As omeletas são, seguramente, dos meus pratos preferidos e é sempre com algum desgosto que as vejo tratadas como parente pobre das ementas, aquilo que se pede quando se chegou tarde e tudo o resto já vai rareando ou quando a bolsa não dá para mais. Na verdade, quando a omeleta chega à mesa, percebe-se de imediato o porquê deste desterro: como há-de valorizar um prato quem não faz ideia de como ele se faz, bem feito?
Apesar desta minha preferência pelos ovos “enrolados”, teria muita dificuldade se tivesse de ordenar comparativamente, o meu Top5 das omeletas, de tal modo que aquela que um dia seria primeira, no seguinte seria destronada e um novo apetite elegeria umas das companheiras menos quotadas na véspera. De coentros, de cogumelos silvestres, de espargos bravos, de nada (apenas enrolada a preceito) ou, e será o tema para hoje, de talins.
Os talins são uma preciosidade gustativa que compramos sem querer e deitamos todos os dias para o lixo, isto na época dos grelos, é claro.
O talim é o interior tenro do talo principal dos grelos de nabo. Obtém-se, não deixando que, logo no mercado, o vendedor corte os pés dos grelos para nos aligeirar a carga e tendo a paciência para amanhá-los depois, descascando um a um cada talo, livrando-o da camada filamentosa externa e expondo o interior verde claro e tenríssimo, o talim.
Nem todos os talos de grelo de nabo contêm o precioso talim, o que só acontece na primeira fase da sua vida e é portanto necessário inspeccionar o topo do corte para avaliar da presença, ou não, de talins.
Se o caule se apresentar oco ou preenchido de uma substância branca (os caules da esquerda, na foto)
então o talim já desapareceu e não vale a pena ter trabalho com ele. Se, pelo contrário, se apresentar com o aspecto dos caules da direita (na foto), então há que descascar o caule com cuidado, de modo a obter o talim.
Depois de obtidos, pode conservá-los por dois dias, fechados e no frio.
Com a consistência crocante de um espargo bravo e uma sugestão do sabor do grelo que o originou, o talim constitui uma experiência gustativa única e merece, de forma exuberantemente excedentária, o trabalho que possa ter dado a obter.
Ingredientes:
Talins
Azeite
Alho
Sal e pimenta
Ovos
Preparação:
Parta os talins em troços e salteie-os em azeite, com sal e pimenta e juntos com um dente de alho fatiado.
Assim que tenham perdido o viço, o que acontece em cerca de dois minutos, incorpore-os nos ovos batidos e envolva.
Enrole a omeleta com é seu hábito, tendo o cuidado de não a deixar muito passada, isto é, deve ficar algum ovo, cremoso, por dentro.
Sirva com batatas fritas, azeitonas pretas e salada verde, à parte.
4 comentários:
Gostei de aprender. Obrigada.
Tu é que és o verdadeiro artista!!!!
Depois das maravilhosas bolas de Berlim (ainda não esqueci que comeste todas as 12) apareces com esta omeleta toda enroladinha nos conformes...
Beijinhos.
Esta não me escapa. Obrigado!
E eu a pensar que era a única pessoa a usar os talins. (Embora não lhe desse esse nome). Fantástica estas suas partilhas.
Cumprimento-o, mj
Enviar um comentário