Quando
há já dez anos aqui reeditei um outro post mais antigo, ainda do tempo
do Comidas Caseiras, sobre a preparação de caracóis, estava longe de
imaginar que se iria tornar no segundo mais visitado* do Outras Comidas
e de longe o mais citado, utilizado e plagiado** por outras publicações desta
área, quer no espaço virtual, quer em papel.
Nessa
já longínqua publicação, fazia, pela primeira vez entre nós, uma súmula/revisão
de todos os aspectos relevantes relacionados com os caracóis, desde a aquisição
ao prato, passando até por aspectos geralmente ignorados da sua biologia.
Na
verdade, apenas um assunto, até hoje tabu, ensombrava este petisco e se para
muitos, menos exigentes, nem se notava, já para outros como eu, havia sempre
uma mancha a pairar num prato de caracóis: Os mortos não detectados, os
doentes, os moribundos, os parasitados, os putrefactos! Todos aqueles caracóis
que acabavam fervidos e cozidos no meio dos outros, as cascas vazias e os
corpos ressequidos e escuros que, apesar de os rejeitarmos no prato,
deixavam um rasto de podridão no caldo
da confecção. Quem quer sorver com delícia ou até molhar um pedaço de pão no
caldo onde se cozinharam animais podres? Basta que apareça uma casca vazia!
Normalmente,
os problemas insolúveis têm soluções “ovo de Colombo” e este não é excepção.
Demorou dez anos a resolver, e na verdade apareceu resolvido sob a forma de uma
travessa de caracóis em que não havia UM SÓ defeituoso, um só “morto”, uma só
casca vazia, isto num simples e improvável café de beira de estrada em Alcácer
do Sal***, a Tasca do Chico Zé!
Perguntado
o próprio Chico Zé, que não é pessoa de “caixinhas” ou segredos, a resposta
veio, cristalina: - Não há mortos porque são caracóis subidos…se subiram era
porque estavam vivos, não é? Se estiverem mortos, não são capazes de subir!
É
então assim…
Preparação:
Na
véspera do petisco, à noite, pegue no saco de rede
em que normalmente se
adquirem os caracóis e, sem mais observações ou escolhas, mergulhe o saco
durante uns segundos em água,escorra e ponha-os num recipiente baixo,
cobrindo este com algo que os impeça de fugir. Queremos que eles fujam do recipiente, não queremos que se espalhem pela sua casa ou jardim. Eu usei um balde velho, invertido sobre o prato largo que continha os caracóis.
Deixe
para o dia seguinte.
Na
manhã seguinte, levante a cobertura e verá que os caracóis que estavam vivos,
fugiram do prato e estão agora “subidos” e agarrados às paredes e fundo da
cobertura.
No prato, ficaram os que não conseguiram fugir: mortos, doentes e
estropiados!
O
seguimento, quanto a lavagem e confecção é como se disse aqui.
*O primeiro é sobre curtimenta de azeitonas.
** Os plágios, cópias ou
outras utilizações não autorizadas das publicações no Outras Comidas, longe de
me incomodarem, são até um estímulo: que melhor reconhecimento da qualidade do
meu trabalho, que ver alguém a apresentá-lo como seu?
*** Tasca do Chico Zé, Rua do
Poço, 20. Alcácer do Sal.