Francisco de Almeida Grandela
(1857-1935) nasceu em Aveiras de Cima e cedo veio trabalhar para Lisboa onde construiria
um império comercial e industrial cuja face mais conhecida seria os Armazéns
Grandella, primeira grande superfície comercial em Portugal.
Além desta faceta profissional
Grandela foi ainda um notável político republicano, benemérito, amante das
artes e fundador do Clube dos Makavenkos, uma sociedade filantrópica,
gastronómica e algo libertina cuja sede funcionava na cave do Teatro Condes,
aos Restauradores, que também era seu. Dentro em breve teremos outra oportunidade
de conversar sobre o legado gastronómico deste clube mas hoje o nome de
Grandela aparece aqui como um verdadeiro mistério.
É que apesar de Grandela nos ter
deixado um livro “Memórias e Receitas
Culinárias dos Makavenkos”, este prato não é aí mencionado, aliás como em
qualquer outro receituário conhecido, aparecendo a receita numa nota manuscrita
por D. Leonor Mendonça, funcionária próxima de Francisco Grandela com o título
“Bacalhau do Senhor Grandella”, assim, mais nada.
Alfredo Saramago recolheu esta
nota e publicou-a no seu livro Cozinha de
Lisboa e Seu Termo, mas o facto é que é uma receita que ninguém vivo viu ou
provou e portanto o desafio perfeito para esta 144ª Trilogia em que eu, a Ana
e o Amândio andaremos às voltas do
tema “pratos perdidos”.
Ingredientes:
Lombos de bacalhau, demolhados
Farinha
Água morna
Leite
Sumo de limão
Sal e pimenta moída
Ovos
Azeite
Cebola
Alhos
Acompanhamento a gosto
Preparação:
Tendo como orientação este texto
de A. Saramago,
lancemo-nos então na aventura:Usei para o polme exterior dois ovos, duas colheres de sopa cheias, de farinha, três colheres de sopa de leite e outras três de água morna
e bati tudo com sal e pimenta. Depois de bem liso e homogéneo juntei uma colher de sopa de sumo de limão. Foi esta a minha interpretação do texto; o leitor fará a sua, se quiser.
Deitada uma concha deste
preparado numa frigideira, faz-se como que uma omoleta fina
Dobra-se então a massa semi-frita sobre o bacalhau, fechando-o,
deixa-se alourar de um lado, depois do outro, devagar para que a posta tenha tempo e calor para cozinhar,
passa-se para o prato de serviço e coloca-se por cima cebola frita em azeite com alho e um pouco de polpa de tomate.
Servi acompanhado de um puré de batata e cenoura e algumas azeitonas das minhas oliveiras.
Nunca saberei se ficou igual ao prato perdido a que a Mendonça chamou “do senhor Grandella”, mas que ficou divino, isso ficou.
1 comentário:
Adorei esta tri que podia ser a do bacalhau... estivemos em sintonia, pelo menos no ingrediente principal.
Estas trouxinhas são um mino!!!
Beijos.
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