Quem me conhece sabe bem que
a par da evidente irreverência com que utilizo a tradição para construir a
minha cozinha, num desrespeito permanente por cânones e receitas que raia por
vezes a iconoclastia, também sou inflexível no respeito absoluto pelos direitos
daqueles pratos que ganharam um nome, uma regra e uma fama que a esse nome
pertence.
É esta significação, esta correspondência
quase sagrada entre o nome e o seu significado, que fazem do Bacalhau à Brás
feito com batatas de pacote ou da Carne às Mercês servida com batatas fritas,
umas aberrações inqualificáveis, não tanto a variação do prato, sempre
legítima, mas a usurpação do nome.
Com o Bolo-Rei, entramos
decididamente no reino da pouca-vergonha: surgem agora por todo o lado as mais
inenarráveis “criações”, todas com o real nome acoplado, ele é o “desmanchado”,
o “alongado”, com chocolate, com gila, ontem vi o “conventual”, uma espécie de
bolo-rei com recheio igual ao do Pão de Rala… lamentável a falta de escrúpulos
deste marketing espertalhão, todos a
quererem ganhar mais uns trocos colando qualquer coisa a reboque do nome
tradicional.
Eu faço o meu bolo-rei, como
aliás tudo o resto para esta quadra, pois há muito que entendo o Natal como uma
liturgia de afectos à volta da família, da gastronomia e da cozinha. Assim:
Ingredientes (para 2 bolos grandes):
1,2 Kg de farinha 55
40g de fermento fresco
220g de manteiga
1 dl de leite
1,5dl de Vinho do Porto
2 colheres de sopa de brandy ou
Cognac
300g de açúcar amarelo
250g de frutos cristalizados em
cubinhos
100g de frutos cristalizados inteiros,
para decorar
200g de frutos secos
5 ovos
Raspas de 1 laranja e 1 limão
1 colher de chá de sal
2 gemas
Geleia de marmelo
Preparação:
Macere por algumas horas as
frutas cristalizadas em vinho do Porto.
Dissolva o fermento no leite
morno junte o sal e amasse com uma chávena de farinha. Deixe levedar por 15
minutos, durante os quais irá bater a manteiga amolecida com o açúcar, depois
juntar um a um os ovos, mexendo sempre para incorporar, as raspas e o cognac.
Junte por fim a massa levedada e o resto da farinha. Amasse até obter uma massa
muito firme e incorpore a fruta cristalizada escorrida e os frutos secos.
Divida a massa pelo número de
bolos que pretender, enfarinhe e deixe a levedar até dobrar de volume, o que
levará cerca de 5-6 horas.
Forme os bolos,
fazendo um buraco a meio da bola ou alongando-a e unindo as pontas humedecidas
para colarem melhor,
coloque no tabuleiro em que irão ao forno, introduza
brinde e fava se quiser, decore com frutos secos e cristalizados, coloque no
buraco uma lata ou frasco, de modo a que o buraco não feche e deixe a levedar
de novo mais duas horas ou até dobrar o volume.
Pincele com as
gemas batidas e leve a forno médio (170-180ºC) durante cerca de 40 minutos.
Pincele logo o
bolo, enquanto muito quente, com geleia de marmelo diluída em água, de modo a
que fique brilhante e acabe a decoração com açúcar em pó.
Além de
excelente, este bolo-rei que fazemos exactamente como queremos e gostamos, fica
por um preço normal para um bolo, uma ínfima parte das exorbitâncias que nos
cobram por qualquer bolo minimamente aceitável.
A todos os leitores do Outras Comidas,
desejo um Natal à medida dos vossos desejos, com mais ou menos religião, com
mais ou menos prendas e doces, mas em que não faltem os afectos, boa
vontade e, naturalmente, a vossa Cozinha.
4 comentários:
Obrigada por lembrares o verdadeiro significado do natal...
Que este natal seja carregado de afetos e mimos...
Beijos.
Na minha mesa de Natal, vai ser apresentado um bolo com esta fórmula!
Obrigado por partilhar o Natal.
Olá ...belo bolo rei...não consigo fazer com que meu isco levede de uma receita que tenho com isco ...e tenho o em cima salamandra pellets que marca 20.5°já tenho 3 H k se passará pesei tudo direitinho não sei que se passa?podia ajudar me faz favor
E que bonito ficou...Boas festas!
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