segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

A Chaputa

                    O jantar foi peixe frito, mais precisamente umas deliciosas postas de chaputa com arroz de tomate e pimento vermelho, com salada de alface.

Naturalmente, não vou aqui dissertar sobre peixe frito com arroz nem fingir que vos deixo tal "receita" e, na verdade, nem faria aqui menção a tal, se não fosse a discussão que se gerou, ao ter comprado o peixe no mercado e que, até pelas reacções que desencadeou entre outros compradores, me chamou a atenção para um mito muito disseminado acerca deste simpático peixe, abundante nas nossas costas, a chaputa. 
A chaputa (Brama, brama). é um peixe de carne muito branca e firme, magra, que se usa, tradicionalmente, frita em postas finas ou em filetes, sendo estes realmente muito bons.
Acresce a estes bons predicados o facto de ter um preço muito acessível, entre 3€ e 6€ o quilo, o que a torna por vezes o peixe mais barato entre os disponíveis.
Infelizmente, nem tudo são rosas no reino da chaputa: os “espinhos” são, para a chaputa, os vermes que muito frequentemente a infestam, uma espécie de lombrigas brancas, emaranhadas em novelo, que chegam a ter mais de 20cm de comprimento e que se alojam precisamente no músculo, ou seja, no filete, naquilo que nós comemos.
Esta infestação parasitária não se propaga ao ser humano, mas quem quer comer vermes? Parece simples, se a chaputa tiver vermes, e vêem-se bem, quer nas postas, quer nos filetes, rejeita-se o peixe!
Mas não: aqui entra o mito. Qualquer peixeiro lhe dirá, com o ar condescendente de quem tem de aturar tanta "santa ignorância", que aquilo branco que aparece entre as lascas da posta ou do filete de chaputa é gordura, a “gordurinha” que indica que o peixe é mesmo bom! 
Ainda ontem, quando eu informei o peixeiro que queria o peixe cortado para fritar mas que o recusaria se apresentasse vermes, aí veio outra vez a história da “gordura”, corroborada por outros colegas compradores, tudo muito ciente que eu era um parvo…     
Portanto já sabe o que fazer, acredite que eu já retirei pacientemente a "gordura" e tive-a viva e comprida a contorcer-se na pedra da minha cozinha. São mesmo vermes!
Felizmente esta que foi o meu jantar estava limpa e deu um belo jantar, simples e reconfortante, como eu gosto.

8 comentários:

antónio disse...

Boa tarde
Luis, outro dia quando vi a receita dos queques e a referencia a "A Cozinha Ideal", fiquei a pensar onde é que eu já tinha visto qualquer coisa de parecido. Fui procurar e encontrei nuns livros da minha mãe a "Cozinheira Ideal" da Alda de Azevedo, 13ª edição de 1967. Não tem a ver com o outro livro mas tambem tem umas receitas interessantes. Um dia envio alguma que eu ache que vale a pena.
Agora uma questão, a quantidade de leite para os queques está correcta? Aquilo não é demasiado?

Abraço
A. Carlos

Luís Pontes disse...

A.Carlos,
É muito pouco leite, mais ou menos a quantidade de uma "bica". É "decilitro", não "litro".

antónio disse...

Ok, tem razão eu é que interpretei mal.

Abraço
A. Carlos

anna disse...

E lá cai o mito confortável... adoro xaputa mas não fazia ideia de que os filamentos brancos fossem aquilo tão desagradável...
Conclusão:
pronto pronto já me fartei de comer vermes. Até dá vontade de rir para uma esquisitinha hem?
Beijinhos.

barcelence disse...

se o peixe está cortado em posta, como conseguiste tirar os vermes? E como se viam?

Simone Coelho disse...

Boa tarde!
Sou seguidora do seu blog, há já algum tempo, delicio-me não só com as receitas apresentadas, como também com as descrições que as acompanham.
Sou de Sesimbra terra de pescadores e de bom peixe, a chaputa era inclusive um dos peixes com mais abundancia nesta costa e muito apreciado pelas gentes da terra. Tinha uma particularidade era mais pequena e tipicamente designado por "Lareta", além de mais saborosa, que a que era pescada mais longe da costa não tinha em tanta quantidade as referidas "lombrigas", que aqui ainda hoje se retiram.
Existe além das por si indicadas, mais umas quantas formas apreciadas pelos "pexitos", além da frita claro!
Passando caracteristicamente pela eliminação total da pele do peixe (ainda inteiro), e cortado posteriormente ás postas, cozinhado com batatas ás rodelas, como uma tipica caldeira ou simplesmente com uma boa cebolada.

Simone Coelho

Luís Pontes disse...

Barcelence,
Acho que não me expliquei bem: quando a chaputa tem vermes, eu não a compro e pronto. Esta não tinha vermes nenhuns, que se vêem como pontos brancos salientes da grossura de uma carga de esferográfica, nas postas cortadas e como novelos brancos nos filetes.
Os vermes a que me referi foram uns de uma chaputa, há muitos anos, que me "surpreendeu" à chegada a casa e que retirei pacientemente para comprovar que se tratava realmente de vermes e não de gordura.

Simone,
Em terra de pescadores existem sempre muitas e boas maneiras de comer o peixe, insuspeitadas pela gente da cidade. Imagino que esa cebolada ou até um escabeche de chaputa possa ser bem bom, sim. Obrigado pela dica.

Luís

Manuel Luis disse...

Compramos 5 kg deste peixe com uma excelente apresentação, mercado de Olhão.
Na preparação para a grelha, verificamos que todo o peixe estava atacado por vermes. Foi direitinho para o lixo.
Não voltamos a comprar tal peixe.
Abraço