Para hoje, em que esta 167ª Trilogia me porá, mais a Ana e o Amândio, à volta do tema “ Comeres
daqui e dali”, nada melhor do que “rojões”, de que será hoje tratada a
variante “daqui”, já que para a “dali” faltam cá por Lisboa as tripas
enfarinhadas.
Quando ouve falar de rojões,
há-de o ouvinte ter cautela, pois se muitas vezes se refere a esse delicioso
prato nortenho com a sua carne, o sangue e as tripas enfarinhadas, também se
pode estar a falar de um outro, cada vez menos frequente, esse magnífico método
de conservar as mais nobres partes do porco, do tempo em que não havia frio e
em que se usavam as propriedades isolantes da própria gordura do porco para
fazer uma conserva sui generis e, ao
mesmo tempo, uma carne espantosa.
Curiosamente, quando hoje nos
maravilhamos com essas modernas técnicas culinárias a que chamamos "cocção
lenta" e "confitados", não nos ocorre que desde tempos
imemoriais, nas cozinhas da planície alentejana, eram as técnicas utilizadas
para fazer os rojões que iriam passar muitos meses, às vezes até à matança do
ano seguinte, imersos no seu banho sólido de rescendente banha.
Ingredientes:
Carne de porco (perna, lombo,
lombinhos)
Banha de porco
Vinha de alhos
Preparação:
Prepare banha de porco a partir
da banha em rama (a que envolve os rins), ou adquira-a já preparada.
Corte a carne em pedaços grandes,
com a volumetria aproximada de uma bola de golfe.
Faça uma vinha de alhos com sal,
pimenta, louro, alhos esmagados com a sua casca e pimentão-doce, se desejar que
os rojões fiquem conservados em banha de cor. Se quiser a banha branca, não
ponha o pimentão. Junte à carne cortada,
humedeça esta vinha de alhos com um
golpe de vinagre de vinho, envolva bem e reserve por vinte e quatro horas.
Frite alguns pedaços de cada vez,
rapidamente, numa pequena quantidade de banha e com lume muito forte, de modo a
que fiquem louros todo à volta mas totalmente crus por dentro.
Vá retirando e
arrume-os num tacho fundode modo a que preencham todo o espaço disponível.
Vaze sobre eles a banha onde os
fritou e ponha então uma quantidade de banha que, ao fundir, permita cobrir
totalmente a carne.
Leve ao lume mais fraco de que
disponha durante três horas, de modo a que apenas haja um ou outro borbulhar.
O
ideal é que a temperatura se mantenha à volta de 80ºC durante este tempo.
No fim das três horas de cocção
lenta, o confitado está pronto e a carne tenríssima. Levante a temperatura
durante breves minutos de modo a que, então, frite francamente e forme uma cor
uniforme,
arrume então os pedaços num recipiente de barro ou vidroe cubra-os com a banha bem quente.
Deixe esfriar completamente, cubra com película aderente para evitar qualquer ranço se for guardar por muitos meses.
No momento de servir, retire
alguns rojões* indo até ao fundo
para levar também o delicioso depósito, aqueça-os numa frigideira e acompanhe a
seu gosto. Aqui, usei umas migas de pão alentejano temperadas com um pouco do
molho e grelos cozidos.
Nota: * Depois de retirar parte dos rojões, se pensa utilizar o
resto dentro de alguns dias, uma semana, basta cobri-los de novo com a banha, a
frio. Se quiser guardar por mais tempo depois da primeira abertura, deve
aquecer de novo o recipiente, fundir a banha e assegurar-se que toda a carne
fica de novo tapada.
8 comentários:
que maravilha de sabor e saber
Comi tripas enfarinhadas nuns rojões em Ponte de Lime e não fiquei nada fã...
Pois estes, Ana, são os que não têm tripas enfarinhadas! :-)
Adoro isto, no Algarve também se faz. Gosto sobretudo sem aquecer, passo um pouco da banha fria no pão e a carne cortada por cima. Delicioso! !!
Adoro isto, no Algarve também se faz. Gosto sobretudo sem aquecer, passo um pouco da banha fria no pão e a carne cortada por cima. Delicioso! !!
Luis, aqui no Brasil, é conhecida como 'carna na lata', pois é acondicionada em latas. Muito comum no interior dos estados de Minas Gerais e de São Paulo.
Parabens pelo excelente Blogue que descobri a procura de ftos de Rojões de pingue. Utilizei as suas fotos no nosso grupo do Facebook "Talvez jantes........" mencionando a origem. muito boa qualidade do Bloque, mais uma vez parabens
Gostei imenso deste seu blogue e desta receita. Vivo há muitos anos no norte de Portugal, mas a minha avó, que era de Lisboa, fazia assim os rojões. E ainda me lembro de eles estarem na despensa, dentro do seu tacho de barro. e eu, de vez em quando, ia buscar um e comia-o... no pão! Acabo de fazer a sua receita e estou ansiosa por os provar....
Muitos parabéns e obrigada.
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