sexta-feira, 26 de junho de 2009

"Capitão" ou um cozido do mato

.......Hoje estudam-se as mais diversas cozinhas e seus nichos e sub-nichos, numa procura algo desenfreada de novidade e exotismo para a satisfação de paladares cada vez mais gastos e simultâneamente mais exigentes.
Há, no entanto, uma cozinha que alimentou milhões de jovens e que tem escapado a esse escrutínio como que protegida por um tabu maldito: a cozinha militar e, principalmente, a sua vertente de cozinha de guerra que, ao contrário do que muitos julgam, estava longe de ser constituída por rações de combate.
Durante os penosos 14 anos de guerra colonial, em messes e quartéis de mato ou até em simples acampamentos de campanha, verdadeiros chefs amadores fizeram uma cozinha única, feita literalmente do que havia à mão, do perigo, da imensa saudade da terra deixada e que se recordava num sabor ou num aroma, aqui e ali a aparecer por entre os sabores africanos.

Nunca tive qualquer experiência de guerra ou sequer militar mas um amigo que já partiu e que trouxe dessa guerra maldita, muito a custo a própria vida e mesmo assim tendo lá deixado parte de si, e não estou a falar em sentido figurado, contava-me as histórias do Capitão, um cozido de mato que, dos dois lados de África, era feito com qualquer coisa, tendo por elementos comuns apenas os enchidos que, obrigatoriamente, eram enchidos vindos de Portugal.
.
Ingredientes:
.
Chouriço e Farinheira
Toucinho salgado
Azeite (ou óleo de palma ou outra gordura qualquer)
Cenoura ( ou outra raiz)
Batata (ou mandioca)
Couve
Alho
Sal
.
Preparação:
.
Refoga-se a cenoura no azeite até estar meio cozida.
Junta-se então o chouriço em rodelas muito grossas, o toucinho ás tiras e dois dentes de alho com casca. Mal recomece a estrugir junta-se uma chávena de água e tempera-se de sal.
.
Junta-se então a batata ou mandioca às rodelas, a farinheira com a pele picada e a couve que houver, neste caso usei portuguesa.
Fica a fervinhar até estar bem cozido, com a farinheira no topo, até não se poder mais aguentar a fome...

Nota: quando a coluna partia, metia-se nas mochilas o toucinho amarelo salgado, e os enchidos que houvesse, mandados da "metrópole" ou "puto", que eram os nomes que designavam Portugal continental. Depois, com o que houvesse, se faria o "Capitão" de que o capitão também comia, pois claro!

4 comentários:

Anónimo disse...

Adoro esse tipo de cozido! Ficou tão apetitoso, aqui no Brasil é comum servir com arroz e pirão feito com o caldo do cozimento das verduras e carne engrossado com farinha de mandioca. Muito bom!

kuka disse...

Posso jurar que o aspecto deste cozido não se assemelha, nem de longe, com os cozidos militares.
E os cozinheiros...coitados. Os que sabiam fazer alguma coisa além de massa e feijão, estavam nas messes de oficiais. E não punham os pézinhos no mato.

Luís Pontes disse...

Kuka,
Do aspecto original nada posso dizer, só supor, através da descrição. Infelizmente, já não está entre nós a fonte desta receita, pelo que será sempre para mim uma incerteza.

...nisto de tropas e guerras, como em tudo na vida, terão existido uns poucos com sorte e outros que comeram massa com feijão! :-)

rosa disse...

Minha Mãe fazia "capitão", mas de outro regimento!

Eram fatias de pão cololadas em pirex de ir ao forno cobertas de fiambre e queijo. Tudo era regado com ovos mexidos com leite e temperados de modo a que a miudagem comesse. Quando estava loirinho e seco acompanhava com grelos cozidos.

Era um belo petisco.