terça-feira, 14 de setembro de 2010

GREENPEACE - Comunicado 13 Setembro 2010


Em Julho, a Greenpeace em Portugal divulgou a expedição do navio Esperanza ao Oceano Árctico, um dos últimos redutos de biodiversidade do planeta, e onde se pesca entre outros peixes, o bacalhau. Esta viagem serviu de pretexto para divulgar o estado dos stocks de bacalhau, incluindo o stock do Mar de Barents na fronteira do Árctico, e para informar sobre a sustentabilidade da pesca deste peixe histórico que representa mais de um terço de todo o pescado consumido em Portugal.

O bacalhau do Atlântico foi durante vários séculos um dos negócios mais lucrativos para a indústria pesqueira portuguesa.
No entanto, hoje, os poucos navios que restam da nossa grande frota bacalhoeira contribuem em apenas 2% para o total consumido no nosso país.
A sobrepesca persistente, que motivou as chamadas “guerras do bacalhau” entre a Islândia e o Reino Unido e culminou no dramático colapso da pesca do bacalhau no Canadá, obrigou os países gestores dos stocks de bacalhau a emitir quotas cada vez mais restritivas.
A maioria dos 16 stocks comerciais de bacalhau do Atlântico encontram-se actualmente sobreexplorados. As únicas excepções são os stocks da Islândia, Báltico Este e Nordeste Árctico (Mar de Barents), sendo que o Mar de Barents dá abrigo ao último dos grandes stocks históricos de bacalhau. Mas, mesmo nas zonas onde a sobrepesca deixou de ser uma ameaça imediata, o bacalhau não tem descanso, enfrentando as consequências da técnica de pesca mais nociva para os ecossistemas: a pesca de arrasto de fundo.
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Qual a origem do bacalhau que consumimos?
Para complementar a informação disponível sobre o estado do bacalhau do Atlântico, a Greenpeace pediu aos retalhistas incluídos no Ranking anual de sustentabilidade do pescado, para enviar dados sobre os stocks, métodos de pesca e de processamento relativos ao bacalhau que comercializam.
Dos seis retalhistas abordados, apenas os que já possuem uma política de pescado responsável - Lidl, Sonae, Auchan e Dia - colaboraram com o inquérito cujos resultados confirmam que o bacalhau mais popular em Portugal é proveniente do Mar de Barents.
Menos de 10% do bacalhau nestas cadeias de supermercados vem de zonas de pesca sobreexploradas como o Mar do Norte ou a Costa da Noruega.
No entanto, em média cerca de 30% do bacalhau ainda provém da pesca de arrasto de fundo. Este método de pesca pouco selectivo desperdiça pelo menos metade das capturas e danifica o fundo dos oceanos, resultando inclusive num produto de qualidade inferior. Mais de 50% do bacalhau congelado é capturado através da pesca de arrasto de fundo.
O inquérito revelou também que o bacalhau nos chega maioritariamente sob forma de 'bacalhau verde' (fresco e salgado) para depois ser secado em território português, onde, graças aos muitos dias de sol, se consegue obter a muito procurada “cura amarela”, com uma pequena percentagem secada em Espanha ou na Noruega.
Os quatro retalhistas que participaram no inquérito demonstram interesse em melhorar a informação disponível ao consumidor sobre a proveniência e método de captura do bacalhau que vendem. Uma vez que o bacalhau pescado à linha de mão ou outras artes de pesca tradicionais como o cerco dinamarquês resulta geralmente num produto de qualidade superior e com melhores garantias de sustentabilidade, todos terão a ganhar com informação mais completa!
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O que posso fazer para preservar o bacalhau para futuras gerações?
Como consumidores podemos ajudar a melhorar a sustentabilidade do bacalhau vendido em Portugal. Para tal, devemos:
- comprar apenas bacalhau do Atlântico proveniente do Mar de Barents, Islândia ou Báltico Este,
- evitar bacalhau capturado através da pesca do arrasto de fundo.


Nota: o bacalhau do Pacífico, que representa entre 35 a 45% do bacalhau à venda em Portugal, também constitui uma boa alternativa, desde que não capturado com arrasto de fundo.
Se estas informações não constam da etiqueta do produto, solicita-as ao supermercado.

1 comentário:

mariam. disse...

Obrigada pela informação. É "chata" mas faz falta. Se não tomamos consciencia de "onde vem" e "como" o que pomos na mesa, daqui a pouco nao sobra nada e nao valeu a pena manter vivas as receitas tradicionais.É preciso arranjarmos tempo pacientemente para esperarmos que o supermercado nos dê a informação complementar que pedimos - se é isso que é preciso, para que haja futuro pra todos nós.