........................ Quando há uma semana, movido pela necessidade de arranjar tema para esta 17ª Trilogia com a Ana e o Cupido me lembrei de Slow Food (acabara de redigir o post sobre Santamaria), tinha ainda a ideia vaga de Slow Food ser uma corrente que, por oposição a fast food, comia e cozinhava devagar, algo relacionado com longos cozinhados e refeições molengonas.
Descobri afinal que Slow Food é muito, muito mais: movimento nascido em 1989 , o Slow Food acredita que o prazer de saborear boa comida e vinhos excelentes deve ser combinado com esforços para preservar os inumeráveis queijos tradicionais, cereais, vegetais, frutas e raças animais que estão a desaparecer devido ao predomínio de refeições rápidas e do agronegócio.
"Um firme empenho na defesa da tranquilidade é a única forma de opor a loucura universal da Fast Life. Que nos sejam garantidas doses apropriadas de prazer sensual e que o gozo lento e duradouro nos preserve do contágio da multidão que confunde frenesim com eficiência". Esta frase, que resume afinal a posição de sempre deste blog e que faz parte do Manifesto do movimento Slow Food foi a que despoletou então a lembrança de um prato de que vos falei há anos no Comidas Caseiras e que pela verdadeira sinfonia sensual que constitui a sua degustação (e preparação) é o exemplo perfeito de uma refeição Slow Food.
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.Ingredientes (3-4 pessoas):
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1 kg de borrego nacional, de pasto
Sal marinho integral
Pimenta preta
Alhos e louro
40g de banha de porco
0,75l de vinho branco seco
0,75Kg de batatas
30g de manteiga
Orégãos secos
Espinafres
Fio de azeite
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Preparação:
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Qualquer parte do borrego serve para esta preparação, sendo as melhores as costelas e as costeletas. Neste caso usei pá, cachaço e costelas (peito), mas também se pode fazer com perna ou mão; este prato vive da técnica de confeção, mais que da qualidade da carne e pode ser feito também com qualquer outra carne apropriada para fritar (ave, porco, etc.).
Desosse a carne dos ossos grandes, e parta-a em bifinhos finos, pedaços de peito, etc.
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Tempere com sal, pimenta, alhos cortados ao meio e louro e deixe por 1 hora.
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Frite a carne rapidamente em lume muito forte e banha.
. Quando estiver selada, adicione cerca de meio copo de vinho branco, passe o calor para médio e deixe evaporar completamente o vinho até a carne
. recomeçar a fritar apenas na gordura, altura em junta mais meio copo de vinho
. e por aí em diante, virando a carne, tendo o cuidado de deixar sempre caramelizar um pouco antes de juntar a nova dose de vinho, até que, cerca de uma hora depois ou um pouco mais, a garrafa de vinho está esgotada e fará uma última adição de meio copo de água, as metades de alho desapareceram
. e a cozinha (e a casa) está pefumada com um aroma único que pôs todos os seus mediadores químicos do prazer em alerta máximo, preparados para o transe que se segue: a degustação.
Deixe apenas evaporar metade dessa última adição de água, de modo a que todo o caramelo fique perfeitamente levantado e sirva com um puré de batata natural, feito espremendo batatas cozidas em água e sal e derretendo sobre os fiapos espremidos a manteiga, juntando orégãos com generosidade e alguma pimenta,
, mexa bem e apresente assim mesmo ou em quenelles. Espinafres salteados rapidamente num fio de azeite aromatizado com um dente de alho e temperado ao de leve com sal e pimenta ficam também muito bem.
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Coma e beba devagar para aproveitar em pleno o privilégio deste sabor único da carne frita em vinho e também o vinho que escolher para a companhia. Eu bebi o Alvarinho Pingo Doce 2010, de Anselmo Mendes (3.99€),
, que é uma explosão de fruta e de brincadeiras no palato, se se beber devagar (Slow Drink). Não será um Soalheiro Primeiras Vinhas (Vinho do Ano da Wine Essência do Vinho) mas também não custa 15€ a garrafa.
Nota:
Saiba mais sobre o movimento Slow Food em:
7 comentários:
Luís Pontes (desculpe a familiaridade)
As suas receitas são extraordinárias. Eu, que não sou apreciador de carne em geral, fiquei com vontade de reproduzir este prato. Boas fotos, boa explicação e muita vontade de nos cativar. Além do mais, comida portuguesa, simples e sempre, sempre de conforto. Fácil de fazermos em casa para a família. Até a sua apresentação é familiar (entenda esta asserção como um grande elogio).Sigo com muita atenção o seu blog.
Cumprimentos
Carlos Costa
Gostei muito do tema e mais ainda da tua preparação. Fui ver o teu post no "Comidas Caseiras" e realmente a coisa com fotos torna-se muito mais apelativa. Fiquei muito curioso com este borrego.
O PD Anselmo Mendes 2010 está num muito bom plano, para o preço. É sempre um dilema escolher um destes 3 vinhos, o Alvarinho PD a 4 euros, o Deu-la-deu a quase 6 e o Soalheiro a 8. Fazendo a conta a gastar mais um bocadito, a vontade é ir ao Soalheiro e fazendo a conta ao contrário, o Soalheiro custa o dobro. Opções difíceis.
Já provei o Soalheiro Primeiras Vinhas 2009 e está um belo vinho, talvez o melhor dos PV. E o preço nem é muito alto, se o compararmos com vinhos que andam aí a custar 25 euros e que não dão tanto prazer.
Bela trilogia, vamos à próxima.
Ainda bem que me sobraram costelas e costeletas de borrego... assim vou poder experimentar este teu, muito em breve.
Deste-me que fazer com esta 17ª!!!!
Penso que acabo bem... venha a próxima, de lá de cima do Douro.
Beijinhos.
Excelente proposta!
hummmm deve realmente ser delicioso! Parabéns pelo blog, ja me inspirou varias vezes!!! :)
Um blog com receitas maravilhosas!!! Tudo confeccionado com enorme gosto, é isso que gosto de ver quando visito os sites!!
Cump.
Sónia Meirinho
fiz hoje aproveitando dois peitos de borrego, ficou maravilhoso. optei foi pelas mais simples batatas assadas com alecrim.
seja como for, obrigado pela receita. recomendo!
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