Se é verdade que gostamos de dizer que não há peixe como o nosso, em excelência e abundância, também não é menos verdade que, excepção feita ao bacalhau, não primamos pela imaginação e criatividade nos modos como o cozinhamos, encostando-nos comodamente à qualidade para assim brilhar. Se repararmos no conjunto de preparações que usamos com o peixe, veremos peixes cozidos, assados, grelhados, fritos, escabeches, caldeiradas e pouco mais. Outros bem menos afortunados com o peixe de que dispõem, levam-nos a palma no modo como associam o sabor único do peixe a outros alimentos e sabores.
Acresce que também parece gostarmos de ser enganados, já que a frieza dos números indica que dois terços do peixe fresco que consumimos é na realidade importado e que o grosso das capturas portuguesas (+80%) se ficam por espécies, consideradas em geral como menores ( sardinha, cavala, carapau, polvo, berbigão, peixe-espada preto, faneca e carapau negrão).
Para esta simples posta de perca africana, um peixe que nem é nosso e que nos chega congelado do longínquo Uganda, fiz uma preparação inspirada nos sabores dessas paragens e de outras igualmente distantes e que achei apropriadas ao resultado desejado.
O resultado ficou acima das expectativas, que eram altas, já que a perca é peixe que, se bem salgado e não excessivamente cozinhado, faz lembrar o cherne (a um quinto do preço) e a experiência será por certo repetida.
Peixe em posta
Sal
Pimenta
Alhos
Cebola
Gengibre fresco
Raspa de limão
Pasta de tamarindo
Coentros frescos
Óleo
Preparação:
Utilize uma posta alta, de preferência a duas mais baixas.
Tempere de sal com cerca de uma hora de, antecedência.
Frite a cebola picada fina, os alhos igualmente picados, a pimenta, que será em grão se, como eu, gostar de morder os grãos e algumas fatias muito finas de gengibre, em óleo ou azeite.
Junte então a pasta de tamarindo previamente amolecida num pouco de água quente (micro-ondas), raspa de um limão e coentros frescos,
envolva mas sem fritar e disponha esta mistura sobre a posta de perca, já dentro do seu papelote de papel de alumínio.
Leve a forno quente (180°C) por cerca de 20 minutos e sirva com acompanhamento a seu gosto.Nota: Sujeito à provação, sempre difícil, de fazer um post tendo ficado sem outro recurso que não fosse o "tablet", peço aos meus leitores que me desculpem a fraca qualidade fotográfica desta perca, registada com o "andróid". Foi o que se arranjou...
6 comentários:
Olá Luís!
Parece-me uma ótima ideia!
Onde se compra a pasta de tamarindo?
Obrigada!
A,
Em qualquer dos supermercados asiáticos da zona do Martim Moniz, Poço do Borratém, R. da Palma ou na Popat Store. É uma barra muito densa e algo dura que se amolece depois com um pouco de água quente.
Obrigada!
A perca é pouco recomendável pelas condições em que é criada e explorada - quer no Lago Vitória, quer no Nilo egípcio. Para além disso, o seu maior rendimento relativamente às actividades agrícolas tradicionais, fez muita gente abandonar a agricultura e tornar-se dependente de ajudas externas e sujeita aos exploradores da industria pesqueira. É pena porque até é um peixe saboroso que se serve nos restaurantes como se fosse cherne ...
Concordo c goiaba, gostaria de acrescentar que não é benéfico para a saúde cozinhar em aluminio.
De resto parabéns pelo blog.
Caro Luis,
Obrigado pelo seu blog, tem receitas excelentes. Gostava de dizer que a perca do Nilo tem sido capturada até à exaustão nos países africanos por onde esse rio corre. As empresas que capturam esse peixe pagam miseravelmente aos pescadores vendendo-o com elevadas margens de lucro; quando esgotam as reservas de perca movem-se para outro país até aí fazerem o mesmo. Claro que ninguém vai notar quando ele desaparecer das bancas do Pingo Doce. Procuro com este comentário informar e apelar à consciência de cada um em relação ao que consome. A propósito já se perguntaram sobre os custos de beber um café Delta a 60 cêntimos ou 1 euro?
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