quarta-feira, 22 de março de 2017

Rojões, um "confit" português (Trilogia 167)

                   Para hoje, em que esta 167ª Trilogia me porá, mais a Ana e o Amândio, à volta do tema “ Comeres daqui e dali”, nada melhor do que “rojões”, de que será hoje tratada a variante “daqui”, já que para a “dali” faltam cá por Lisboa as tripas enfarinhadas.
Quando ouve falar de rojões, há-de o ouvinte ter cautela, pois se muitas vezes se refere a esse delicioso prato nortenho com a sua carne, o sangue e as tripas enfarinhadas, também se pode estar a falar de um outro, cada vez menos frequente, esse magnífico método de conservar as mais nobres partes do porco, do tempo em que não havia frio e em que se usavam as propriedades isolantes da própria gordura do porco para fazer uma conserva sui generis e, ao mesmo tempo, uma carne espantosa.
Curiosamente, quando hoje nos maravilhamos com essas modernas técnicas culinárias a que chamamos "cocção lenta" e "confitados", não nos ocorre que desde tempos imemoriais, nas cozinhas da planície alentejana, eram as técnicas utilizadas para fazer os rojões que iriam passar muitos meses, às vezes até à matança do ano seguinte, imersos no seu banho sólido de rescendente banha.

Ingredientes:

Carne de porco (perna, lombo, lombinhos)
Banha de porco
Vinha de alhos

Preparação:

Prepare banha de porco a partir da banha em rama (a que envolve os rins), ou adquira-a já preparada.

Corte a carne em pedaços grandes, com a volumetria aproximada de uma bola de golfe.

Faça uma vinha de alhos com sal, pimenta, louro, alhos esmagados com a sua casca e pimentão-doce, se desejar que os rojões fiquem conservados em banha de cor. Se quiser a banha branca, não ponha o pimentão. Junte à carne cortada,
humedeça esta vinha de alhos com um golpe de vinagre de vinho, envolva bem e reserve por vinte e quatro horas.
Frite alguns pedaços de cada vez, rapidamente, numa pequena quantidade de banha e com lume muito forte, de modo a que fiquem louros todo à volta mas totalmente crus por dentro.
Vá retirando e arrume-os num tacho fundo
de modo a que preencham todo o espaço disponível.
Vaze sobre eles a banha onde os fritou e ponha então uma quantidade de banha que, ao fundir, permita cobrir totalmente a carne.

Leve ao lume mais fraco de que disponha durante três horas, de modo a que apenas haja um ou outro borbulhar.
O ideal é que a temperatura se mantenha à volta de 80ºC durante este tempo.
No fim das três horas de cocção lenta, o confitado está pronto e a carne tenríssima. Levante a temperatura durante breves minutos de modo a que, então, frite francamente e forme uma cor uniforme,
arrume então os pedaços num recipiente de barro ou vidro
e cubra-os com a banha bem quente.
Deixe esfriar completamente, cubra com película aderente para evitar qualquer ranço se for guardar por muitos meses.
No momento de servir, retire alguns rojões* indo até ao fundo para levar também o delicioso depósito, aqueça-os numa frigideira e acompanhe a seu gosto. Aqui, usei umas migas de pão alentejano temperadas com um pouco do molho e grelos cozidos.


Nota: * Depois de retirar parte dos rojões, se pensa utilizar o resto dentro de alguns dias, uma semana, basta cobri-los de novo com a banha, a frio. Se quiser guardar por mais tempo depois da primeira abertura, deve aquecer de novo o recipiente, fundir a banha e assegurar-se que toda a carne fica de novo tapada.

8 comentários:

jp diniz disse...

que maravilha de sabor e saber

Anna disse...

Comi tripas enfarinhadas nuns rojões em Ponte de Lime e não fiquei nada fã...

Luís Pontes disse...

Pois estes, Ana, são os que não têm tripas enfarinhadas! :-)

Unknown disse...

Adoro isto, no Algarve também se faz. Gosto sobretudo sem aquecer, passo um pouco da banha fria no pão e a carne cortada por cima. Delicioso! !!

Unknown disse...

Adoro isto, no Algarve também se faz. Gosto sobretudo sem aquecer, passo um pouco da banha fria no pão e a carne cortada por cima. Delicioso! !!

Maria Glória disse...

Luis, aqui no Brasil, é conhecida como 'carna na lata', pois é acondicionada em latas. Muito comum no interior dos estados de Minas Gerais e de São Paulo.

Drago3 disse...

Parabens pelo excelente Blogue que descobri a procura de ftos de Rojões de pingue. Utilizei as suas fotos no nosso grupo do Facebook "Talvez jantes........" mencionando a origem. muito boa qualidade do Bloque, mais uma vez parabens

ana luisa amaral disse...

Gostei imenso deste seu blogue e desta receita. Vivo há muitos anos no norte de Portugal, mas a minha avó, que era de Lisboa, fazia assim os rojões. E ainda me lembro de eles estarem na despensa, dentro do seu tacho de barro. e eu, de vez em quando, ia buscar um e comia-o... no pão! Acabo de fazer a sua receita e estou ansiosa por os provar....
Muitos parabéns e obrigada.