As Trilogias estão de volta, com os mesmos actores de
sempre, a Ana de Cozinha com a Anna, o Cupido de Garficopo e este vosso cozinheiro-escriba, eu mesmo!
Depois de uma interrupção de quase quatro anos (as Trilogias iniciais decorreram entre 2010 e 2013), as saudades foram mais fortes que o conforto da inacção e aí estamos hoje a iniciar uma nova série, nos três blogues às Quartas-Feiras, com a Trilogia nº159 a que o Cupido atribuiu o tema “Empadas, empadinhas e empadões”.
Depois de uma interrupção de quase quatro anos (as Trilogias iniciais decorreram entre 2010 e 2013), as saudades foram mais fortes que o conforto da inacção e aí estamos hoje a iniciar uma nova série, nos três blogues às Quartas-Feiras, com a Trilogia nº159 a que o Cupido atribuiu o tema “Empadas, empadinhas e empadões”.
O decoro, para já não falar da humildade,
virtude definitivamente desvalorizada, aconselharia a alguma
prudência quando, em cozinha, se emprega a palavra “criação”. É que a inventiva é infinita mas modesta
nestas coisas dos comeres e quase sempre aquilo que alguma restauração da moda
e da televisão reclama como criação sua, não é mais do que recriação do que se
fez e faz em cozinhas familiares, local de eleição onde, todos os dias e no
anonimato, se constrói a tradição viva da cozinha de um povo.
O caso das empadas de cozido, que hoje existem por todo o
lado, a reboque de uma “criação” ruidosamente mediatizada, é um exemplo paradigmático
dessa grande falta de decoro e humildade. Conheço esse aproveitamento há
décadas, era uma das inúmeras maneiras que a minha mãe usava para aproveitar os
restos, às vezes imensos, de cada cozido à portuguesa.
Sem qualquer pretensão de registo ou de originalidade, a
primeira referência escrita, que eu conheça, a uma empadinha de cozido à
portuguesa, deixei-a aqui no Outras Comidas no dia 4 de Novembro de 2010:
É de empadas e empadinhas de cozido à portuguesa que hoje
aqui se vai falar.
Ingredientes:
Restos de cozido à portuguesa
Banha de porco
Farinha de trigo 55 ou 65, sem fermento
Ovo para pincelar
Preparação:
O ingrediente essencial de uma empada ou empadinha de cozido
à portuguesa é o seu cozido! Com todas as suas “manias” e hábitos, as suas
carnes, as suas couves e enchidos, arroz ou não, frango ou não, chouriço de
sangue ou morcela, ou os dois, o que é preciso é que seja mesmo o seu cozido
pois a maravilha é sentirmos depois que dentro daquele “pastel” transportamos,
quente, frio ou morno, aquele sabor tão nosso e tão inconfundível. Esqueça
portanto “receitas” de outros. A receita é só sua.
Pique à faca os restos de todos os ingredientes
que sobraram do seu cozido à portuguesae misture-os bem de modo a conseguir a presença de todos os sabores em qualquer porção daquele picado.
Junte um pouco de caldo, apenas para molhar, daquele que leva a ôlha gorda dos enchidos e reserve.
Faça uma massa tenra com farinha, uma mistura de banha de
porco e gordura da cozedura dos enchidos
e caldo do cozido. Sove bem até obter
uma massa lisa e elásticae forre com ela uma forma de tarte.
Encha a forma com o picado até ao nível do bordo,
tape com uma rodela de massa,
feche à volta em costura, decore se quiser,
faça-lhe uns furos com um palito para evitar que enfole no forno, pincele com ovo batido e leve a forno quente (180ºC) durante cerca de meia hora ou até estar bem loura.
Para as empadinhas, a variedade “portátil” deste prato, vale
tudo o que aqui se disse para a empada,
excepto no tempo de forno que é
consideravelmente menore nessa vantagem imensa que é poderem ser comidas à mão, em qualquer sítio e a qualquer hora.