Com uma forma achatada e semelhante à pêra carapinheira,
embora maior que esta, a pêra parda distingue-se de todas as outras pêras por
ser de uma rijeza e adstringência tais, enquanto crua, que é virtualmente
impossível de comer assim.
Pelo contrário, após cozedura, revela-se de uma doçura,
sabor e textura maravilhosas.
Há algumas décadas era uma árvore muito comum na região, mas
hoje é quase impossível de encontrar.
Um dos últimos locais onde ainda aparece
é na Feira das Mercês, que se faz todos os anos (e está agora a decorrer) num terreno que em tempos foi
casa do Marquês de Pombal, junto à Tapada das Mercês, Rio de Mouro, de que vos
falei aqui e onde se pode ainda comprar os produtos de S. Martinho, castanhas,
batata-doce e água-pé, comprar frutos secos e provar a deliciosa carne às
Mercês, que vos deixei aqui.
Pode ainda provar estas pêras, únicas e a desaparecer, na
própria feira ou comprá-las cruas e fazê-las em casa.
Cozer pêras pardas é uma ciência antiga da região saloia de
Sintra. Fazem-se assim:
Ingredientes:
Pêras pardas
Erva-doce
Canela em pau
Sal
Preparação:
As pêras pardas são cozidas inteiras e com a sua casca, o
que impede a saída dos açúcares internos para a água de cozedura.
Essa água é aromatizada com erva-doce em grão e canela em
pau e temperada apenas com sal*.
São introduzidas na água fria para que a pele não estale e
cozem por cerca de uma hora, após o que são escorridas e embrulhadas em panos,
para terminarem o processo lentamente e sozinhas.
As pêras estão cozidas quando se deixam espetar com
facilidade. No processo mudam de cor interior e exteriormente,
tomando uma cor
rosada por dentro e escorrendo deliciosas gotas açúcaradas...
Nota: *
Por vezes, em casas onde se coze pão, também se usa assar as peras no forno de
lenha deixando-as num tabuleiro que entra no forno depois de sair o pão.
Prefiro a versão mais usual, cozidas.
2 comentários:
No interior parecem marmelos cozidos. Aliás, a família é a mesma...
Que saudades das pêras pardas. Tive uma pereira enorme no quintal que dava frutos generosamente. Um dia começou a murchar e "marchou". Nunca mais consegui encontrar alguma (também a procura não foi constante e intensiva).
Agora, afora as pêras, vou de barriga cheia, com açordas e comidas alentejanas que agora, só esporadicamente saboreio, (depois de ter nascido no Porto, vivi 11 anos em Castelo Branco e deslocava-me por todo o Alentejo, Beira-Baixa e Alta) Saudades dos cheiros e sabores (sem conservantes, sal e açúcar???...).
Vou jantar que fiquei esfomeado
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