quarta-feira, 1 de junho de 2011

Spaghetti alla Puttanesca

A referência impressa mais antiga que se conhece a este  prato é na novela de Raffaele La Capria: "Ferito a Morte", de 1961, que se refere ao "spaghetti alla puttanesca come li fanno a Siracusa".
Na verdade, ninguém sabe ao certo como este nome tão peculiar como provocatório surgiu, sendo geralmente aceite a lenda recente que atribui a invenção a uma tal Yvette la Francese, prostituta e depois dona de bordel, em Siracusa, nos anos 40-50 do sec.XX.
Esta seria uma receita feita com os recursos que havia no bordel, para alimentar clientes mais demorados e esfomeados.
Ultimamente, apareceu uma nova versão sobre a sua origem, como tendo sido criada pelo arquiteto e cozinheiro amador Sandro Petti nos anos 50, em Ischia. Segundo o  próprio Sandro, uma noite, apareceu-lhe um grupo de amigos famintos mas era impossível preparar qualquer coisa, pois não tinha a despensa abastecida. O grupo insistiu e pediu a Petti para fazer uma “puttanata qualsiasi”. Qualsiasi significa qualquer... Então, Petti improvisou um esparguete com um molho à base do que restava na despensa: uma latinha de anchovas, quatro tomatinhos, azeitonas pretas e algumas alcaparras. O grupo adorou. Depois, porque “puttanata” era mesmo cru demais, passou-se para “puttanesca” um nome com o mesmo significado mas algo mais suave.
Fosse qual fosse a sua origem, (pessoalmente, aposto mais na Yvette do bordel, já que não me parece verosímil que alguém que se diz cozinheiro amador só tenha aquilo em casa...), o certo é que o molho à  Putanesca ganhou fama e galgou fronteiras e hoje faz-se “putanesca” de qualquer coisa e com qualquer massa.
Para esta 30ª Trilogia com a Ana e o Cupido, cujo tema é “conservas de peixe”, nada melhor que uma bela putanesca clássica, a usar a obrigatória anchova e, como aqui se destinava a refeição e não a entrada, a incluir também, como proteína inteira, a magnífica ventresca* de atum,
 uma conserva*** que dia a dia vai conquistando admiradores, mesmo entre os que não gostam de atum.
Ingredientes:

1 lata pequena de anchovas
2 latas de ventresca*
Esparguete para 2
4 tomates
2 dentes de alho
1 malagueta**
1 copo de azeitonas descaroçadas
½ copo de alcaparras

Preparação:

Coza o esparguete a gosto, escorra e reserve quente.
Aloure no azeite da ventresca e óleo da anchova os dentes de alho cortados fino. Quando começarem a alourar, junte as anchovas 
e a malagueta e conforme vão fritando vá desfazendo o peixe com um garfo, o que é muito fácil.
Junte os tomates cortados em cubos pequenos (se quiser a putanesca muito tomatada ajude com um pouco de polpa) e deixe cozinhar por alguns minutos.
 Mesmo antes de acabar, junte as azeitonas, as alcaparras e a ventresca cortada.
 Misture bem, ao lume, e sirva sobre a massa.
Notas:
*Usei ventresca da Santa Catarina, Ilha de S.Jorge. Pode também usar-se atum ou, no caso da putanesca ser entrada ou petisco, omitir este complemento e fazer só com o sabor da anchova.
** A putanesca é um prato tradicionalmente bastante “puxado” em termos de picante, usando-se os terríveis “Peperoncillos” para ficar bem agressiva. Por mim, que não gosto de heroísmos que me dêem cabo do palato e da possibilidade de continuar a saborear, optei por uma dose bem mais reduzida de picante, tendo mesmo rejeitado as sementes da malagueta que usei.
*** A fábrica de conservas Santa Catarina, na Ilha de S.Jorge, é uma das boas notícias que vamos tendo: depois de ter sido notícia há uns anos atrás pelos piores motivos no que respeita a políticas selvagens de pesca de tunídeos africanos, soube dar a volta e ser hoje um exemplo a seguir por todos aqueles que respeitam o ambiente, tendo sido distinguida pela organização ambientalista global Greenpeace como praticando a pesca do atum pelo sistema de "salto e vara", o mais sustentável do mundo. Parabéns à Santa Catarina!

3 comentários:

anna disse...

Estou contigo no Parabéns à ilha de São Jorge e à sua Santa Catarina.
Adorei este teu esparguete meio picante, porque o muito picante dá-me cabo dos sistema...
Bela história!!!
Beijinhos.

cupido disse...

Fizemos uma abordagem próxima, ao tema da semana, que sendo aparentemente desinteressante acabou por dar belas preparações.

Unknown disse...

Belíssimo aspecto. Já tinha visto esta receita em livros de cozinha italiana e já tinha ficado a vontade de experimentar. Vou anotar a tua receita!

abraço