quarta-feira, 5 de setembro de 2012

Brunch



                   Com as filhas por momentos regressadas das paragens longínquas onde vivem, estas boas férias que agora acabam foram, do ponto de vista culinário e satisfazendo a vontade que sempre traz quem está longe, de matar saudades desses sabores mitificados de outrora, um repositório da boa cozinha familiar das nossas infâncias, coisas que, por aqui, figuram lá para trás para os primórdios do blog, que é quando se contam as nossas memórias de juventude. Como no Outras Comidas não se repetem pratos, deu-se por isso descanso à máquina fotográfica e teclado das lides culinárias, com excepção deste “brunch”, feito de propósito para figurar nesta 96ª Trilogia com a Ana e o Amândio, com o ingrato tema “pequeno-almoço”.
Chamei ingrato ao tema, não por sua culpa, mas porque o pequeno-almoço, apesar de todos nós sabermos a sua importância, é para a enorme maioria dos portugueses, eu incluído, a mais miserável das refeições, se refeição se pode chamar àquilo que apressadamente engolimos, por vezes de pé a um balcão de cafetaria, antes de iniciarmos mais um dia.  
Bom, apesar de dever ser a refeição-raínha, o certo é que o meu pequeno-almoço real, não de realeza mas da realidade, é uma chávena de chá e alguma torradita com manteiga, já está, aos fins-de-semana lá se fazem umas “extravagâncias”, ovos estrelados, crepes, panquecas, mas claro que isso é a excepção, não a regra, e por isso decidi abordar aqui esse conceito citadino americano e anglo-saxónico que vai colonizando a cultura urbana global e que responde ao problema criado pela vontade de levantar tarde, demasiado tarde para um pequeno-almoço e demasiado cedo para o almoço: o Brunch!
Aqui, até eu que sinto logo umas comichões quando vejo alguém muito convicto a tratar por tapenade a boa e velha pasta de azeitonas, não tenho por onde fugir: a coisa é mesmo alheia a tudo o que por cá se fez até agora e não há nome português para um brunch. É mesmo brunch!
Até agora a minha experiência de brunch tinha-se limitado aos feitos por outros, nas andanças por essa Europa fora, em que a par dos “aperitivos” das happy hours de jantar, dos bares, dão um jeito bem apreciado pelo viajante pouco endinheirado, como eu sou.
Por cá também já há, embora ainda restrito e a cair nuns exageros competitivos um pouco aparolados, com alguns brunchs lisboetas a parecerem os buffets de enfarta-brutos daqueles restaurantes por-mais-que-coma-paga-o-mesmo, em vez da refeição leve que um brunch deve ser.
Por aqui fez-se leve e sensato, como se faz um brunch em nossa casa. 
Os ingredientes serão o que nos apetecer e houver disponível; na verdade o que é necessário é ficarmos, simultaneamente, reconfortados da longa noite de jejum e apetrechados sem excessos para uma tarde que até pode ser de praia, de passeio, de trabalho, mas nunca de estômago atafulhado.

1 comentário:

anna disse...

E eu a chamar de (grande) pequeno almoço ao meu... lol!
Beijos.