É uma palavra estranha e nunca ouvida pela esmagadora maioria de
nós. Designa a técnica rigorosa, quase uma arte, utilizada para desmanchar os
grandes tunídeos como o bonito, o rabilho ou o albacora.
Habituados ao consumo em conserva
cozida ou, mais raramente, a algumas salmouras e ao lombo fresco que chega aos
mercados citadinos, só assistindo a essa operação complexa que se chama
ronqueio nos podemos aperceber da complexidade muscular destes animais que atingem
facilmente algumas centenas de quilos e que fornecem peças tão distintas no seu
uso como qualquer grande mamífero fornece diferentes qualidades de carne.
Infelizmente, está hoje
restringida a uma pequena empresa de VilaReal de Santo António, as ConservasDâmaso, esta preparação artesanal dos atuns para conservação tradicional,
de onde saem preciosidades insuspeitadas que raramente ultrapassam as
fronteiras do Algarve e, quase sempre, ficam até na restauração e particulares
de Vila Real de Santo António.
Tive a sorte de poder assistir a
um ronqueio, favor raro que me foi concedido pelo próprio Dâmaso do Nascimento
(1950-2016), fundador daquela empresa, recentemente falecido. Desde então,
sempre que passo por Vila Real de Santo António, um telefonema prévio*
garante-me o encontro com peças magníficas de nomes estranhos como tarantelo,
carregado e descarregado, mormos e contramormos, faceira e murrilho! Isto
quanto a peças em fresco; depois há todas as preparações que vão do salame de
atum à tradicional muxama, da estupeta às ovas prensadas.
Do ronqueio dos atuns tenho
experimentado sabores e texturas absolutamente preciosas e raras, como é o caso
destes mormos
e destes contramormos,saídos das profundezas das grandes cabeças e que, como qualquer parte do atum fresco, requer preparação rápida e intensa.
Notas: * Tel. 218513840