Se
visitar uma dessas “Feiras de Fumeiros” com que os grandes supermercados periodicamente
nos tentam aliciar, vai encontrar uns cenários comerciais em que tudo tenta parecer
rural, rústico e genuíno, umas ramagens de loureiro murcho e uns alhos, às vezes de plástico, dependurados
das barraquinhas cheias de umas porcariazinhas industriais com nomes serranos e
poéticos a ver se disfarçam as enormidades químicas com que são feitos e nos
levam ao engano.
Nitratos, nitritos, emulsionantes, dextrose, reguladores de
acidez, antioxidantes, sequestradores de água, fosfatos, corantes, é um fartar
vilanagem de químicos, uns impostos pela legislação, outros impostos pela
ganância do lucro dos tais industriais de produtos “caseiros”.
Neste campo têm mais sorte as gentes do Norte, onde ainda se
vão fazendo algumas coisas boas embora abusivamente caras.
No Sul, a miséria é
a regra e se não conhecer uma qualquer “Dona Maria” que mate porco e ainda faça
uns enchidos que lhe “dispense”, está entregue aos bichos!
Abaixo de Coimbra, chega apenas um bom toucinho fumado (bacon), a preço de ourivesaria, feito
por uma empresa minhota (de Ponte de Lima). De resto encontra estas coisinhas
cor-de-rosa, que se desfazem em água na frigideira em vez de se desfazerem em
gordura
e que conseguem esse feito milagroso e nunca visto de, após a cura,
serem mais altos do que o toucinho de que foram feitos.
Se, como eu, não gosta de comer o que lhe impingem, não
conhece nenhuma “Dona Maria” e não tem dinheiro que chegue para o tal bacon de Ponte de Lima, pode fazê-los!
Afinal, apenas duas gerações nos separam do tempo em que nas casas se fazia
lume de chão e à falta de frigorífico, era com sal e com fumo que se conservava
comida para todo o ano.
Um fumeiro não era nenhum bicho-de-sete-cabeças e continua a
não o ser!
Basta um pequeno quintal ou mesmo uma varanda aberta para
conseguir essa maravilha que é um fumeiro caseiro. Dois dias (um fim-de-semana!)
é quanto basta para a operação de fumagem. Tem um vaso velho, dos de barro?
Material:
Vaso de barro (ou um daqueles fogareiros de assar sardinhas)
Berbequim com broca de “pedra”
Carvão vegetal
Pedaço de rede metálica de malha fina
Madeira bem seca de azinho
Confecção:
Com o auxílio de um berbequim, faça furos no fundo de um
vaso de barro, de modo a permitir alimentar a combustão do carvão.
Encha o vaso até cerca de um terço da sua altura, com carvão
vegetal, deite umas acendalhas e acenda.
Quando as acendalhas estiverem totalmente consumidas e o
carvão aceso, deite sobre eles uns pedacinhos de madeira bem seca
de azinheira
(na falta, sobreiro, oliveira, laranjeira, nunca pinho ou outra resinosa).
Cubra com uma rede metálica que se destina a que a madeira
não arda com chama viva e fumegue.
Deixe um metro de distância entre o fumo e o que estiver a
fumar, neste caso duas papadas de que vos falei aqui e toucinho entremeado que já foi temperado e parcialmente
desidratado e que em breve será um bacon
delicioso!