segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Fontanário de Pegões 1998 e Tibornada

............... Por vezes parece que isto de se saber quem acompanha quem, não tem importância, mas tem.
Por aqui, onde desde sempre os vinhos foram acompanhantes, escolhe-se sim um vinho para a comida. Até este domingo!
Este bacalhau à lagareiro, prato que não concebo com outro vinho que não seja um tinto sem frescuras nem ardores de juventude, foi feito para acompanhar um vinho muito mas mesmo muito especial, o Fontanário de Pegões de 1998.
Feito em 1998 pelo enólogo referência para os vinhos da península de Setúbal, eng. Jaime Quendera, para a Adega Cooperativa de Pegões e com 100% Castelão e 13º de álcool, este varietal saiu há muito do mercado e, se o achei foi por um desses acasos que às vezes fazem um de nós acertar numa lotaria: descobriram na adega, esquecidas, umas caixas deste néctar que ninguém sabia ali terem ficado e estão agora na wineshop da adega, em Pegões.
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Comprei a medo, desconfiado do que poderia ter acontecido em tão grande espera, pouco ajudado por um contrarrótulo indigente e a refletir o que era a comunicação numa adega há 12 anos.
A abertura revelou uma rolha em fim de vida mas que resistiu e conservou um vinho esplendoroso com uma cor que aqui
tentei captar e que após decantação algo prolongada* se revelou numa complexidade de aromas e maturidade que me fez correr hoje a reservar uma caixa, por telefone, que aquilo é tesouro que acaba em qualquer momento.
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O acompanhamento deste castelão memorável foi um bacalhau à lagareiro, que já aqui vos descrevi sob o nome de Tibornada
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e que teve como nota especial a fritura muito lenta dos alhos fatiados, até à sua total dissecação, os que os deixou estaladiços e deliciosos.
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Nota:* Quando se abre a garrafa e se prova logo, receia-se o pior. O vinho parece estar "morto" e, um quarto de hora depois ainda não abriu. Não se preocupe e deixe o decanter trabalhar; ao aproximar-se da hora, este castelão explode numa sinfonia a pedir fervor religioso a cada gole.
Felizmente tinha-o aberto bastante antes, senão teria de ser bebido com a sobremesa.

2 comentários:

cupido disse...

Lembro-me bem do Fontanário de Pegões. No início dos anos 90 era feito por João Portugal Ramos e na colheita de 2002 foi do que melhor se fez na Região. Este 1998 foi um dos vinhos que me fez despertar para a enofilia.
Servir vinhos com alguma idade tem sempre alguns riscos. Alguns parecem mortos e precisam de ser decantados e de tempo para "abrirem" enquanto outros agradecem que não se mexa muito com eles. Varia de vinho para vinho e de garrafa para garrafa e não há regras. Claro que se as garrafas ficaram "esquecidas" na adega, não devem ter levado com luz nem alterações de temperatura, o que é sempre muito bom para a saude do vinho.

Claro que deve ter sido uma bela companhia para a tibornada, que como referiste, é um prato de festa.

anna disse...

Lá fui eu até Maio de 2009 ver como se faz a Tibornada... só a provei, uma vez, na Feira Gastronómica de Santarém e digo-te que não tinha nem de longe o aspecto da tua....
Gostei das tuas considerações sobre o Garficopo, também detestei o muro de silêncio e o Amândio bem o sabe...
Vocês dois têm os meus blogs preferidos, direi mesmo de referência, onde tenho de passar todos os dias, para »beber» um pouco do vosso conhecimento e generosidade em partilhá-lo....
Beijinhos.