E no entanto, como é recente a sua introdução nos nossos hábitos!
Originária da cordilheira andina, com especial notoriedade no Peru, foi introduzida em Espanha no Sec.XVI onde se manteve como curiosidade exótica durante mais de dois séculos, tendo mesmo chegado a ser perseguida pela Inquisição, acusada do magno crime de ser “alimento do Diabo” por não ser nunca mencionada na Bíblia.
Em Portugal, teria sido introduzida em 1760 (embora não seja certo que se tratasse de batata ou de batata-doce) e a primeira referência culinária que se lhe conhece, aparece, tímida, em 1780 no livro de Lucas Rigaud.
Só no sec XIX, portanto a uma distância de 3 ou 4 gerações, o seu consumo se generaliza, aproveitando a brecha causada por uma terrível doença que dizimou grandes áreas de cultivo de castanha, alimento base muitíssimo importante até então.
Do mesmo modo que é difícil imaginar bacalhau sem a companhia das batatas, também a alheira, esse enchido tão sui generis, parece reclamar a batata para se completar e valorizar. Para esta 29ª trilogia com a Ana e o Cupido, em que o tema é precisamente “Batata”, resolvi construir de um modo diferente esse ícone da nossa cozinha popular transmontana, as alheiras com batatas e grelos.
Ingredientes (para 3 pessoas):
3 batatas grandes, novas
3 alheiras
1 molho de grelos de nabo
Azeite
Sal e pimenta
Preparação:
Corte uma tampa às batatas e vaze-as com o auxílio de um instrumento apropriado ou, na falta, com uma colher de sobremesa que tenha os bordos finos.
Deve deixar cerca de 1,5 cm de espessura das paredes e pode guardar o miolo retirado, dentro de água, para aproveitar para uma sopa ou puré.
Cubra as batatas escavadas com água fria e leve-as ao lume, com sal,
deixando ferver por cerca de 10 minutos. Escorra.
Preencha as cavidades das batatas com massa de alheira, uma alheira por cada batata* , salpique com pimenta e disponha numa assadeira. Regue tudo com um fio de azeite e leve a forno quente (180-190ºC) durante 30 a 40 minutos.
Disponha em redor das batatas os grelos de nabo que entretanto salteou rapidamente em azeite
e leve de novo ao forno por mais 10minutos, de modo a que a gordura da alheira impregne bem a batata.
* Se não arranjou batatas de tamanho suficiente para que cada uma leve uma alheira dentro, claro que pode dividi-la por duas batatas mais pequenas, embora não tenha a mesma graça.
... e assim se fez esta 29ª Trilogia, sendo a mando do Cupido que completaremos a terceira década; para a semana!
10 comentários:
Ficou uma delicia, e com boa apresentação. :))
Hummm, estás batatas ficaram com uma apresentação magnifica e o sabor deve ser delicioso...
Que ótima maneira de preparar e servir (lindamente) este trio perfeito (batata+alheira+grelos)
Até consigo imaginar a operação «escavar batatas cruas»... mas valeu bem a pena pelo maravilhoso resultado.
Foi uma belíssima trilogia esta, não achaste?
Beijinhos.
Olá, Luís
Acabei de comer umas costeletas de porco feitas à maneira da sua mãe (tirei a receita do outro blogue); ficaram mesmo muito boas.
Devo acrescentar que é uma enorme prazer ler o seus blogues - não só porque os pormenores de confeção são de uma riqueza ímpar, mas porque as histórias que envolvem cada receita são tão apetitosas como as sugestões grastronómicas que nos oferece.
Descobri este blogue agora; vou explorá-lo.
Quem parte, reparte e não fica com a melhor parte ou é tolo ou não tem arte.
Traduzindo, é substituir o verbo partir prlo verbo (re)desconstruir.
Bela trilogia.
Gosto imenso de batatas recheadas, mas costumo recheá-las depois de cozidas ou assadas. Cruas nunca experimentei, mas gostei.
mais uma espectacular reintrepretação desse prato genial!
parabéns!
estou aqui "a partir a cabeça" sobre a forma de introduzir o clássico ovinho... :) se me ocorrer retorno.
histórias curiosas sobre a batata, a sua introdução na alemanha. Não me lembro onde vi, mas suponho que seja encontrável com uma procura simples.
Uma excelente ideia. Por acaso costumava comer isto mas com farinheira no recheio, porque não gosto de alheira, os grelos é que fazem um óptimo acompanhamento. Nunca me tinha lembrado.
que belas batatinhas:-)
beijinhos
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