quarta-feira, 6 de abril de 2011

Massada Negra


............................ A tinta com que o choco e muitos outros cefalópodes confundem e afugentam os seus predadores, tem um uso culinário tudo menos consensual, sendo as mais vulgares as posições extremadas de ódio ou amor pela negra e inofensiva melanina, pigmento que afinal todos temos e que é responsável pela cor do cabelo, da pele, pelo bronzeamento, etc.

Para além do tradicional choco grelhado com tinta, o uso culinário da tinta de choco é muito reduzido entre nós, começando a haver umas tímidas incursões pelas pastas negras e pouco mais, ao contrário das cozinhas europeias que, mais ousadas, há muito a adotaram, sendo vulgar a existência da tinta à venda em carteirinhas ou frascos nos supermercados.

Como por cá não há, resta-nos aproveitar a tinta natural e sem tratamentos que existe em todos os chocos frescos e que é muito fácil de obter, como vos disse há poucos dias, aqui.

Para lá da delicadeza de sabor que empresta aos molhos e alimentos que tinge, a violência visual dos contrastes formados pelo negro brilhante com os outros ingredientes constitui também uma fruição estética não desprezível e que decidi aproveitar ao máximo nesta 22ª Trilogia com a Ana e o Cupido, subordinada ao tema Massada!

Ingredientes:.

1 choco médio (750g)
1 cebola
1 dente de alho
3 colheres de sopa de azeite
200ml de nata
Tinta do choco
Conteúdo dos sacos castanhos do choco
Sal e pimenta
Coentros frescos
250g de Fusilli.

Preparação:

.Amanhe o choco em casa como lhe disse aqui, reservando o saco de tinta e os sacos castanhos.
Refogue no azeite a cebola e o alho, picados muito fino, até a cebola começar a ganhar cor. Retire do lume, adicione um copo de água fria e junte então o choco em tiras. Volte ao lume, tempere de sal e pimenta, junte o conteúdo dos sacos castanhos do choco e deixe a fervinhar, tapado, por cerca de uma hora ou até o choco estar tenro a seu gosto. Quando o choco estiver tenro, destape e aumente o calor para evaporar o resto da água. Junte então as natas e volta ao lume, mexendo sempre até terem uma espessura cremosa, altura em que rompe o saco da tinta e deixa cair o seu conteúdo. Ferva ainda por dois ou três minutos, mexendo bem, e sirva sobre fusilli de boa qualidade, cozidos al dente em água com sal, polvilhado o conjunto com coentros frescos.
Momentos após, claro que toda a massada está já "contaminada" e .... deliciosa.


4 comentários:

anna disse...

Surpresa mesmo esta tua massada... pela forma como usaste a tinta do choco e também pela adiçáo das natas.
Fizeste 1 dia das bruxas em Abril!
Beijinhos e diz a próxima.

Helena disse...

Uma deliciosa sugestão que já tive oportunidade de provar. Fiquei a matutar fazer massa com farinha integral e tinta de choco.

Luís Pontes disse...

Caro RM,

O bife Wellington é na verdade um must que ainda estou para saber como conseguiu aparecer no meio da "amarelada" cozinha britânica, tão pobrezinha em geral, coitada.
Não poderei fazer-lhe esse gosto por duas razões: uma receita específica é algo que não me dá grande gozo a fazer (dará a comer mas isso é outra coisa), trata-se apenas de execução,e nestas trilogias tento sempre que o tema seja genérico e abrangente para que a Ana, o Cupido e eu próprio possamos improvisar e criar.
A segunda razão é porque eu já tenho publicada uma variação "minha" sobre o Wellington aqui no Outras Comidas, que por acaso, apesar de soar a fanfarronice, ficou uma maravilha. Veja http://outrascomidas.blogspot.com/2008/06/bife-do-acm-em-folhado-com-roquefort.html

cupido disse...

Gostei dessa inversão do uso da tinta por cima da massa, em vez de ser na massa, ela mesma, como se vê nos blolgues de deslumbramentos quando toda a gente se deslumbra por ter tentado estrelar um ovo e a coisa sai mal. Nada a fazer, faz-se um semi-frio de cuajada ou um cheese-cake de hortelã e cita-se a tigela :)

E para a semana teremos algo tão bom como o milho :)