Antigamente, quando o agora todo-poderoso bolo-rei não tinha ainda açambarcado direitos de primazia na mesa de rèveillon, eram as broas, de milho, castelares ou de espécie, conforme a bolsa do festejante, que faziam companhia, com as passas e um ou outro petit-four ou biscoitinho de azeite à bebida com que se brindava às nossas desejadas prosperidades no ano que começava, aí também e pela mesma ordem de posses, um Porto ou jeropiga baratos, um espumante ou um Champagne.
Hoje, toda gente é "muito rica" e, nem que seja com a ajuda de alguma cofidis (ou do velho "invejoso" que hoje se transformou em comprador de ouro desse que as pessoas têm de sobra lá por casa e já não faz falta), muitas mesas de passagem de ano são tristes e enfadonhos escaparates de exibição da única coisa mais triste que o novo-riquismo suburbano, a versão falsa do dito: camarões de meio quilo, lagosta de quilo e algum pata negra cheio de "jotas" preso na tábua de oferta que o acompanhava e que custou dois ou três ordenados mínimos, é insosso de arrepiar, ao gosto espanhol, mas que toda a gente engole e diz que assim é que é, que maravilha para que não caiam na fraqueza os flutes de Moët et Chandon... que diabo, uma noite não são noites e (se Deus quiser) temos ainda 364 para viver na barraca, se o ano não for um maldito bissexto!
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Estive hoje a fazer as minhas broas para a passagem de ano; fiz das mais ricas pois claro, que irão acompanhar o vinho Al-Xam, um espumante alentejano feito com uvas Esgana Cão, Sercial e Antão Vaz, de vinhas que eu conheço bem, por Jorge Bohm, em Montemor-o-Novo. É um belo vinho para entrar 2011, a merecer as mais ricas das broas: As broas de espécie.
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700g de batata doce amarela, cozida
500g de açúcar
100g de coco ralado fino
125g de amêndoa ralada
Vidrado de 2 tangerinas
6+3 gemas de ovo
Granjeia colorida
Margarina e farinha de trigo
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Preparação:
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Descasque as batatas doces, parta-as em cubos
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e coza-os em vapor ou, mais simples, no micro ondas (cerca de 12m)..
Se quiser coza-as em água mas neste caso inteiras. Passe a batata pela máquina, ainda bem quente.
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Misture o açúcar na batata esmagada quente e mexa, o que fará a massa ficar bastante líquida.
Triture o vidrado de tangerina com o coco e adicione, bem como a amêndoa, que deve ser ralada fina mas não farinada e 6 gemas de ovo. Amasse bem e leve ao lume, mexendo sempre para cozer as gemas. Deixe de um dia para o outro no frigorífico, depois forme as broas sobre uma tábua enfarinhada ou pedra oleada e disponha-as num tabuleiro previamente untado e enfarinhado.
Pincele generosamente com gema de ovo e salpique com granjeia.
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Coze em forno muito quente até ficarem louras a gosto. .
Está agora na hora de ir espreitar por que broas andaram a Ana e o Cupido, meus companheiros de trilogia.
Este blog volta para Janeiro, ao primeiro minuto da nova década (que se afigura tão pouco faustosa) e logo no dia 5 terá a nona trilogia, da responsabilidade do Cupido.
Boas entradas em 2011 a todos os que por aqui passam.