aguardentes
bagaceiras fiquem excelentes de sabor, o certo é que a sua conservação e
envelhecimento ficam algo comprometidos pois é quase impossível encontrar uma
aguardente com mais de 40º, sendo até ilegal (embora eu pense que existe uma
aguardente de cana na Madeira, a “Branquinha”, que tem, ou teve, uma apresentação
a 60º, usada na poncha). O ideal seria até usar aguardente de vinho, não de
bagaço, mas isso é mesmo inacessível pelo que é melhor esquecer. Eu uso o álcool
(de qualidade alimentar) que se vende na farmácia em frascos de 250ml muito
parecidos com os de álcool sanitário, excepto no preço, que é vergonhosamente
alto, mas é o que temos. Este álcool é a 96º e pode baixá-lo para os 60º,
juntando-lhe 45% do seu volume, em água. Um frasco dá para um litro de ginja.
Ao pôr o álcool, o açúcar é
arrastado para o fundo e fica com este aspecto.
Deverá ir virando a garrafa
durante dois ou três dias, sendo que à medida que o açúcar se vai dissolvendo
e, portanto, a densidade do líquido vai aumentando, parte das ginjas começam a
migrar para a parte alta da garrafa.
Continue a virar a garrafa quando passar
por ela até que, cerca de três dias depois, todo o açúcar está dissolvido e
todas as ginjas estão agora junto ao gargalo.
O seu trabalho terminou, dê agora
lugar ao trabalho do tempo.
Guarde as garrafas num local
escuro e sossegado e deixe até Junho do próximo ano. Durante este ano, o álcool
e o açúcar irão fazendo o seu trabalho e as ginjas voltarâo por fim, de novo,
ao fundo da garrafa. Estará na altura de fazer a sua ginjinha de 2014 e abrir a
que agora fez.
Prometo mostrar-vos o resultado
desta, daqui a um ano.