Apesar das semelhanças anatómicas com o primo coelho, a lebre é muito diferente dos pontos de vista culinário e gastronómico, a permitir devaneios bem mais interessantes que os possíveis com o seu parente mais plebeu.
São tradicionais e felizes as
associações da carne algo adocicada da lebre com o travo dos nabos e o feijão e
foi com estes dois ingredientes e uma bela lebre que compus o almoço, regado
como merece e animado com os temperos essenciais a qualquer prato: tempo,
amizade e cavaqueira.
Ingredientes:
1 Lebre
Alhos
Louro
Sal e pimenta
Vinho branco
Cebolas
Cravinhos
Pimenta da Jamaica
Pimentão doce de La Vera
Pimentão picante de La Vera
Azeite e banha de porco
Feijão branco fidalgo
Couve repolho coração
Nabos
Pão frito em azeite
Preparação:
Esfole e eviscere a lebre,
aproveitando o fígado, rins e coração. Parta em pedaços grandes, lave bem em água
gelada por meia hora e cubra os pedaços com sal, pimenta, alhos esmagados,
louro e vinho branco.
Deixe a marinar no frio por três dias.
Refogue numa mistura de azeite e
banha de porco a cebola picada, alhos, louro, pimentão doce e picante (se
arranjar use o inexcedível pimentão espanhol de La Vera), pimenta preta moída
no momento, cravinho e pimenta da Jamaica em grão.
Junte a lebre escorrida* ao refogado,
envolva, cubra de novo* vinho
branco, tempere de sal e deixe cozer por duas a três horas, consoante a idade
da lebre. A carne deverá poder soltar-se facilmente dos ossos sem no entanto se
desfazer. Desosse e reserve.
Junte ao molho que a carne
deixou, nabos em cubos pequenos e couve repolho (parte clara) em juliana
grossa,
deixe cozer e adicione por fim a lebre desossada e feijão branco
previamente demolhado e cozido em panela aberta.
Sirva sobre fatias de pão alentejano frito em azeite e escorrido em papel absorvente.
Nota:
*A lebre é um animal extraordinariamente sanguíneo, com uma carne
escura que é impossível sangrar por completo. Ao iniciar um prato de lebre
deverá tomar uma decisão fundamental que, de acordo com o seu gosto, influirá
grandemente o resultado final: aproveitar ou não essa grande quantidade de
sangue que se desprenderá para a marinada com que se inicia qualquer prato de
lebre. Se usar a marinada o prato ficará com um sabor intenso a uma cabidela de
caça, o que poderá não ser consensual. Não querendo esta intensidade geral mas
apenas o sabor a lebre, há que rejeitar o vinho sanguíneo da marinada e
cozinhar a lebre marinada num novo vinho branco, que foi o que fiz neste caso,
embora goste também da versão intensa. O resultado superou as expectativas, acolitado por este excelente alentejano Herdade de São Miguel, Reserva de 2007, que mostrou em pleno a sua vocação de um belo vinho para "casar" com pratos de caça.
3 comentários:
Olá Luís,
Mas que bela sugestão, adorei!
Bjs, Susana
Nota: Ver os passatempos a decorrer no meu blog:
http://tertuliadasusy.blogspot.pt/2013/11/1-aniversario.html
http://tertuliadasusy.blogspot.pt/2013/11/crumble-de-marmelo-com-aveia-e-nozes.html
Obrigado Luís pela Aula de culinária (receitas há muitas...)
Gostaria de colocar algumas questões:
- Pareceu-me ver em duas fotografias chouriça, alguma em especial?
- Qual seria o resultado de utilizar feijoca em vez do feijão branco?
- Costumo utilizar vinho tinto nas marinadas para caça, de preferência o mesmo vinho que acompanha a refeição, alguma diferença na utilização de vinho branco?
J P Campos
Boa tarde Luis,
Onde poderei adquirir Pimentão de Talavera? já procurei em vários locais e desconhecem. Até já pedi a Amigos da raia de Espanha que também não encontraram.
Obrigado pelas maravilhosas aulas de culinária que tenho frequentado no seu Blog.
J P Campos
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