Boquerones são uma das minhas perdições estivais, sendo que os faço de biqueirão como manda a regra, quando os consigo arranjar, e com sardinha as mais das vezes.
Este ano a sardinha anda escassa
e cara e os biqueirões que lhe costumam vir misturados, nem vê-los. Socorri-me
então de um peixe que há muitos anos não provava, pois embora seja muito comum
nas nossas águas costeiras, mercê de alguma superstição e ignorância, não tem
valor comercial e é por isso rejeitado logo no mar ou na descarga e vai borda
fora: o peixe-agulha.
O peixe-agulha é um peixe que não
sendo pescado de propósito, vem frequentemente associado a outras capturas. De
carne firme e muito saborosa, é comido normalmente frito, em troços, se bem que
possa ser feito de muitas outras maneiras. O problema é mesmo encontrá-lo,
fácil para quem tenha acesso a um porto de pesca (em Peniche, a doca fica cheia
dele no chão, quando se descarrega a sardinha) mas muito difícil para quem já
só vê o peixe no mercado. Mesmo assim, ele consegue por vezes furar a
vigilância e lá aparece misturado para raiva do vendedor que trata logo de
deitá-lo fora. A impopularidade do peixe-agulha deve-se a algo tão improvável
como a cor da espinha; é que a espinha do peixe-agulha é azul esverdeada e isso
criou-lhe uma fama popular de coisa tóxica e a rejeitar. Se falar com os
peixeiros da sua praça, o mais provável é que, dos restos, lhe arranjem alguns
peixes-agulha e dados.
A carne do peixe-agulha é muito
firme como a do biqueirão e tanto pode usar a técnica sem salga intermédia,
como lhe disse aqui, como a outra que se usa para a sardinha de que falei aqui.
Sendo peixe de carne firme e densa o resultado final é idêntico.
Ingredientes:
Peixe-agulha
Sal
Vinagre de vinho (rebaixado a 3%
ac. Acético)
Azeite virgem
Alhos
Cebola ou chalota
Pimentos verde e vermelho
Salsa
Pimenta preta moída no momento
Azeitonas, pão, etc.
Preparação:
Eviscere os peixes e retire-lhes
os filetes,
usando para isso a técnica de escalar sardinhas para fritar, com a
unha ao longo da espinha, ou cortando como para filetar um peixe maior. Em qualquer dos casos, mas
mais importante se estiver a usar a faca, deverá evitar cortar as numerosas
espinhas da longa barriga que, se puxadas pela espinha, saem facilmente
agarradas a esta.
Ponha os filetes em água gelada
por uma hora para que percam vestígios de sangue
e depois, se quiser usar o
sistema de salga intermédia, envolva-os em sal grosso durante cerca de uma hora, lave bem em água corrente e cubra-os então com vinagre rebaixado,
que se obtém diluindo vinagre de vinho a 6% em idêntico volume de água. Se não quiser usar esta salga intermédia, passe directamente da água gelada para o banho de vinagre mas este deverá levar sal.
Ao fim de duas a quatro horas, os
seus filetes deverão ter deixado de ter a sua cor rosada de peixe cru e tomado
uma cor branca nacarada, sinal que o cozimento acético está terminado.
6 comentários:
o que eu gosto disto!
Gosto e muito do aspeto!!!
Sabor não sei dizer que nem o imagino...mas estes provava!
Beijinhos.
ADORO peixe agulha frito e as suas ovas fritas?? fantásticas!
Moro na Praia da Vieira (Vieira de Leiria -a 25km de leiria)e realmente é um peixe que ninguém quer vender e dai ninguém comprar. Como imenso, principalmente no verão, devido à Arte xávega que se pratica nesta praia. Obrigada por trazer uma nova abordagem culinária a um peixe que tem tanto de bom, como de desconhecido.
A espécie da foto são maribombos.
Não ultrapassam os 40 cm.
Eu prefiro deliciosos alimados.
No norte chamam-lhe picas e a Propeixe faz conserva muito boa.
Obrigada pela informação. Hoje deparei-me com a situação descrita. Vi um peixe que estava no meio das sardinhas a ser atirado para o balde das tripas. O senhor do peixe ao olhar para a minha cara perguntou-me se o queria. Ele disse-me que estes peixes são sempre deitados fora e que ele nunca comeu um peixe agulha mas o avô que era pescador disse-lhe que para o comer tinha de tirar uma coisa azul. Um peixe com uma coisa azul quem é que resiste a tal mistério? Depois de dissecado não vi coisa nenhuma azul era um peixe como todos os outros. Fiz una pesquisa na net e a única coisa parecida com a descrição era a espinha que tinha uma cor verde-azulada mas nada de perigo para a saúde era mensionado. Finalmente encontei este blogue e todas as dúvidas foram esclarecidas.
Pois, este fim de semana calharam-me logo 2 com cerca 50cm. Cá em casa não tive adeptos, e o resultado foi o lixo pois, a estranheza do azul esverdiado deixou dúvidas. Pena não ter lido isto antes, é assim. Obrigado pelas dicas.
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