quinta-feira, 5 de novembro de 2015

Pastéis de Nata - A Ressurreição!

               A ressurreição, ou seja, dar vida ao que já esteve morto, é geralmente coisa tida por impossível e, por isso mesmo, ligada às coisas da fé que, como é sabido, move montanhas e tudo pode.
Esta introdução com laivos teológicos veio a propósito de uma das mais infelizes ocorrências ligadas à curta mas gloriosa vida desse ex-libris da pastelaria portuguesa que é o pastel de nata. Desde os magníficos pastéis de nata artesanais, com pedigree e assinatura, passando pelos da anónima pastelaria de bairro e até a esses baratos de supermercado que começaram a sua vida congelados numa fábrica qualquer, todos têm “uma queixa que os percorre” quando, algumas horas passadas sobre a saída do forno, um frio de morte se vai instalando e amolecendo o maravilhoso crocante do folhado de qualquer pastel de nata. Amolece, perde o brilho e o viço, morre!

Não há ninguém a quem essa desgraça não tenha alguma vez ocorrido, para mais sendo os pastéis, quando quentes, propensos a compras de impulso, quem resiste a tentar prolongar aqueles momentos sublimes!
Inconformado com essa cruel metamorfose que sempre ocorre, e para pior, arruinando as quase sempre ingénuas expectativas do amador de pastéis de nata, tentei durante muito tempo várias técnicas mais ou menos elaboradas  que permitissem o milagre, mas sempre em vão. Algo acontecia sempre que ensombrava o resultado: ou o folhado queimava, ou a superfície abria fendas, ou…
Curiosamente, foi a partir dessas formas de alumínio
em que são vendidos os mais humildes exemplares, nos supermercados, a meia dúzia de tostões, que consegui finalmente, uma ressurreição credível e, desta vez, a fé não foi aqui precisa para nada.

Ingredientes:

Pastéis de nata

Preparação:

A recuperação do pastel de nata faz-se através da aplicação de calor, mas direccionado. Se introduzir simplesmente o pastel no forno, quando o folhado tiver sido aquecido suficientemente já o pastel está a borbulhar, definitivamente arruinado. Para isso deve conseguir que o calor se transmita, da fonte à carapaça mas sem atingir a superfície do pastel e para isso nada melhor que aproveitar a condutibilidade dos metais, usando essas formas descartáveis de alumínio em que são vendidos os mais humildes pastéis de nata.
Guarde esses invólucros pois vai precisar de dois ou três por cada pastel a recuperar.
Ponha o pastel de nata “morto” dentro de uma destas formas e esta dentro de uma segunda,
que se destina a evitar que o fundo se vá queimar. Tape este conjunto com uma terceira forma invertida,
que se destina a não deixar secar a superfície (também pode usar uma tampa de papel de alumínio)
e leve a uma chapa muito quente por cerca de dez minutos,
ao fim dos quais o seu pastel parece ter acabado de sair do forno que, tempos antes, o fez.


segunda-feira, 2 de novembro de 2015

Esparregado de Cenoura

              Os esparregados são vegetais cozinhados, mais ou menos desfeitos e acidulados, que constituem excelentes acompanhamentos.
Tradicionalmente verdes, feitos a partir de folhas diversas, espinafre, nabiça, beldroegas, urtigas, couve, etc., podem também ser feitos a partir de vegetais de outras cores, como a abóbora, o nabo, a beterraba ou a cenoura, contribuindo, além dos deliciosos sabores e texturas menos usuais, com inesperadas notas de cor para a apresentação dos nossos pratos.
Este esparregado de cenoura que hoje aqui sugiro, é fruto do aproveitamento da parte sólida de cenouras que usei para fazer sumo e que, além do prazer do sumo e da quantidade de fibras alimentares que incorpora, faz com que o esparregado fique feito num instante, já que o tempo que seria necessário à evaporação do líquido da cenoura deixa assim de ser necessário.

Ingredientes:

Cenouras
Alhos
Azeite
Ghee
Louro
Sal e pimenta
Açúcar
Vinagre ou sumo de limão
Salsa
Nozes

Preparação:

Descasque cenouras e passe-as na máquina de fazer sumos.

No depósito do desperdício ficará uma massa quase seca de fibra de cenoura. Reserve-a.

Leve ao lume brando, azeite e ghee em partes iguais (ou só azeite, ou só ghee, conforme queira o sabor final do esparregado a saber ou a não saber a azeite) e cozinhe nesta gordura, sem deixar fritar, os alhos esmagados, o louro e a pimenta.
Junte a fibra de cenoura, um pouco de açúcar e envolva, provavelmente irá ter de juntar alguma água (depende da eficácia da sua máquina de sumos) e cozinhe a cenoura, mexendo, até estar cozida a seu gosto.
Junte salsa picada já perto do fim
e acidule com vinagre ou sumo de limão, antes de servir salpicado com nozes picadas grosseiramente.
como se fosse qualquer outro esparregado.