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Hoje, em resposta à proposta do Cupido para esta 6ª Quarta-Feira trilógica, vamos estar sujeitos, com a Ana, ao tema "Arroz" e decidi pensar um arroz de tamboril*** temperado por uma soberba sapateira, em que o sabor delicadíssimo do peixe fosse apenas realçado pelo complemento, numa sinfonia minimal, sem asperezas nem excessos.
Seguramente inesquecível e quase comovente este exercício de contenção resultou um hino ao arroz, ao mar e à singeleza dos grandes sabores.
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Ingredientes:
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3 postas de tamboril***
1 sapateira grande
1 dl de azeite
1 cebola grande
4 dentes de alho pequenos
1 folha de louro
2 cenouras
1 tomate
1 colher de sopa de calda de tomate
1 chávena de arroz redondo**
Sal e pimenta preta
Salsa.
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Preparação:
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Coza a sapateira por 12 minutos apenas coberta por água temperada com sal. Retire a sapateira, ponha no seu lugar as postas de tamboril ***
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e mal recomece a fervinhar, apague, tape e deixe-as na água.
Desmanche a sapateira e reserve em separado cada um dos seus produtos:
Desmanche a sapateira e reserve em separado cada um dos seus produtos:
. no sentido dos ponteiros, pinças grandes, coral*, entranhas e carne branca. Corte o tamboril*** em pedaços e reserve o caldo das cozeduras, do qual um copo deve ser refrigerado.
Refogue no azeite a cebola picada fino, os alhos esmagados com a casca, pimenta e a folha de louro.
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Quando a cebola se torna transparente, junte então a cenoura ripada, envolva e deixe cozinhar por uns minutos até a cenoura amolecer.
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Está na hora de adicionar as entranhas da sapateira o tomate cortado em pequenos cubos e a colher de polpa de tomate para compensar a má qualidade do tomate nesta época do ano.
Assim que tudo isto ferver francamente, junte o arroz e mexa até que os bagos se tornem translúcidos; comece então a juntar a água que reservou da cozedura da sapateira e do tamboril***,
Assim que tudo isto ferver francamente, junte o arroz e mexa até que os bagos se tornem translúcidos; comece então a juntar a água que reservou da cozedura da sapateira e do tamboril***,
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aos poucos, mexendo sempre como se fosse um risoto e só juntando mais um pouco de caldo quando o arroz estiver a secar. Este agitar constante vai soltar o amido do arroz de modo a fazer um molho aveludado que caracteriza um verdadeiro arroz malandro, impossível de conseguir com um arroz sem goma, que fazem uma sopa, quanto muito.
Quando o arroz estiver quase cozido junte então a carne da sapateira e um quase nada de salsa e continue o processo de cozedura com mexer contínuo.
Assim que sentir o arroz cozido, apague o lume, junte o peixe e o copo de caldo gelado para parar a cozedura do cereal, mexa muito bem e passe para o sítio onde vai servir, dispondo por cima as pinças previamente rachadas, o coral* e um pouco de salsa.
Quando o arroz estiver quase cozido junte então a carne da sapateira e um quase nada de salsa e continue o processo de cozedura com mexer contínuo.
Assim que sentir o arroz cozido, apague o lume, junte o peixe e o copo de caldo gelado para parar a cozedura do cereal, mexa muito bem e passe para o sítio onde vai servir, dispondo por cima as pinças previamente rachadas, o coral* e um pouco de salsa.
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Notas:* O “coral” é um órgão alaranjado que se encontra entre as entranhas e a casca em certas alturas do ano, responsável pela formação da nova carapaça que os crustáceos formam todos os anos. Este coral é muito saboroso e tem uma textura quase-crocante muito apreciada, sendo normalmente confundido com as ovas e a razão porque na compra é vulgar ver-se serem procuradas as fêmeas por poderem estar “ovadas”.
Isto é um mito completo, as verdadeiras ovas de sapateira são uma matéria arenosa-esponjosa que elas transportam no exterior da carapaça e imprestáveis para consumo.
Os machos têm muitas vezes muito mais coral que as fêmeas e a densidade média do bicho é o único critério de escolha.
Isto é um mito completo, as verdadeiras ovas de sapateira são uma matéria arenosa-esponjosa que elas transportam no exterior da carapaça e imprestáveis para consumo.
Os machos têm muitas vezes muito mais coral que as fêmeas e a densidade média do bicho é o único critério de escolha.
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** O arroz redondo (biribil) é um arroz espanhol de bago ultra-curto e muito gomoso, parecido com o arroz japonês para sushi e indicado para a maioria dos pratos mediterrânicos com arroz. Não existe em Portugal onde o arroz de eleição para qualquer arroz que se queira malandro é o Carolino.
***Como a Mariana (do Caos na Cozinha) muito bem notou, o Tamboril (Lophius piscatorius) é um dos peixes mais ameaçados pela sobrepesca e integra a Lista Vermelha de peixes ameaçados da Greenpeace. Se aqui o usei foi, simplesmente, porque me foi..... dado. Este arroz pode ser feito com um outro peixe branco e firme, como a garoupa ou a pescada do Chile sem perder nada da sua delicadeza e aroma a mar, veja a lista.
6 comentários:
Caro Luís,
O prato tem óptimo aspecto. É pena ter sido feito com um dos peixes da lista da Greenpeace de peixes ameaçados - o tamboril. Também é dos meus favoritos, mas tenho-o substituído por outros peixes brancos não ameaçados, e nem lhe sinto a falta.
Era só para deixar a sugestão!
Beijinhos,
Mariana
Bom dia Mariana,
Fez muito bem em ter deixado o reparo e tem toda a razão.
Eu nunca compro tamboril e se usei desta vez foi porque ele me foi .... dado!
Vou já tratar de incluir esse "aviso à navegação" no próprio post.
Obrigado.
Não restam dúvidas de que somos 1 país de marinheiros...
Gostei muito do pormenor da cenoura, do copo de água gelada e da «lição» sobre as sapateiras.
Foi uma belíssima trilogia!
Beijinhos.
Gostei da parte da cultura culinária de subúrbio e do atafulhanço, que é o que se encontra em 99% das entradas devolvidas pelo google.
Lembro-me de comer um belo arroz de tamboril, há uns vinte anos, quando não era coisa "vulgar" e desde então é um prato que faço algumas vezes. Esse teu arroz com a sapateira deve ter ficado bem bom.
Carissimo Luis,
Leio-o assiduamente de Nova Iorque onde vivo sempre saudosa dos sabores da cozinha Portuguesa. Tenho reproduzido inumeras das suas receitas e vivido muito feliz por isso. Este arroz tem um aspecto magnifico, mas o que me traz aqui sao os sonhos de Natal. O Luis nao tera' por acaso uma receita de sonhos a valer? Sonhos leves, quase algodao?
Eternamente agradecida pela sua resposta... e pela receita de carne 'as Merces!
Um Feliz Natal,
Mafalda Cardim
Mafalda Cardim,
Respondi-lhe para o seu blog.
Bons sonhos de Natal.
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