É daquelas plantas que não
passa despercebida, como a hortelã, os orégãos ou o tomilho, inundando o ar com
o seu aroma forte quando, inadvertidamente a pisamos num passeio pelo campo.
O funcho selvagem é uma planta
herbácea fortemente aromática, cuja principal utilização entre nós se faz
através das sementes secas, como condimento ou tisana digestiva. A planta
verde, que é espontânea nos terrenos incultos e usada em diversas cozinhas
europeias, quer em carnes quer em peixe, não se usa por cá a não ser na cozinha
cigana, de que falaremos em breve e nos Açores, na sopa de funcho, uma receita
não fixada e que apresenta variações notáveis, mesmo dentro de uma só ilha e
que hoje aqui vamos tratar.
Têm de qualquer modo bem mais
sorte os açorianos, cujo clima húmido lhes dá acesso ao funcho durante muito
mais tempo que no Continente, onde a planta só é usável durante os meses de
Janeiro e Fevereiro, quando os rebentos estão jovens e tenríssimos,
tornando-se
depois dura, amarga e perdendo parte dos seus maravilhosos aroma e sabor
anisados a fazer lembrar o do endro.
Esta sopa da tradição açoriana
aparece em todos os receituários desta riquíssima cozinha, mas com variações
nos ingredientes e na preparação tão importantes que me parece ser mais
apropriado falar-se de múltiplas tradições familiares, já que na mesma ilha se
encontram sopas de funcho com e sem couve, inteiras e passadas, desde as temperadas com um simples pedaço de
toucinho, até às cheias de carnes salgadas, chouriços e fumados, a lembrarem a
ribatejana sopa da pedra.
Segui como orientação básica para
esta sopa de funcho que aqui deixo, a apresentada pela Elvira no seu Bistrot em2009, já que havia que aproveitar o funcho alentejano tenríssimo e rescendente
que agora está a brotar um pouco por todo o lado e que em breve terá perdido as
suas melhores potencialidades.
Ingredientes:
1 Cebola
Banha de porco
2 Batatas
Toucinho entremeado fumado
2 chávenas de feijão branco cozido
Funcho fresco picado
Couve repolho
Sal e pimenta
Preparação:
Refogue uma cebola em banha,
adicione batata, toucinho entremeado fumado e cerca de metade do feijão branco
cozido,
cubra com água e leve a lume brando até que tudo esteja cozido.
Retire o toucinho, parta-o em
pedaços e passe o resto com a varinha. Tempere.
Junte então à sopa passada os
pedaços de entremeada, o funcho picado fino e os feijões inteiros que reservou
e a couve partida.
Junte água se necessário e deixe cozer por dez minutos. Sirva quente.
3 comentários:
Olá Luis! óptima sopa, uma dúvida, será que introduzir as pontas mais tenras do funcho só no final, sem ferver, ia potenciar o sabor do mesmo?
Manuel Freire de Andrade,
A minha experiência culinária com funcho resume-se a esta sopa e a um arroz de funcho cigano que apresentarei aqui na próxima Segunda-Feira, pelo que não tenho bases para lhe responder.
À primeira vista, pelo comportamento dele a entrar na panela, parece-me que, ao contrário de outras aromáticas como o coentro, o funcho precisa realmente de fervura mais prolongada para libertar os seus aroma e sabor. Experimente e diga-me.
Luís,
Como apreciadora de funcho, digo-lhe que acho que fica óptimo em saladas, cortado em fatias finíssimas e mergulhado em água e gelo; delicioso em pratos de peixe; muito bem quando cortado em gomos, com fatias de bacon enrolado e forno; numa salada simples com laranja e azeite... Enfim! Uma infinidade de receitas! No Martín Berasategui fazem um risotto de funcho, usando o próprio cortado milimetricamente a parecer o grão de arroz.
Espero que use e abuse deste legume tão pouco usado no nosso país!
Bom fim de semana
Joana
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