Dos pequenos “jaquinzinhos”
aos grandes chicharros de quilo, o humilde carapau é dos meus peixes preferidos
e não me ocorre algum modo de cozinhá-los que os prejudique ou lhes tire a
nobreza.
Se no entanto tivesse de eleger
algum modo de preparação, essa escolha decerto acabaria por cair num daqueles
pratos em que o carapau é semi-desidratado pelo sal, enrijando-lhe as carnes
suaves e dando-lhes uma textura de tunídeo que a torna maravilhosa. Estou a
pensar num ceviche de carapau que já aqui deixei e, claro, nessa obra-prima
algarvia que dá pelo nome de carapaus alimados ou charrinhos alimados, prato para
o qual é essencial o tempo, esse querido ingrediente hoje tão esquecido na
voragem das receitas “despachadas”. Carapaus alimados é prato que não se
compadece com essas funestas correrias culinárias: quem o quiser comer em toda
a sua glória, conte, não com uma, duas ou mesmo três horas, mas sim com três
dias, nem mais nem menos. Mãos à obra!
Ingredientes:
Carapaus
Sal grosso
Pimenta preta
Azeite
Alhos
Cebola (facultativo)
Acompanhamento (pão, batata
cozida…)
Preparação:
Podem-se alimar carapaus de
qualquer tamanho, embora normalmente não se usem os exemplares muito grandes. A
minha preferência vai para aqueles carapaus médios que têm o porte de uma
sardinha das maiores e a vantagem de serem vendidos a um preço quase simbólico, já que não há
para eles muita procura, “são pequenos para grelhar mas grandes para fritar”.
Corte-lhes a cabeça, retire as
vísceras e lave bem. Salgue com abundante sal grosso, dos dois lados e deixe no
frio por 48 horas tendo o cuidado de colocá-los num recipiente que permita que
a água que vai escorrer se possa escoar.
Passados os dois dias os carapaus
estão visivelmente emagrecidos devido à desidratação que o sal operou. Lave bem
de todo o sal e introduza-os numa panela com água a ferver.
Assim que a água
começar a retomar o borbulhar, apague a fonte de calor e deixe a panela tapada
por cinco minutos, após os quais deve escorrer a água quente e arrefecer os
carapaus cobrindo-os de água fria.
Alimar os carapaus (que muita
gente associa ao limão ou algo cítrico) é apenas esta operação de limpeza de peles
e algumas espinhas (limar a pele ao carapau) que se faz deslizando o dedo
sobre
a superfície da pele, que sai prontamente e retirando depois as barbatanas dorsal e ventral, o que deixa este característico sulco no peixe depois de arranjado.
Disponha-os num recipiente onde
fiquem bem ajustados
e onde, após generosamente cobertos de fatias de alho e
salpicados com pimenta possam ficar quase imersos em azeite e uns golpes de
vinagre de vinho.
Espere mais um dia, em que os ácidos
do azeite e do vinagre vão finalizar a transformação da carne do carapau, para
provar enfim esta delícia, acompanhados como quiser.
É comum dispor umas rodelas finas de cebola nova sobre o peixe momentos antes de servir.
14 comentários:
Um dos meus pratos preferidos como boa algarvia que sou. Gosto com batata doce de Aljezur.
Eu era dos que pensava que "alimados" vinha dos cítricos...
E este "descanso" no azeite também desconhecia.
Devo ter comido outra coisa qualquer em Altura.
"tou marafado"
como boa portimonense que sou, fim de semana sim - fim de semana não, faço carapaus ou cavalas alimadas que depois vou comendo durante a semana! ás vezes até de lanche servem e ao 3º ou 4º dia no azeite até as papilas batem palmas ;) tambem gosto muito de fazer com carapau negrão. De aproveitar agora que o carapau anda bem baratinho.
Obrigada, Luís, por tão bom "passo a passo"... Vou fazer estes carapauzinhos cá em casa, olá se vou!
Olá Luis, vim aqui parar ao seu cantinho, por conta das bifanas de Vendas Novas e tive curiosidade em vêr mais. Como a minha mãe é algarvia, é um prato bem conhecido em nossa casa. Fiquei com vontade de os fazer e comer. Vou acompanhar o seu blog. Parabéns pelo seu trabalho fantástico
Luis uma pergunta: Não ficam salgados? A "cozedura" é suficiente para dessalgar?
Isabel,
Não ficam realmente nada do que se poderia pensar de tanto tempo com tanto sal. No fim, fica com o nível de sal que se encontra num atum em lata, mais ou menos. Claro que é importante a questão da drenagem dos líquidos durante a salga, de modo a que o sal vá desidratando o peixe mas sem formar uma salmoura líquida que, essa sim, deixaria o peixe irremediavelmente salgado.
Obrigada Luis, já tenho petisco.
Quantos belos repastos aqui tenho vindo "roubar"
Continue, este seu blog é uma lufada de satisfação para quem o segue, em tempos de tanta "técnica" e tão pouco conhecimento.
Gosto tanto, tanto, mas nunca experimentei fazer.
Com esta receita tão bem explicadinha, não há desculpas para não trazer o Algarve à cozinha cá de casa.
Meu caro Luis andava à procura de receitas de carapaus alimados e vim ter ao seu blogue. Confesso que foi a melhor que encontrei e com uma explicação passo a passo extraordinária. Este fim de semana vou segui - la so pormenor. Obrigado.
Meu caro Luis andava à procura de receitas de carapaus alimados e vim ter ao seu blogue. Confesso que foi a melhor que encontrei e com uma explicação passo a passo extraordinária. Este fim de semana vou segui - la so pormenor. Obrigado.
Que bom aspeto têm, vou fazer com cavalas, pois quando as faço grelhadas logo torcem o nariz, assim alimadas
quero ver quem lhes resiste!
Obrigada pela explicação!
Que bom aspeto têm, vou fazer com cavalas, pois quando as faço grelhadas logo torcem o nariz, assim alimadas
quero ver quem lhes resiste!
Obrigada pela explicação!
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